Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A polêmica vira briga de rua

Diogo Mainardi acusa Luís Costa Pinto e Franklin Martins de usar sua influência para conseguir a nomeação de parentes (‘Jornalistas são brasileiros‘). Costa Pinto reage com insinuações sobre o pai de Mainardi. Franklin Martins desafia Mainardi para um duelo ético (‘Desafio a um difamador‘), em que quem for derrotado se compromete a abandonar a profissão.

Há um erro grave na polêmica: as acusações e contra-acusações não são, como em briga de garotos, questão de pisar no risco e iniciar a briga. As acusações são verdadeiras ou não; cabe ao acusado responder (de preferência sem bater na família, já que evidentemente Mainardi não escolhe os amigos nem determina as atitudes de seu pai) e iniciar um processo, para que a Justiça resolva quem tem razão. Não é caso para ser decidido por quem escrever melhor ou tiver mais habilidade na troca de insultos: as acusações são graves e a defesa dos acusados é dura e agressiva. Trata-se de questão para ser decidida nos autos, pela apresentação de provas. A propósito, este colunista não pensa na indústria das indenizações por danos morais, não: pensa é no processo por infração à Lei de Imprensa.

Diogo Mainardi acusa também Eliane Cantanhêde e Helena Chagas de promiscuidade entre jornalistas e poder político. Bobagem: Eliane é casada há anos com o sócio de uma produtora que trabalha para políticos, todo mundo sabe, e isso não interfere em seu trabalho. Helena Chagas é filha de um colunista famoso e respeitado, e casada com um funcionário concursado da Câmara. Concursado: isso significa que a esposa em nada poderia influir para nomeá-lo.

Nenhuma das duas respondeu, pelo menos até agora, considerando as acusações risíveis. Erraram: é preciso responder, sim. E é preciso ir à Justiça. É importante, no final do processo, que se saiba quem é inocente, quem é culpado.



Coisa feia!

O PSDB fez o que não devia: pediu a apreensão do jornal CUT São Paulo, por considerar que lá havia propaganda eleitoral antecipada. Havia: o jornal, editado pela CUT, ligadíssima ao PT, criticava pesadamente o governo Alckmin e comparava as administrações Fernando Henrique e Luiz Inácio Lula da Silva, dando ampla vantagem, como era de se esperar num jornal cutista, ao atual presidente.

Só que apreensão de jornais lembra muito a ditadura. Não é coisa que um partido democrático faça. Em primeiro lugar, porque existe o recurso à Lei de Imprensa, ao processo judicial que condene a iniciativa eleitoral da CUT e a faça responder pelos prejuízos que causou – uma boa multa, talvez. Segundo, porque a iniciativa, além de antidemocrática, é burra: quando a ordem de apreensão foi cumprida, praticamente não havia mais jornais para apreender.



Dúvida

Quando José Dirceu era ministro, o Ministério Público quis ouvi-lo sobre o caso Santo André. Como era deputado e ministro, o caso foi levado ao Supremo Tribunal Federal, que vetou o interrogatório. Agora, que Dirceu não é deputado nem ministro, o Ministério Público volta a intimá-lo, para ouvi-lo sobre o mesmo caso. Este colunista só sabe, de Direito, que a Velha e Sempre Nova Academia fica no Largo de São Francisco. Mas gostaria de ter visto, nos meios de comunicação, a resposta a uma dúvida óbvia: se o Supremo proibiu que o ouvissem, como podem querer ouvi-lo? Ou a decisão valia apenas enquanto ele fosse deputado e ministro?



Vale a pena

Procure nas boas livrarias o livro Razão e Sensibilidade, coletânea de críticas de um grande jornalista que morreu cedo, Edmar Pereira. Edmar trabalhou em algumas das melhores fases do Jornal da Tarde, e sempre contribuiu para elevar o nível do jornal. A coletânea foi organizada pelo jornalista Luiz Carlos Merten.



É coisa nossa – 1

Boa parte dos caros leitores certamente gosta de boxe. Alguém já viu, nos veículos de comunicação dos Estados Unidos, a frase ‘o americano Mike Tyson’? Não, não viu: o fã de boxe (e qualquer outro consumidor de informação) sabe que Tyson é tão americano quanto peru com calda doce. Mas nós, no Brasil, somos originais: aqui a gente informa a cada notícia que Rubinho Barrichello é brasileiro. Aliás, a mesma fórmula – ‘o piloto brasileiro Felipe Massa’, ‘o brasileiro Ronaldo’ – é usada sempre que algum verde-e-amarelo se destaca fora do país. Será que, na opinião de nossos meios de comunicação, alguém estará desinformado sobre a nacionalidade de Ronaldinho Gaúcho ou de Ronaldo Gorducho?



É coisa nossa – 2

‘Suposta’ e ‘supostamente’ são expressões tão brasileiras quando ‘mensalão’ e ‘receitas não-contabilizadas’. Tanto o adjetivo quando o advérbio substituem com vantagem a velha e boa apuração – que é ótima, mas dá um trabalho! Além disso, ocupam menos espaço no título do que ‘acusado de’. Um ‘suposto assassino’ tem 17 toques, enquanto um ‘acusado de assassínio’ tem 21.

Às vezes, entretanto, o pessoal exagera. Este título, por exemplo, está no portal de um jornal importante: ‘Irmãos morrem após comer doce supostamente envenenado’. Será que os irmãos supostamente morreram?



Como é mesmo?

Este título também é de um portal importante: ‘Comoção no enterro de belga morto por Ipod’. Quem será o assassino que atende por este apelido? Terá o fascinante Ipod as mesmas características dos celulares Motorola que andam explodindo por aí? Não: os caros leitores podem se tranqüilizar. Joe van Holsbeek, adolescente de 17 anos, foi assassinado a facadas por um ladrão de Ipods. A rigor, o título nem está errado. Mas que induz a erro, induz sim.



E eu com isso?

Notícias da mais alta importância, sem as quais definitivamente não podemos sobreviver, e que foram colhidas nos mais diversos veículos de informação:

1. Na Sexta-feira da Paixão, o ex-ministro Reis Velloso subiu a serra de Petrópolis para degustar no Tambo Los Incas, em Itaipava, um canard a l’orange e um Cabernet Sauvignon, da Casa Rivas.

2. Após ser mãe, Giovanna Antonelli volta a gravar.

3. Bruno Gagliasso parabeniza namorada com beijo na boca.



Informação perfeitamente inútil

Na primeira quinta-feira de maio, exatamente à 1h2m3s, a hora e a data formarão a seguinte seqüência: 01:02:03 – 04/05/06.

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Jornalista, diretor da Brickmann&Associados