Pela primeira vez desde o início da operação da telefonia móvel em nosso país, no início dos anos noventa, celulares estão no banco dos réus. Perderam o status de ‘queridinhos’ quando foram considerados mais perigosos do que as armas nas mãos dos bandidos do Primeiro Comando da Capital (PCC).
É impossível viver hoje sem celular mesmo quando se trata de modelos mais simples, uni-funcionais e pré-pagos. Mas as poderosas operadoras de telefonia móvel não brincam em serviço, extremamente atentas às volatilidades do mercado.
Em pleno motim do PCC, quando as autoridades começaram a exigir o bloqueio de comunicações nas vizinhanças dos presídios, o lobby do celular começou a funcionar na direção contrária.
E como fabricantes e operadoras são grandes anunciantes, não tiveram dificuldade em contra-atacar. Ora insinuavam que o bloqueio efetivo seria inútil ora alegavam que prejudicaria um número considerável de usuários. Chegou-se a noticiar que se o custo do bloqueio fosse pago pelas operadoras, acabaria sendo repassado a todos os usuários.
O golpe de mestre em defesa da inocência do celular foi dado por Veja (edição 1958, com data de capa de 31/05) que, num furo mundial e num lance sem precedentes em matéria de criatividade, conseguiu entrevistar um aparelho de telefonia móvel.
Não é piada, o texto parece matéria de serviço, confiável, com uma retranca palpitante – ‘Crime’ – relacionada com a maior agressão sofrida pelo Estado brasileiro nas últimas décadas. O objetivo ficou claro nas primeiras linhas: desmoralizar a argumentação das autoridades que tentam tornar nossos presídios menos vulneráveis.
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