Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Decoro também na imprensa

Na semana retrasada, fiquei pasmo ao assistir a duas reportagens veiculadas em noticiários da TV, numa mesma noite. Infelizmente, não guardei os nomes dos programas. De todo modo, acho que a atualidade do ocorrido não foi perdida. Quero descrever brevemente os tais episódios, que, acredito, não foram fatos isolados, que não deveriam continuar a ocorrer.

Reportagem 1

O vereador Agnaldo Timóteo, de São Paulo, capital, sai da sede da Polícia Federal naquela cidade, onde fora visitar o ex-prefeito Paulo Maluf e seu filho, Flávio, ali detidos. Após ser perguntado se julgava correto ter usado o carro oficial da Câmara Municipal para fazer aquela visita, ter justificado tal ato dizendo que Paulo Maluf é seu líder político e ter-se agastado com um repórter da Globo que insistia em continuar a inquiri-lo sobre o assunto, irritado, o vereador entra no carro, que parte quando alguém dentre os jornalistas e fotógrafos grita:

– Vagabundo!

Encolerizado, o vereador manda o carro parar, desce e, em meio a sonoros palavrões, diz que não aceita ser assim chamado, pois trabalha desde os 9 anos de idade. Debochadamente, outra voz, entre os profissionais de imprensa presentes, grita:

– Olha o decoro, vereador!

Reportagem 2

O deputado federal Professor Luizinho saía da Câmara dos Deputados, quando um dos repórteres presentes pergunta se ele também participava das festinhas promovidas por Jeany Mary Corner. O deputado pára, diz ao repórter que não aceita ser desrespeitado daquela maneira e ouve do repórter a pergunta:

– Por quê?

Note-se que não estou defendendo ou atacando as práticas dos dois citados parlamentares, mas denunciando o fato de que ‘profissionais’ da imprensa abusaram irresponsavelmente de sua posição para destratar figuras públicas detentoras de mandatos.

No primeiro caso, o desfecho mostra que tem gente imaginando que só aos parlamentares cabe ter decoro. No segundo, o repórter não sabe o motivo pelo qual deveria respeitar um representante popular eleito.

A meu ver, em ambos os episódios (envolvendo homens públicos de posições opostas no espectro político), houve ultrapassagem ilegítima dos limites do exercício profissional da imprensa, como motivação e reflexo de uma histeria pretensamente antipolítica que, ao prevalecer na opinião pública, pode constituir grave ameaça à democracia.

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Engenheiro, Rio de Janeiro