A presidente Dilma Rousseff fez muito bem em cobrar explicações de duas auxiliares – as ministras Ideli Salvatti e Izabella Teixeira – a respeito do noticiário dando conta de que o Executivo acertara um recuo com a bancada ruralista na votação do Código Florestal.
A providência de cobrar é usual, o método da cobrança foi inusitado: a presidente usou a mídia e esta aceitou prazerosamente o papel de mensageira da bronca sem parecer que era bronca.
Durante a reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (quinta-feira, 30/8), a presidente enviou um bilhete manuscrito às ministras e deixou-se fotografar lendo a resposta no verso. Assim, graças às poderosas teleobjetivas, foi possível ler claramente às dez primeiras linhas da parte frontal do bilhete (com um erro de gramática talvez até intencional, para dar verossimilhança).
Mesmo ângulo
Não foi furo de um fotógrafo mais atento ou furão, foi tarefa coletiva, compartilhada. Brincadeirinha da assessoria de imprensa à qual aderiram os jornalões e toda a imprensa estadual que compra os seus serviços.
Irrelevante? Nada é irrelevante no centro do poder, e para a imprensa o deslize inofensivo sugere a existência de um pool, acerto. Os repórteres foram avisados com toda a certeza, impossível divisar naquele imenso salão o que a presidente lia durante a reunião. As diferentes câmaras foram acionadas com segundos de diferença, a partir do mesmo ângulo. Acontece que, segundo os manuais, jornalista não faz de conta, não encena. Mesmo quando a causa é nobre.
Foto do Estado de S.Paulo e do Globo de Beto Barata (Agência Estado) e da Folha de André Borges (Folhapress).