O presidente do Senado, Ranan Calheiros (PMDB-AL), foi motivo de uma reportagem contundente de Policarpo Junior, (Veja, ed. 2010, 30/05/07), na qual o jornalista revela que o senador tem uma estreita relação de amizade com Zuleido Veras, dono da Gautama. ‘Sólida mesmo, a ponto de o empreiteiro freqüentar a residência oficial do presidente do Senado.’ Mas, explosiva mesmo, é a divulgação de outra amizade suspeita com Cláudio Gontijo, lobista e diretor da construtora Mendes Junior. De acordo com o jornalista, o lobista pagou o aluguel de um apartamento de quatro quartos e pensão para a jornalista Mônica Veloso, com quem o senador tem uma filha. Além disso, colocou um flat, num dos melhores hotéis de Brasília, à disposição do senador, ajudou em suas campanhas e de sua família e por aí vai.
Calheiros, para se defender, fez um pronunciamento no plenário do Senado, segunda-feira, (28/05). Visivelmente perturbado, disse: ‘Lamento, meus eminentes colegas, que a vida pública brasileira tenha se amesquinhado a tal nível, que eu tenha que descer a estas minúcias perante o Senado Federal, onde sempre tratamos de temas mais elevados e de interesse público’ (ver aqui) e baixou o sarrafo em parte da imprensa, como sempre.
O senador parece desconhecer que a sociedade está insatisfeita com os políticos e horrorizada porque nunca viu na história do país os poderes constituídos (Legislativo, Judiciário e Executivo) tão contaminados pela corrupção quanto agora. Nem nos tempos da ditadura militar (1964-1985), é o que se ouve com freqüência!
Participação popular
Sobre o assunto, o senador Pedro Simon (PMDB-RS) já manifestara sua indignação sexta-feira, (25/05). Em seu discurso, com os característicos gestos agitados e teatrais, afirmou: ‘Aos olhos da população, estamos aqui como protagonistas de um grande teatro do absurdo. Pior, as pessoas generalizam e nos vêem a todos apenas como usurpadores.’ Mais adiante, disse acreditar que há poderes paralelos infiltrados em todas as instituições – que se encontram com sua credibilidade abalada. Para finalizar, o senador citou também a pesquisa em que mais de 98% da população disse não confiar no Legislativo. Ele tem razão.
Os escândalos são tantos – e surgem de lugares tão diferentes – que não dá tempo sequer de apurar um, logo surge outro. O que fazer, então? Para Simon, está na hora de fazer uma reforma política no país, com a instituição da fidelidade partidária e financiamento público das campanhas eleitorais, entre outras medidas moralizadoras possíveis de mudar a situação crítica em que a política brasileira se encontra. Mas não é só. É preciso maior participação popular. O povo tem que empunhar a bandeira com o lema proposto por Simon: ‘Decência já é o que o povo quer’ e ir às ruas para exigir o fim da corrupção e da impunidade no país, antes que acabe o sonho democrático que lhe custou tão caro.
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Jornalista, Salvador, BA