Sou do tempo das ‘pretinhas’, da lauda de 70 toques por 20 linhas, dos jornais de papel com ciclos de 24 horas. Meus filhos, que aprenderam a falar já na era do celular, não entendem um mundo sem twitter, blogs, orkut – enfim, internet.
Estou entre os que saúdam a ubiqüidade da rede e a liberdade de expressão e comunicação que a caracterizam. E entre os que lamentam a quantidade de lixo que ela comporta e distribui, mas isso é outra questão.
Estivesse ainda no jornalismo diário, atividade em que trabalhei por 25 anos, como reagiria ao ver minhas perguntas a determinada fonte, e as respostas que dela recebi, publicadas à frente do meu jornal, do meu blog, do meu twitter?
Sinceramente, não sei. Acho que, a princípio, não gostaria de ver a mecânica do meu trabalho totalmente exposta. E creio que reagiria corporativamente, também num primeiro momento, vendo-me confrontado pela fonte. Mas, sendo as perguntas feitas em nome do público, tenho eu direito de negar-lhe o making of?
Me causa estranheza ver jornalistas e jornais esgrimindo contra a liberdade de expressão (que está na base de seu negócio e ganha-pão), exigindo sigilo de entrevistador (sem abrir mão do sigilo de fonte), reclamando da ‘concorrência desleal’ e da ‘agressividade’ do blog da Petrobras.
A ilusão do poder
Um simples blog entre milhões… No tempo das ‘pretinhas’, com limitações tecnológicas e até censura, éramos mais fortes? Mais autoconfiantes? Mais confiáveis?
De um lado do balcão, acho ótimo que uma fonte possa divulgar na internet, com agilidade e sem limites de espaço, tempo e linha editorial, aquilo que considera ‘fatos e dados’.
Do outro lado, como receptor final da informação, também acho ótimo ter opção entre as várias coberturas e uma versão ‘sem intermediários’.
Entre um e outro lado, separando-os, está o balcão. A tábua por debaixo da qual se escondem os reais interesses travestidos de interesse público e compromisso com a objetividade. Um negócio como outro qualquer, que envolve informação, dinheiro e poder, no qual as personalidades arrogantes de profissionais ‘independentes’ atuam como corretores, disputando entre si (ou juntos) as migalhas que caem de um lado e de outro: prestígio, algum dinheiro, a ilusão de um poder que não lhes pertence, e sim, às máquinas.
Direitos do público e da fonte
Parem as máquinas! Baixem a bola. O blog aboliu o balcão. Que será de jornais e jornalistas, agora que eles não são mais necessários, ou não mais imprescindíveis, ou quando deixam de ser desejáveis no comunicar e no informar-se?
Como jornalista e como leitor, aplaudo o blog da Petrobras e a disposição do presidente da empresa, manifesta no Roda Viva de 8/6, de mudar o jornalismo no Brasil. Espero que consiga. Porque jornalismo se faz com jornalista (formado e registrado, diga-se, como prevê a lei da profissão) e com ética. Mas o público e a fonte têm direito de se encontrar onde quiserem, para falar o que quiserem, sem serem controlados por jornais, jornalistas e as forças que os manejam.
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Jornalista, Rio de Janeiro, RJ