Nunca fui a favor do diploma de jornalismo obrigatório para trabalhar na imprensa. Suponho que isso tenha decorrido de constatações empíricas, mais do que doutrinárias, embora essas sejam tão relevantes como aquelas.
No primeiro jornal em que trabalhei, a Tribuna da Imprensa, acho que ninguém tinha diploma de jornalismo. Foi em 1966 e mal se ouvia falar em curso de jornalismo. No meu segundo emprego, o Jornal do Brasil de 1968-70, também não me lembro de quem fosse formado em jornalismo, mas isso é provavelmente um problema de ignorância minha. No CPDOC da FGV, entre 1980 e 1982, tive um saudoso colega e amigo, Plínio de Abreu Ramos, que tinha diploma de jornalismo. Deve ter sido de uma das primeiras turmas formadas no Rio de Janeiro, possivelmente da primeira. Mas ele tinha aprendido em redações e na vida política tudo que sabia. E ambos trabalhávamos ali como historiadores.
No Globo, entre 1982 e 1984, é possível que houvesse gente formada em jornalismo, mas não, creio, na editoria em que eu trabalhava: nacional e política. De volta ao JB, na segunda metade dos anos 1980, coube-me participar da organização de processos de seleção de estagiários. Penso que já era obrigatório estar matriculado numa faculdade de jornalismo, mas não tenho lembrança de algum atributo especial desses candidatos, comparados aos sem diploma que eram focas em épocas anteriores.
Outras vivências consolidaram minha convicção antidiploma obrigatório. Mas não sou "contra o diploma". Quem se formou em jornalismo pode ser tão bom ou melhor do que os formados em qualquer outra coisa, ou os que não têm nenhum diploma de curso superior (entre os quais encontrei talvez os melhores jornalistas, ao longo dos anos; olha aí o Alberto Dines). Só não me peçam para admitir como positiva a obrigatoriedade.
Aprendizado sem segredo
Quanto ao aprendizado da profissão, louvo-me na avaliação de um antigo chefe, Luiz Alberto Bittencourt, que estimava em dois ou três dias o período necessário para o indivíduo pegar a embocadura, desde que, é claro, soubesse escrever decentemente e tivesse um mínimo de bagagem cultural. O Luizinho contava como entendera por que era preciso concentrar a informação principal no lide. Na primeira matéria que fez, colocou o principal no fim. Ainda era tempo de linotipo, que produzia linhas de chumbo. A matéria estourou. Na oficina, cortaram "pelo pé", como sempre se fazia. E lá se foi a informação principal. Nunca mais ele deixou de colocar no início o que fosse mais relevante. Sem ter estudado semiótica ou qualquer ciência do gênero. Perguntei certa vez a um profissional quanto tempo era necessário para aprender a fazer jornalismo radiofônico. A resposta foi: meia hora.
Não me considero especialmente idiota em matéria de internet. Não fiz nenhum curso, nem de meia hora. Apenas tive a sorte de pertencer à primeira equipe que foi informatizada no JB, em 1986, e de ter sido fisgado pelo fascínio da coisa e pela curiosidade de acompanhar sua evolução, o que me levou, alguns anos depois, a uma BBS e depois à rede.
A aprovação da obrigatoriedade do diploma imporá uma derrota ao Supremo. A lógica do parlamento é outra, mais permeável a pressões organizadas ou difusas. E existem de fato muitos interesses articulados à obrigatoriedade do diploma de jornalismo, faculdades e sindicatos em primeiro lugar.
É raro haver defesa desapaixonada e desinteressada da obrigatoriedade (Norma Couri faz uma defesa apaixonada e desinteressada em "Morreu o diploma, viva o diploma"). Mas nem por isso deve haver um ataque feroz ao diploma. Soa como antagonismo aos estudantes, totalmente isentos de responsabilidade pela situação que encontram ao chegar à antessala do mercado de trabalho.
Quando me perguntam, respondo: faça alguma faculdade em que você tenda a aprender mais do que na de comunicação. Se quiser aprender, claro. Mas, se estiver no curso de jornalismo, domine tudo que lhe for oferecido (isso implica rejeitar uma parte das baboseiras conjecturadas por pessoas que nunca trabalharam no ramo) e abra sua cabeça para outras fontes de conhecimento e reflexão.
E não deixe de fazer pós-graduação, que hoje equivale à graduação. Em qualquer faculdade, inclusive uma de comunicação.