Os jornais e revistas deram função dupla à seção de cartas: abrir um espaço ao leitor e publicar esclarecimentos de quem se sentiu atingido por alguma notícia. São funções opostas: quem escreve para desmentir, ou esclarecer, ou acrescentar, acaba tomando o espaço do leitor. Mas quem decidiu assim foram as empresas – certamente para economizar espaço, talvez para esquivar-se da publicação de esclarecimentos ‘com igual destaque’.
O problema é que nem isso acontece. A empresa ou a pessoa é atacada, atingida por uma reportagem, envia a carta e fica esperando. Às vezes, a empresa condescende em publicar o esclarecimento, com alguns dias de atraso; às vezes, passado o tempo, diz que não vai publicar nada. O prejudicado, se quiser publicar sua versão, que compre o espaço, ou exija judicialmente o direito de resposta – e compre um inimigo, eterno e poderoso.
Houve um caso com um político em que o jornal, depois de rejeitar uma carta, rejeitou até um anúncio. É arbitrário – mas como combatê-lo?
Ney Figueiredo, no livro Diálogos com o poder, conta que, certa vez, há alguns anos, uma publicação arrasou um político importante, com histórias falsas. Procurou o veículo e foi informado de que isso tinha acontecido para que o político aprendesse a retornar os telefonemas de um diretor da empresa. A história continua acontecendo, embora poucos tenham coragem de ser tão explícitos. Mas será este o jornalismo que queremos?
Com açúcar…
O presidente Lula recebeu os jornalistas que cobrem o Palácio do Planalto para um café da manhã. Foi gentil, brincou, deu algumas informações – mas aquilo que se espera de um presidente, uma entrevista coletiva em que preste contas de seus atos à nação, isso ele continua evitando. Café da manhã jornalista pode tomar em casa. Se o presidente tiver amigos pessoais entre os jornalistas, que os convide para o cineminha do Alvorada ou o churrasco da Granja do Torto. Mas o contato com a imprensa tem de ser formal, para que a opinião pública tenha a possibilidade de esclarecer-se.
… sem afeto
O café da manhã foi a segunda gentileza de Lula para os jornalistas. Ele fez questão de comparecer à inauguração do novo comitê de imprensa do Palácio. Mas, se não é para conseguir informações, para que existe o comitê de imprensa no Palácio? E qual é o problema da entrevista coletiva? Que é que o presidente sabe que não quer que sua Nação saiba também?
Errei
Esta coluna cometeu uma injustiça na última semana: o colunista efetivamente não viu a lista de pedidos de indiciamento na CPI do Banestado em lugar algum, exceto o iG, mas falhou em não procurá-la no DCI. O DCI publicou a lista completa e merece, por isso, amplos elogios. É um jornal ainda pequeno, mas fazendo o que muito jornal grande não fez.
Erraram
A nota saiu num dos grandes portais informativos, no dia 22, e foi notada por um grande colaborador, o jornalista Bernardo Lerer. Segundo a notícia, foram criados 390 mil postos de trabalho de janeiro a novembro deste ano. Destes, 388 mil surgiram até o segundo semestre; no terceiro, foram 125 mil; em outubro e novembro, 88 mil. De acordo com minha velha calculadora, são 601 mil empregos. De onde terão surgido os 390 mil?
Delícias
1.
Um grande jornal informa que o deputado Pedro Correia, presidente nacional do PP, desmentiu a informação de Paulo Maluf, de que o partido havia decidido pagar as dívidas de sua campanha à prefeitura. Na frase seguinte, a mesma notícia informa que o deputado Pedro Correia não foi encontrado.2.
Um jornal informa que o governo federal vai mudar sua área de comunicação. Título: ‘360 graus’. Ora, 360 graus é uma volta completa, que termina no mesmo lugar. Será o título uma bela ironia ou um simples erro?3.
Um vereador é apresentado pela imprensa como ‘principal protagonista’. Caros companheiros, protagonista, por definição, é o personagem principal. ‘Principal protagonista’ é o ‘principal personagem principal’.Viva!
Excelente a série sobre o Haiti feita pela TV Gazeta, editada no jornal da Maria Lydia. Vale a pena!
Hermanos, sí
Já saiu a décima-quinta notícia de que o Corinthians, ao contratar o excelente atacante Tevez, desafia a rivalidade tradicional entre argentinos e brasileiros. A rivalidade existe quanto jogam as seleções, ou quando se enfrentam times dos dois países. Mas nunca houve problemas com jogadores argentinos no Brasil, ou com brasileiros na Argentina. Nos velhos tempos, o meia Tim fez sucesso entre los hermanos como ‘El Peón’; Orlando, quarto-zagueiro campeão do mundo em 1958, jogou no Boca Juniors; Paulinho e Delém, dois bons centroavantes, fizeram sucesso entre os portenhos (e os técnicos, então? Vicente Feola e Oswaldo Brandão foram ídolos na Argentina). De lá para cá, a mesma coisa: Poy, Albella, Sastre, Cejas, Domínguez, Rugillo, Sorín (e outros menos votados, como Buttice, Ávalos e Veira). Que rivalidade invencível é esta, que fez de Domínguez um ídolo do Flamengo e incluiu Sastre no maior ataque da história do São Paulo?
Completando
Antes que perguntem: Luizinho, Sastre, Leônidas da Silva, Remo e Pardal (depois Teixeirinha). Época: fim da década de 1940.
******
Jornalista, diretor da Brickmann&Associados Comunicação