Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Divulgação de grampo
pode ter pena de prisão


Leia abaixo as reportagens de segunda-feira da seção Entre Aspas.


************
Folha de S. Paulo


Segunda-feira, 27 de agosto de 2007


MÍDIA & POLÍTICA
Andréa Michael


Projeto de lei prevê punir com prisão quem divulgar grampo


‘Embora sem o artigo que punia com mais rigor a divulgação de grampos pela imprensa, o texto do projeto de lei que vai regulamentar o uso de escuta telefônica e ambiental enquadra como crime o vazamento e a divulgação, ‘por qualquer meio’, dos diálogos gravados.


Conforme a redação do documento em debate no Ministério da Justiça, divulgar o conteúdo de escutas é crime, punido com até três anos de prisão. Se o material divulgado for produzido de maneira ilegal, a pena poderá chegar a até quatro anos de prisão.


O polêmico artigo relacionado à imprensa, que fazia parte da proposta de lei elaborada em 2003, na gestão do então ministro Márcio Thomaz Bastos, aumentava em um terço o tempo de prisão se a divulgação ocorresse pelos meios de comunicação.


Ao assumir o Ministério da Justiça, Tarso Genro retomou a discussão. Ainda não há prazo para a finalização do texto, que depois será enviado ao Congresso. Determinou a exclusão do artigo direcionado, mas cobrou rigor na punição da escuta ilegal e da revelação dos diálogos gravados em caráter sigiloso. Na prática, isso afeta jornalistas que divulgam grampos legais ‘vazados’ pela polícia ou parlamentares de comissão de inquérito, por exemplo.


‘Precisamos garantir o uso da escuta, que é uma ferramenta fundamental de investigação para combater o crime organizado. Mas, ao mesmo tempo, se não houver nenhum passo para coibir a divulgação da intimidade das pessoas, corremos o risco de ver questionado o uso desse instrumento’, diz Pedro Abramovay, secretário de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça, que integra, juntamente com delegados da PF e membros do Ministério Público, a comissão que vai formatar o texto final da nova lei.


Imprensa


A divulgação pela imprensa seria enquadrada no artigo da nova lei que trata como crime, punido com até três anos de prisão, quem ‘divulgar ou utilizar, por qualquer meio’, o conteúdo de interceptação feita com autorização judicial.


Também seria crime divulgar grampos ilegais. Pena: dois a quatro anos de prisão e multa. A sanção será aumentada em um sexto se quem ‘divulga, decodifica, transcreve ou utiliza o resultado da operação ilegal’ é servidor ou funcionário de companhias telefônicas e usa o trabalho para praticar o crime.


Abramovay nega que o texto da nova lei esteja em confronto com a liberdade de imprensa. Diz que, na essência, não há nada de novo em relação à lei em vigor. ‘Estamos detalhando as condutas proibidas. Precisávamos dar algum sinal de que vamos coibir abusos na violação da intimidade das pessoas. Na [Operação] Hurricane, [relacionada a um esquema de venda de sentenças judiciais favoráveis a empresários do jogo], foi dado acesso às escutas a 70 advogados’, diz o secretário, para lembrar de um caso cujo conteúdo da investigação circulou pela imprensa.


A lei atual, de 1996, considera as escutas como material sigiloso. Não trata da divulgação de forma específica. Essa prática acaba sendo enquadrada no artigo 10, que considera crime ‘quebrar segredo de Justiça’.


O texto em discussão aponta como crime ‘divulgar gravação de conversa própria, por telefone ou por outro meio, gravada sem conhecimento do interlocutor’, com pena de até três anos de prisão e multa.


Se aprovados esses termos, uma pessoa só poderá usar o conteúdo de gravação se tiver avisado ao interlocutor, no momento da conversa, que estava gravando o diálogo.’


Kennedy Alencar


Governo quer acabar com ‘sigilo eterno’ de arquivos


‘O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende editar em outubro um decreto ou uma medida provisória para acabar com o chamado ‘sigilo eterno’, possibilidade de manter em segredo indefinidamente documentos considerados ultra-secretos. Nessa decisão, deverá também abrir os arquivos oficiais do período da ditadura militar (1964-1985).


A ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), ex-guerrilheira que foi presa e torturada, está encarregada de dar o formato final a essas medidas.


Segundo a Folha apurou, Dilma anunciará em setembro a criação de centro de documentação a respeito da repressão na ditadura militar. Nesse caso, são arquivos em poder dos Estados que comporão um acervo maior.


A abertura de arquivos da ditadura, o fim do ‘sigilo eterno’ e o centro de documentação sobre a repressão política compõem um ‘pacote de direitos humanos’ que Lula deseja implementar agora, por avaliar que fez pouco nessa área no no primeiro mandato.


Esse pacote começa a ser lançado depois de amanhã, com a divulgação pelo presidente do livro ‘Direito à Memória e à Verdade’, primeiro documento do governo federal que acusa governos militares de atos cruéis contra opositores, como estupro, ocultação de cadáver, decapitação, tortura, esquartejamento e execução.


Em dezembro de 2002, o então presidente Fernando Henrique Cardoso alterou a legislação sobre acesso público a documentos oficiais e ampliou para 50 anos o prazo de divulgação de documentos ultra-secretos e oficializou o ‘sigilo eterno’, que possibilitava uma comissão interministerial a renovar o prazo de confidencialidade sem restrição de tempo.


No primeiro mandato, Lula alterou a lei. Reduziu o prazo de ultra-secreto para 30 anos. Previu renovação por mais 30. Mas manteve a possibilidade de que, antes de esses 60 anos acabarem, uma comissão interministerial mantivesse em sigilo documentos que ameaçassem ‘a soberania, a integridade territorial nacional ou as relações internacionais do país’.


A Folha apurou que há intenso debate agora no governo a respeito dessa proibição. Como revelou o jornal em dezembro de 2004, o Itamaraty quer manter em segredo documentos que se referem à demarcação de fronteiras ao final da Guerra do Paraguai (1864-1870). O ministro Celso Amorim (Relações Exteriores) continua a querer manter o veto.


Mas Lula e Dilma avaliam que mesmo esses documentos deverão se tornar públicos. Cogita-se, no máximo, 50 anos.’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


De Fidel a Raúl


‘Fidel assinou nova coluna no ‘Juventud Rebelde’, enquanto o ‘Granma’ trazia de manchete ‘O sonho cumprido de entrevistar Fidel’, sobre um livro de Frei Betto e outros ‘afortunados entrevistadores’.


Nem palavra sobre a suposta morte que se festeja em Miami desde sexta, quando o blog de Perez Hilton postou que a notícia estava para sair. Desta vez, Hugo Chávez só disse, ontem, que não voltaria ao assunto.


Pelo sim, pelo não, o editor de América Latina do ‘Financial Times’ escreveu ontem sob o título ‘Fidel não importa’, avaliando que pouco mudaria com o irmão Raúl e sua ‘ênfase mais realista na eficiência’.


O ‘Guardian’ arriscou mais, sob o título ‘Jornalista libertado conforme Raúl sinaliza mudança em Cuba’. A idéia seria ‘emular o Vietnã’, mas há ‘suspeitas’ de que Fidel resiste, por exemplo, à abertura aos EUA.


CHÁVEZ E OS BILHÕES


A Associated Press reuniu nove de seus correspondentes para uma longa reportagem, sob o título ‘Chávez oferece bilhões na América Latina’. Pelas contas da AP, ‘mais de US$ 8,8 bi’. Abrindo o texto, de exemplo, ‘trabalhadores desempregados no Brasil recebem suas vagas de volta’.


É uma cooperativa que, em 2003, apelou ao venezuelano. Não o bastante para o Brasil entrar nos maiores gastos chavistas – em Nicarágua, Equador, Bolívia e Argentina.


FMI EM CAMPANHA


A agência Novosti ouviu do ministro Guido Mantega, com eco pelas agências ocidentais, o quase apoio do Brasil a uma indicação alternativa ao FMI.


Do ‘Washington Post’ ao ‘FT’, a nova indicação russa ganha destaque. Mas o ‘Le Figaro’ mal nota, noticiando por outro lado que o indicado francês ‘teve apoio da China’.


SEM PRECEDENTES


A notícia de que o governo ‘acusa órgãos da ditadura de executar opositores’, sábado na Folha, ecoou do ‘WP’ ao ‘Clarín’, no domingo. Com avaliações de que o livro a sair seria ‘informe histórico’, por responsabilizar pela primeira vez o regime militar, e ‘sem precedentes’. A agência AP citou ‘fotos impressionantes’ que estão na mostra paralela.


POUCO MUDOU


No prestigioso ‘Observer’, ontem, Jemima Hunt assinou longo texto sob o título ‘Brasil não é só samba, indulgência e Sol: os pobres continuam na escravidão’. Sublinhou que, ‘nas atitudes brasileiras em relação a raça, pouco mudou’.


Concentrou fogo na Daslu, de ‘decadência enervante’. E questionou que Lula ‘não quer arriscar o crescimento’ e ‘seus planos estão em linha com necessidades do ‘big business’ ou grande negócio.


ATÉ A BBC


O correspondente da BBC Gary Duffy foi alvo do golpe do ‘seqüestro virtual’ em São Paulo e relatou o episódio, em primeira pessoa. Disse que não caiu, mas compreendeu os 10 mil que viveram em 2006 a ‘experiência alarmante’


O CORRESPONDENTE E O PAÍS


Depois de chamar o ministro Guido Mantega de ‘complacente’, por dizer que o país estava seguro diante da turbulência nos mercados em função dos US$ 160 bi de reservas, o correspondente Jonathan Wheatley , do ‘FT’, postou ontem que os ‘US$ 160 bi são a razão de o Brasil ter sido capaz de superar tão facilmente a tempestade’.


E foi tratar de Supremo (‘é aquele mensalão de novo’), Renan (‘que ele continue no cargo é algo que esgota a fé’) e lamentar a impunidade com as leis ‘bizarras’ do Brasil.


PARA O MUNDO


Sob o enunciado ‘Embelezando o mundo com ingredientes amazônicos’, o ‘NYT’ tratou do avanço dos cosméticos do Brasil, ‘nação com todo tom de pele concebível’’


ÁLCOOL & PUBLICIDADE
Ruy Castro


‘Ronda’ às três da manhã


‘RIO DE JANEIRO – O Ministério da Saúde descobriu que 27% dos brasileiros do sexo masculino tomam mais de cinco doses de bebida alcoólica por dia. A média ‘normal’ em outros países fica entre 10% e 15%. Por que essa diferença? Porque, massacrado pela propaganda na televisão, o brasileiro é estimulado a beber o dia inteiro.


Bebendo, você nunca está sozinho. Há sempre uma gostosa de olho no seu copo. O problema é que você tem de disputá-la com os outros 30 marmanjos bebendo na sua mesa. Todos, por sinal, vendendo saúde, disposição e, contrariando uma das ‘normas’ do Conar, juventude -nenhum deles aparenta nem perto de 25 anos.


O máximo do escárnio aconteceu há pouco, quando um dos patrocinadores oficiais do Pan-Americano foi uma nova cerveja, de nome e apelo decididamente infanto-juvenis. Seria interessante saber se os atletas que eram vistos competindo atingiriam aquelas marcas se tomassem a gororoba com a assiduidade com que ela era apregoada no vídeo -várias vezes por hora.


Outra pesquisa recente revelou que os jovens brasileiros estão bebendo cada vez mais cedo -neste momento, aos 13 anos. Nada de surpreendente nisso, já que a publicidade de cerveja (que representa 61% do consumo de bebidas alcoólicas no país) é toda feita para eles. Nenhum comercial perde tempo mostrando uma roda de homens maduros e mulheres de olheiras se encharcando e engrolando ‘Ronda’ num botequim às três da manhã, como acontece na vida real.


A juventude e a TV brasileiras ficarão mais saudáveis se o governo banir do vídeo, pelo menos das 8h às 20h, a mentira de que cervejas, vinhos, ‘ices’ e ‘coolers’, por conterem ‘pouco álcool’, são inofensivos. A diminuição nos índices de acidentes de trânsito e de violência sexual e doméstica dirá melhor.’


ORIENTE MÉDIO
Folha de S. Paulo


Jornalistas se opõem a prisões do Hamas


‘DA EFE – Dezenas de jornalistas palestinos protestaram ontem na faixa de Gaza contra as recentes tentativas do Hamas de controlar os meios de comunicação na área, sob controle do grupo islâmico desde junho. Os manifestantes levavam cartazes pedindo a união dos jornalistas diante das violações cometidas pelo Hamas contra a liberdade de expressão.


Na sexta-feira, a Força Executiva, leal ao Hamas, prendeu cinco jornalistas -a maioria fotógrafos e cinegrafistas- que cobriam uma marcha em solidariedade ao movimento laico Fatah, liderado pelo presidente palestino Mahmoud Abbas, rival do Hamas.


A Associação da Imprensa Estrangeira em Israel também protestou contra ‘o violento acossamento pelo qual passaram os jornalistas durante a cobertura’ da marcha.’


TELEVISÃO
Daniel Castro


Editor da Globo é parceiro de Bernardinho


‘Terceiro homem na hierarquia do jornalismo esportivo da Globo, João Pedro Paes Leme mantém projeto social que recebe dinheiro de ONG do técnico Bernardinho, da seleção brasileira de vôlei. Leme é chefe de redação dos programas esportivos da Globo. Bernardinho é seu objeto de trabalho.


Em sua prestação de contas na internet, o Instituto Compartilhar, de Bernardinho, declara que aplicou em 2006 R$ 29.318,01 no Super Ação, projeto idealizado por Leme e que atendeu, no ano passado, 140 crianças de uma escola pública do Rio de Janeiro, com aulas de vôlei e taekwondo. Em 2005, o Compartilhar destinou R$ 29.127,44 ao Super Ação.


A parceria chama a atenção porque, no último dia 15, o ‘Globo Esporte’, um dos programas sob chefia de Leme, exibiu reportagem contrária ao jogador Ricardinho, cortado por Bernardinho da seleção às vésperas do Pan. Disse que o corte foi ‘opção de Bernardinho pela valorização da vitória coletiva’.


‘Nos sete anos em que está à frente da seleção, Bernardinho jamais deixou de levar a equipe ao pódio. E sempre defendeu princípios e valores como as verdadeiras bases dessas conquistas’, afirmou o programa.


A Globo disse apenas que Leme ‘conta com confiança irrestrita’. A rede, que enfatiza que as ONGs de Bernardinho e Leme são independentes, afirmou que o jornalista não se manifestaria antes desta publicação.


FLASHBACK 1Ex-SBT e CBS Telenotícias, o jornalista Eliakim Araújo retornará à TV brasileira. Na última sexta, ele assinou contrato com a Record News, canal de notícias a ser lançado em 27 de setembro, e apresentará um programa diário, às 23h.


FLASHBACK 2O programa se chamará ‘Câmera Record’. Será todo de reportagens do ‘60 Minutes’, da rede americana CBS, e gravado em Miami, onde Araújo mora.


BALANÇOO SBT foi o grande perdedor. A estréia, na última quinta, de ‘Quem Perde Ganha’, reality show em que obesos têm de emagrecer, deu apenas 4,4 pontos. A primeira temporada, que se chamava ‘O Grande Perdedor’, estreou (num domingo de 2005) com 23,5 pontos.


SONHOA Band e Raul Gil trabalham secretamente em um novo formato. Será uma megaprodução, com previsão de estréia no Natal. A linha mestra será a realização de sonhos.


ANIMAÇÃO 1 A MTV estréia em setembro duas novas séries de desenhos animados produzidas no Brasil, cada uma com nove episódios.


ANIMAÇÃO 2’Rockstar Ghost’ terá como protagonista o vocalista da banda Ira!, Nasi. Ele será um caçador de fantasmas que mandará de volta para o mundo dos mortos astros como Jim Morrison, Janis Joplin e James Brown. A outra série da MTV, ‘The Jorges’, será sobre uma banda que faz tudo para atingir o sucesso _até propaganda de absorventes íntimos.’


***


Estréia terceiro ano de ‘Rescue Me’


‘Nos EUA, o canal a cabo FX (ao lado do Showtime, de ‘Weeds’ e ‘Dexter’) vem roubando o posto da HBO como a referência em termos de vanguarda e experimentação televisiva. Foi de lá que saíram ‘Nip/Tuck’ (crítica ácida e ultrapop à obsessão pela beleza -ou por aquilo que se imagina que ela seja), ‘The Shield’ (crônica do cotidiano de uma divisão barra-pesada da polícia de Los Angeles) e a recém-estreada ‘The Riches’ (sobre um clã cigano que assume nova identidade e encerra- ou não- sua rotina de pequenos golpes).


Também leva a assinatura do canal ‘Rescue Me’, série dramática que tem a terceira temporada exibida por aqui. O protagonista é Tommy Gavin (Denis Leary), bombeiro de Nova York que perdeu seu primo e melhor amigo no 11 de Setembro. Além dos fantasmas do dia fatídico, espreitam-no o alcoolismo e a instabilidade da relação com a família, agravada pela morte do filho.


Na estréia do ano 3, ele testa o cigarro como substituto do álcool, tenta, mais uma vez, acertar os ponteiros com a mulher e sai a campo para investigar a vida sexual do afilhado adolescente -que anda dormindo com a professora de ciências. Os roteiros, que exploram a cafajestice de Gavin e se recusam a transformá-lo em vítima de si mesmo, são o trunfo da série, já indicada ao Emmy e ao Globo de Ouro (LN)


RESCUE ME


Quando: hoje, às 22h


Onde: FOX’


************


O Estado de S. Paulo


Segunda-feira, 27 de agosto de 2007


MERCADO PUBLICITÁRIO
Marili Ribeiro


Diretor da Globo não vê ameaças na concorrência


‘Na ampla sala com vista panorâmica do mais recente destaque arquitetônico de São Paulo – a ponte Jornalista Roberto Marinho, em construção na Marginal do Pinheiros -, Octávio Florisbal, diretor-geral da Rede Globo de Televisão, garante que a perda de audiência não ameaça a emissora.


O executivo, há 25 anos na Globo, dos quais cinco no atual cargo, reconhece, entretanto, que cada ponto perdido representa cerca de R$ 100 milhões a menos no caixa. Um ponto corresponde a mais de 1 milhão de telespectadores. ‘Portanto, é para ser disputado aguerridamente.’ Manter a audiência significa participação na receita publicitária, o que é vital no negócio da televisão.


Acontece que, no último ano, a Globo perdeu 2 pontos porcentuais em relação ao índice médio de audiência no horário entre 7 horas e meia-noite. Nos últimos dez anos, a emissora mantinha esse índice em torno de 24 pontos. Hoje, está em 22. ‘Isso é cíclico’, relativiza. ‘Essa perda já foi vivida no passado pela emissora.’ Tudo, diz, depende do sucesso da programação em cartaz.


A concorrência, em particular a TV Record, com sua declarada disposição de alcançar a liderança – para isso, já investiu cerca de R$ 300 milhões apenas em dramaturgia -, ainda não incomoda, admite Florisbal, sem, entretanto, mencionar o nome de qualquer outra emissora. Na Globo, elas são tratadas por A, B ou C.


Mas, se a concorrência direta não importuna, existe a expansão de outras plataformas de comunicação. A migração para a TV paga, que intensifica sua abrangência e chega agora a 5 milhões de assinantes, depois de amargar anos no patamar dos 3 milhões, divide público. ‘A TV paga representa menos de 10% dos domicílios com aparelhos de televisão’, compara Florisbal.


Cresce também o número de usuários de internet. O Brasil atingiu a marca de 32 milhões de pessoas com acesso à web. Dora Câmara, do Ibope Mídia, pondera que as novas gerações são multimídia e assistem televisão conectadas à internet. Florisbal não vê essa divisão de atenção como ameaça.


Em relação ao ‘inimigo’ virtual, a emissora faz parcerias. No site de vídeos YouTube, por exemplo, há edições resumidas da novela ‘Malhação’, que é dedicada aos jovens. Em programas como o ‘Fantástico’, a emissora chama no ar os telespectadores para conversarem, no portal da emissora, sobre os temas apresentados. ‘Do ponto de vista estratégico, entendemos que nosso conteúdo deve ser estendido a outras plataformas de mídia eletrônica, para que o nosso público nos veja em outros momentos’, explica.


A perda de audiência da televisão aberta não é um fenômeno nacional. Pesquisa patrocinada pela IBM, feita nos Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, Japão e Austrália e divulgada na semana passada, revela que a internet avança sobre a tevê como mídia de entretenimento. Mostra, por exemplo, que 19% dos pesquisados passam seis horas ou mais por dia usando a web, ante 8% que dedicam o mesmo tempo à televisão. Nos EUA, as grandes redes de tevê já acusaram o golpe e tentam se adaptar à concorrência multimídia. Apostam, por exemplo, no potencial de interatividade que veio com a introdução da televisão digital para disputar a atenção do espectador.


A situação no Brasil ainda é confortável, especialmente para a Globo: a rede detém cerca de 70% das verbas do bolo publicitário para televisão, estimado em R$ 10 bilhões por ano. Apesar disso, avalia-se que nunca a tevê aberta esteve tão vulnerável, já que, além do crescimento da internet, a implantação da televisão digital, mesmo que lenta, deve mudar a maneira de o telespectador ver televisão.


Com ela chegam equipamentos que permitem pular os intervalos comerciais, o que poderia levá-los à extinção. Nesse caso, Florisbal acha que se trata de um prognóstico precipitado. ‘Pesquisa no mercado americano sobre o avanço do break comercial mostra que dois terços dos usuários do sistema não pulam os anúncios.’


Mais do que isso, ele garante ser impossível o desaparecimento da propaganda na TV. ‘Atendemos 4 mil agências de publicidade e mais de 50 mil clientes. Se todos abandonarem os comerciais para fazer merchandising ou qualquer outra ação de conteúdo, como dizem, não existirá grade de programação suficiente para abrigar toda essa demanda.’


Para Florisbal, a estréia da televisão digital em dezembro não significará uma mudança radical, porque o processo de implantação vai se dar em etapas. Apenas no final de 2009 o País deverá ter uma cobertura do sistema em todas as capitais e nas principais cidades. A televisão digital vai entrar primeiro nas casas. Depois, chegará ao celular e aos ambientes móveis (ônibus, táxi, metrô). E só aí resultará em mudança na forma de se assistir à televisão.


‘A era digital é uma realidade’, diz. ‘Mas exige pesados investimentos. Para digitalizar todas as retransmissoras do sistema Globo, vamos gastar US$ 300 milhões.’ A maneira de recuperar parte desse capital virá da publicidade. E Florisbal já prepara os espíritos dos anunciantes e agências: ‘Se tivermos mais audiência dentro e fora do lar, poderemos cobrar um adicional da publicidade.’’


TELEVISÃO
Keila Jimenez


Crise de salários


‘Canal de notícias não fechou seu cast


Está quase tudo pronto para a estréia da Record News, canal de notícias da Record. Quase, porque a menos de um mês de seu lançamento oficial – marcado para 27 de setembro – a emissora ainda não conseguiu acertar contratos com âncoras e apresentadores. O motivo: os altos salários pedidos por algumas estrelas da Record.


Entre os nomes que podem ganhar espaço na Record News estão Brito Júnior, que comandará um talk show, Celso Freitas, que negocia um programa de entrevistas, Milton Neves e Paulo Henrique Amorim, que pode comandar um noticiário no canal. Dos quatro, o único já certo é Brito Júnior.


Sob o pretexto de revelar novos talentos, a Record News assume política de salários similar à da Globo News, que absorve estrelas do jornalismo da TV Globo sem acrescentar lá grandes cifras aos salários já pagos pela TV aberta – isso quando não o fazem praticamente de graça.


Anunciado como projeto milionário, o canal de notícias da Record estará disponível tanto na TV paga (TVA) quando na aberta, em UHF e terá programação inédita das 6 h à meia-noite. Depois, dá-lhe reprise.


O pivô do Opinião


Movimentação extra, sem sucesso, deu-se na TV Cultura, sexta-feira, para evitar que vazassem para a web imagens do Opinião Nacional da véspera: um pivô saltou da boca de Heloísa Helena (PSOL-AL) por duas vezes. Num intervalo, o apresentador, Alexandre Machado, pegou o dente do chão e a peça foi recolocada, sem chance de lavar. O incidente já é campeão de acessos no YouTube.


entre-linhas


Hélio Vargas não é mais diretor de Programação da Record. Seu contrato, que vence no dia 30, não será renovado, e suas funções serão concentradas pelo bispo Honorilton Gonçalves, superintendente de Produção.


Por falar em Record, muita gente reparou na longa conversa ao pé de ouvido entre Gugu Liberato e o presidente da casa, Alexandre Raposo, em leilão beneficente promovido pela emissora na semana passada. Um dos assuntos em pauta era a troca de canal do apresentador.


Mas, nas cobiças que a Record faz entre o elenco do SBT, Hebe Camargo ainda é a prioridade nos planos do staff de Edir Macedo.


Rodolfo Gamberini, ex-Record, estréia hoje na Rede TV! no comando do Notícia das 6. Às 18 h.


Está cada vez mais distante a chance de Ídolos ganhar uma terceira edição no SBT. O motivo: o ibope, que não passa da casa dos 8 pontos.


Sabrina Parlatore assinou contrato com a TVA para apresentar o TVA Destaques (canal 22), atração diária com dicas de programação e interatividade com o assinante.


Lobão estará hoje no Roda Viva – na bancada de entrevistadores, e não no centro, a ser ocupado então pelo sociólogo Alberto Carlos Almeida. O time de entrevistadores conta também com Fred Melo Paiva, do caderno Aliás, do Estado. No ar às 22h40, na TV Cultura.’


INTERNET
Bruno Sayeg Garattoni


Hackers israelenses desbloqueiam o iPhone


‘Segundo o jornal Yedioth Ahronoth, de Tel Aviv, três hackers israelenses descobriram uma maneira de destravar o celular iPhone, da Apple – para que ele possa ser usado com qualquer operadora de telefonia celular (não apenas na americana AT&T, por enquanto a única autorizada pela Apple).


Não é a primeira proeza do gênero, pois já existe um método para desbloquear o iPhone. Ele realmente funciona, e já foi aplicado com sucesso no Brasil – já existe pelo menos um iPhone desbloqueado no País, operando na rede da operadora Tim.


A novidade é que os três hackers israelenses, identificados apenas como Dubbi, Ophir e Eli, prometem simplificar o destravamento. Enquanto o método atual tem mais de 20 etapas e requer cinco softwares, os israelenses dizem ter criado um programa que faz todo o desbloqueio com um só clique. Segundo o relato de um site especializado, o Engadget.com, funciona.


Mas os hackers ainda não liberaram o programa – e, quando o fizerem, vão cobrar por ele (será vendido no site iphonesimfree.com). A iniciativa poderá sofrer represálias da AT&T , que começou a se mexer para tentar retomar sua exclusividade sobre o iPhone – já conseguiu fechar um site que prometia destravar o aparelho.’



Pedro Doria


O dia em que o Skype parou


‘Na quinta-feira, 16 de agosto, o Skype, mais popular sistema de telefonia pela internet, saiu do ar. Já era dia, no sábado, quando voltou a possibilitar ligações. Aquilo que seria apenas a crise de uma jovem empresa num novo mercado é bem mais que isso. Foi o dia em que uma das maiores fragilidades da internet se mostrou repentinamente. É uma lição sobre como funciona a rede.


O Skype usa uma rede ponto-a-ponto, ou P2P. Quer dizer uma coisa simples: todo micro com o Skype aberto é um nó da rede de telefonia. Sem que a maioria de seus usuários desconfie – ninguém lê o termo de serviço -, se o programa estiver aberto, tráfego das ligações de outros usuários está sendo processado por seus computadores. (Sim, a conversa de gente da Coréia passa pelo seu micro.)


Toda segunda terça-feira do mês, a Microsoft dispara a Patch Tuesday. É o dia em que atualizações de segurança para o Windows saem de seus servidores e começam a ser baixadas por computadores que rodam seu sistema em todo o mundo. Quando chegou a quinta, uma quantidade massiva de micros estava com o patch devidamente baixado, instalado e, conforme a configuração padrão, deram boot automaticamente.


No momento em que esta quantidade massiva de máquinas Windows se reinicializou, o Skype perdeu alguns milhões de nós de sua rede. A crise havia apenas começado.


Um dos ataques hackers mais comuns é o ataque distribuído de serviço negado – DDoS, na sigla em inglês. O hacker programa muitos computadores em todo o mundo para acessarem um mesmo servidor ao mesmo tempo. Quando recebe repentinamente uma quantidade gigantesca de acessos simultâneos, o pobre servidor não agüenta. Congela. O site sai do ar.


A configuração padrão do Skype é fazer com que ele seja lançado após o restart – e assim aconteceu. Logo que os micros atualizados pela Microsoft foram reinicializados, abriram o Skype. No mesmo momento em que a rede do Skype havia perdido a grande maioria de seus pequenos servidores, começou a receber milhões de pedidos de entrada. Um perfeito ataque DDoS. Não tendo como responder a tantos pedidos, a rede travou.


Até que conseguissem botar a casa em ordem, demorou mais de 48 horas.


Há algumas lições para aprendermos. Redes P2P, inicialmente usadas para a troca de arquivos piratas, estão ficando populares para usos profissionais. Há algo de antiético no uso dos computadores das pessoas sem que elas estejam plenamente cientes disto. Além de usar os recursos dos usuários sem deixar isto suficientemente claro, agora se sabe, redes P2P podem falhar.


A segunda questão é que substituir o sistema de telefonia de uma empresa por VoIP para economizar na conta de telefone ainda não dá.


Por fim, há algo de autoritário na decisão da Microsoft de configurar os Windows mais recentes para reinicializar a máquina após um update. É verdade que o usuário mais esperto pode mudar isto, mas a maioria não o faz.


A falha foi do Skype, que não programou suficientemente bem sua rede para eventualidades. Ainda assim, a empresa de Bill Gates é que decidiu que tinha o direito de desligar computadores por conta própria. Se é ético, são os usuários que terão de decidir.’


TV DIGITAL
Rodrigo Martins


Novela não poderá mais ser gravada?


‘Congresso realizado na semana passada discute os limites da TV digital


Faltam quase três meses para a TV digital estrear no Brasil. Vários pontos já foram definidos, como sistema de transmissão, detalhes técnicos, etc. Mas em um assunto ainda não se chegou a um consenso: você, usuário, poderá gravar os programas que chegarão em alta definição na sua televisão da mesma forma que faz hoje com o que vem pela velha tecnologia analógica?


Esse foi um dos temas mais discutidos no Congresso de Tecnologia e Televisão, realizado na semana passada em São Paulo pela Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão (SET). O evento reuniu membros do Fórum Brasileiro de TV Digital, grupo que discute as normas da TV digital e que reúne emissoras, governo, fabricantes de eletrônicos e universidades.


Em três dias, a divergência de opiniões entre o grupo foi a tônica. Emissoras defendiam um controle rígido quanto ao que se pode gravar. Acadêmicos reclamavam o ‘direito constitucional’ do usuário. E a indústria de eletrônicos já preconizava que, dificilmente, será possível ter uma cópia pessoal em alta definição da novela. Mas, até agora, nada está decidido.


‘Falta esforço público para debater a questão’, diz o professor da USP Marcelo Zuffo. ‘Temos de evitar o problema da pirataria, de um programa ir parar em camelôs ou na web. Deveriam ser criadas regras. E isso não iria contra o direito constitucional que o usuário sempre teve de gravar um programa.’


Com a TV digital, será possível receber imagens em alta definição, com muito mais detalhamento do que hoje. E, com um gravador digital de alta definição – que pode ser tanto os concorrentes Blue-Ray e HD-DVD como os que gravam as imagens em disco rígido – será possível gravar filmes, shows e programas com qualidade muito superior à dos DVDs atuais.


As emissoras temem que, com isso, se instale a pirataria. No evento, elas defenderam regras que permitam, por exemplo, gravar apenas uma vez o conteúdo. Se quiser copiar para outro DVD, isso é barrado automaticamente.


Há tecnologia para isso. Chama-se Gerenciamento de Direitos Digitais (DRM, na sigla em inglês). É usada no comércio de músicas e filmes na web e em países que aderiram à TV digital.


No evento, o diretor da Rede Record, José Marcelo Amaral, anunciou que as emissoras encaminharão ao governo um pedido para que se estabeleça a proteção de cópias.


De acordo com o engenheiro da Rede Globo Paulo Henrique Castro, isso ‘não irá atrapalhar o usuário’. ‘Gastam-se milhões em um conteúdo. Defendemos que o usuário possa gravar uma vez só em DVD. Sem isso, não conseguiremos os direitos para transmitir conteúdos ‘premium’, como grandes filmes.’


Mas para o pesquisador da Genius/Gradiente Aguinaldo Silva, pelo medo da pirataria, há risco de não se poder gravar em alta definição. ‘As emissoras não querem risco. O que deve acontecer é o usuário poder gravar só em baixa definição. Mas, como o sinal é digital, a qualidade é melhor que em um DVD.’


Para dar um fim às especulações, o Ministro das Comunicações, Hélio Costa, disse que o próprio presidente Lula deverá tomar a decisão. ‘Está claro que será permitido fazer uma cópia dos programas em alta definição. O que estamos definindo é se será possível fazer isso repetidas vezes, pois pensamos que os produtores têm o direito de ter suas obras preservadas.’’


************