Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A notícia e o anúncio

Há seções, em toda a imprensa, que são vítimas de uma maldição: a praga do ‘a favor’. Pegue um caderno de ‘Negócios’, uma reportagem de ‘Turismo’, as notícias de alguma feira ou exposição, textos de ‘Informática’: os negócios estão sempre acima de qualquer suspeita, os locais turísticos são sempre maravilhosos, as recepcionistas e modelos são sempre lindas, atrações à parte, e os produtos sempre provam o salto da tecnologia. Coisas esquisitas, como um cavalheiro comprar duas redes de lojas concorrentes e acumular uma dívida de quase 1 bilhão de reais, não merecem reparo; e os meios de comunicação ainda se surpreendem quando a empresa quebra.

Um exemplo: num caderno de informática informa-se que a HP colocaria em promoção seus notebooks, em até seis vezes sem juros. Coincidência: na véspera, este colunista esteve namorando alguns notebooks da HP, os mesmos, vendidos em dez vezes sem juros. Numa só notícia, dois erros: a promoção não era nova, mas já estava sendo feita; e nas lojas (três, pelo menos), as condições oferecidas eram melhores, para os mesmos preços.

Tudo bem, as redações estão cada vez mais reduzidas, muitos repórteres não têm tempo de circular, acabam se informando só por releases. Mas telefonar para as lojas é rápido, é bom para o leitor, e pode mostrar que os produtos em promoção não são tão promovidos assim. Não é só o repórter de Defesa do Consumidor que tem de buscar o outro lado.



Un poquito…

De um lado, o deslumbramento: o Real Madrid, com Vanderlei Luxemburgo, fez um gol de pênalti numa partida de poucos minutos; e ganhou de 3 do Atlético de Madri depois de ser dominado o jogo inteiro. Bastou: los galácticos, milionária equipe multinacional formada por alguns dos melhores jogadores do mundo, bailava ao ritmo do samba – isso com a simples presença do técnico brasileiro. É claro que em uma semana, com certeza, ninguém, nenhum treinador, teria condições de transmitir ao time sua estratégia nem de implantar seu padrão de jogo.

Vanderlei, sem dúvida, é um grande técnico. Mas seria bom esperar um pouquinho para ver como lida com tantas estrelas juntas.



…de moderación…

E, na luta para mostrar o brasileiro que venceu lá fora, aconteceram coisas inacreditáveis. Uma página para anunciar o jogo Real x Atlético, com direito até a retrospecto; e, no mesmo dia, nada sobre os times brasileiros. O Corinthians, que contratou Tevez e Carlos Alberto, que buscou Sebastián Dominguez, que negociava com Wagner Love e Mascherano, mereceu poucas linhas. Importante era saber a forma de Salgado e Samuel. Aquele velho princípio, de que um homicídio na nossa rua é mais importante do que uma tragédia do outro lado do mundo, foi devidamente esquecido.



…y respecto

De outro lado, um grupo de jornalistas brasileiros se dedicou a criticar o espanhol de Vanderlei. Besteira: o treinador não foi contratado para discursar nos eventos do Real Madrid. E, mesmo que falasse espanhol com perfeição, Michael Owens, Zinedine Zidane e David Beckham não o entenderiam. Nem precisam: técnico e jogadores se entendem numa linguagem própria. Eto’o, o camaronês, se entende perfeitamente com o brasileiro Ronaldinho Gaúcho. E, mesmo no Brasil, tivemos pelo menos dois técnicos que fizeram sucesso sem falar português ou qualquer língua parecida: Dori Kruschner, no Rio, e Bela Gutman, em São Paulo, ambos húngaros.

Essa história de criticar o espanhol dos outros não fica bem – especialmente porque muitos dos que criticam Vanderlei são aqueles que chamam Sebastián de Sebastian, como se fosse inglês, ou se referem ao time uruguaio como ‘Côndor’, em vez do correto ‘condor’. Sem frescura, amigos!



Morte…

O excelente Jorge Leão Teixeira, que dirigiu Visão por muitos anos (e lá criou a seção ‘Mosaico’), hoje é colunista da boa Problemas Brasileiros, revista editada pelo Sesc/Senac de São Paulo. É dele a seguinte nota: ‘O Memorial do Carmo, moderno cemitério vertical encravado no complexo dos cemitérios do Caju, no Rio de Janeiro, recorre a uma publicidade subliminar para atrair a clientela, dizendo nos anúncios que é ‘o único com qualidade de vida’’.



…e vida

Esta comunicação publicitária de varejo, normalmente feita de forma amadora, sempre apresenta casos curiosos. Em frente a um cemitério paulistano, por exemplo, foi pintada a seguinte advertência: ‘Estacionamento exclusivo para os usuários’.

******

Jornalista, diretor da Brickmann&Associados Comunicação