Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Agências de risco e a nota do Brasil

Quem já assistiu a uma apresentação de agência de classificação de risco não pode afastar a impressão de que em determinadas etapas do raciocínio os analistas usam mais o Embromator das Organizações Tabajara do que algum critério responsável e respeitável.

Premissas, equações e encadeamento parecem estar a serviço de uma conclusão que nasce pronta. A dúvida é tratada como incapacidade de compreender.

É cômico ver as editorias de economia, com projeção na primeira página, tratarem respeitosamente a elevação da nota do Brasil. Tratamento convencional, que toma a manifestação das agências pelo valor de face. É preciso mais do que isso para ajudar o país a refletir sobre seus desafios.

No Estado de S. Paulo (18/11), virou manchete: “Em meio à crise, agência de risco eleva nota do Brasil”. A Folha de S. Paulo, como outros, deu uma chamada acima da dobra, com variação apenas de uma palavra: “Em plena crise…”. A reportagem está na importante página 4 do primeiro caderno. O Globo ufanou-se: “Agência que rebaixou EUA eleva o Brasil”.

Mal-estar geral

Felizmente, a visão crítica sobrevive. Leia-se a coluna de Vinicius Torres Freire no caderno "Mercado" da Folha (“A nota do Brasil e as três irmãs”).

Torres Freire espinafra as agências, que erraram em todas as grandes crises dos últimos vinte anos. “Isso quando não são cúmplices de grandes rolos, como a emissão de papelório de investimentos podres imobiliários, que deram na grande crise financeira de 2008”, escreve.

Para o colunista, a elevação da nota de crédito do Brasil deixa governo e seus críticos “de mercado”, como qualifica, “em situação divertidamente constrangedora”.

O primeiro, porque costuma “criticar ou fazer troça das agências”: a Standard & Poor’s explicou a nova pontuação com grande elogio à política econômica de Dilma Rousseff.

Os outros, porque costumam ser ideologicamente “pró-agências”. Ficam sem esse argumento de autoridade para sentenciar sobre os rumos da economia nacional.

Torres Freire conclui que…

“…a bem da justiça, a situação das contas públicas brasileiras, precária como é, faz tempo merece nota muito maior que a concedida pelas desmoralizadas três irmãs” (S&P, Fitch e Moody’s).

A menos que se faça uma defesa inabalável do trabalho das agências, já passou da hora de dessacralizar seus vaticínios, o que provavelmente terá utilidade para contentes e descontentes.