Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Bom senso federal

A imprensa aderiu de maneira automática e submissa às regras do novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, criticado por gente que trabalha de maneira extremamente competente com o idioma, do professor Pasquale Cipro Neto ao jornalista e escritor Ruy Castro: basta dizer que o Acordo é estruturado em 25 “Bases”.

A norma nem entrou em vigor. Decreto assinado pela presidente Dilma Rousseff em 28 de dezembro prorrogou o fim do período de transição iniciado em janeiro de 2009, que seria 31 de dezembro de 2012, para 31 de dezembro de 2015. A Academia Brasileira de Letras, do alto de sua insignificância como instituição normativa (não se nega aqui o valor individual de um Evanildo Bechara, por exemplo), protestou.

Milhões de toneladas de papel e milhares de litros de tinta foram gastos para renovar livros didáticos que o governo compra e distribui de norte a sul, de leste a oeste, como se as crianças do Amazonas tivessem as mesmas referências culturais que as de São Paulo, para não mencionar dessemelhanças ainda mais pronunciadas (o Amazonas tem 80% de população urbana; o Maranhão, 63%). Bom negócio para as editoras.

Guerra, unguento, banguê

A alfabetização, ou letramento, como se prefere mais modernamente, é uma catástrofe, porque os educadores são malformados. Os autores do Acordo conseguiram complicar ainda mais a vida dos novos usuários da última flor do Lácio. Removendo o trema, por exemplo, deixaram sem sinalização o leitor jejuno na pronúncia de determinadas palavras: como saber que se pronuncia “guê” em “aguerrido” e “güê” em “unguento” ou em “banguê”?

Enquanto jornais e revistas se esmeravam em seguir regras nem sempre lógicas adotadas pelos redatores do Acordo (todos os acordos ortográficos aprovados até hoje contêm regras sem sentido, idiossincrásicas etc.), a Presidência da República não mexeu uma vírgula no Manual de Redação (obra do hoje ministro do STF Gilmar Mendes e do diplomata Nestor José Forster Júnior) publicado em 2002, último ano do governo Fernando Henrique Cardoso. Questão de bom senso.

Quem quiser pode conferir aqui o Manual de Redação.