A Fenaj – Federação Nacional dos Jornalistas, atirou na mosca: nada é mais importante para nossa categoria profissional, neste momento, do que saber quem são os jornalistas que, conforme palavras do delegado Protógenes Queiroz, da Polícia Federal, ‘abastecem Daniel Dantas ou faziam manifestação de mídia a favor dele’. A denúncia, da maneira como foi formulada na entrevista do delegado, coloca todos sob suspeita – amigos de Dantas, inimigos de Dantas, jornalistas que jamais lidaram com esse tema. A Fenaj pediu esclarecimentos à Polícia Federal e ao ministro a que a PF está subordinada, Tarso Genro, da Justiça.
O repórter Daniel Roncaglia, do Consultor Jurídico, procurou o delegado Protógenes Queiroz, que comandou a Operação Satiagraha e considera Daniel Dantas um bandido. Queiroz se recusou a falar; de acordo com o ConJur, disse que o repórter que o procurou ‘é um idiota’ e bateu o telefone.
Resta, portanto, o caminho procurado pela Fenaj para saber quais são os acusados (e ouvir sua defesa). Dizem os ofícios da Fenaj:
‘(…) a não divulgação dos nomes de eventuais culpados, se existirem de fato, coloca sob suspeição toda a categoria (…). Esta federação tem o dever de se opor a qualquer tentativa, por mais dissimulada que seja, de enlamear a imagem dos jornalistas brasileiros, fazendo supor que todos fossem corrompíveis, razão porque vem a V. Excia. pleitear a divulgação urgente da referida lista de nomes, se existir, com as devidas provas do suposto envolvimento, sob pena de todos pagarem por alguns’.
A lista de jornalistas que o delegado considera envolvidos no ‘esquema Dantas’ seria o melhor presente de Natal para a profissão. Primeiro, por tirar as acusações do lamacento terreno da fofoca e do diz-que-diz-que e levá-las à luz do Sol, onde o mau procedimento profissional pode ser julgado pelos colegas jornalistas e pela Justiça; segundo, por expor os acusadores à defesa de quem foi acusado. É fácil dizer que há muita gente ligada ao crime – fácil e óbvio. Difícil é dizer quem são e provar seu envolvimento. Os jornalistas podem contribuir para esclarecer essa história – e melhor o farão se puderem trabalhar livres de suspeitas e de suspeitos.
A saúde do governador
O colunista Cláudio Humberto informou, em seu blog, que o governador paulista José Serra se submeteu a um cateterismo no Hospital Sírio-Libanês, no dia 13/12. Foi, segundo Cláudio Humberto, um procedimento rápido: Serra passou por lá de madrugada e saiu logo depois do cateterismo.
Mas cadê o resto da imprensa, que não foi atrás da informação, para confirmá-la ou desmenti-la? A assessoria de imprensa de Serra deu um meio-desmentido: disse ao próprio Cláudio Humberto que desconhecia o fato. Mas não disse que o fato não ocorreu. E o estado de saúde do governador José Serra é hoje de interesse nacional: como possível candidato à Presidência da República, o público tem o direito de conhecer seus eventuais problemas médicos.
Blindagem vermelha
O ditador de Cuba, Raúl Castro, não deu entrevistas durante o tempo em que esteve no Brasil. Quando um jornalista ousou perguntar-lhe sobre os dissidentes fuzilados em Cuba, explodiu, disse ao jornalista o que é que deveria perguntar-lhe e não respondeu. E este colunista, certamente por falha na pesquisa, não se recorda de ter visto nenhum protesto contra a falta de entrevistas.
Acusação sem defesa
O Ministério Público Estadual acusa a empresa Home Care Medical, envolvida no caso da Máfia dos Parasitas, de contribuir com 3,5 milhões de reais para 26 candidatos a prefeito, em três estados. O problema é que, na reportagem sobre o assunto, sai a lista dos que teriam recebido a doação, mas ninguém foi procurado para apresentar sua versão. Já haveria informações disponíveis de que essa empresa estaria sendo investigada por atividades ilegais? Se não houvesse informações, como os candidatos saberiam que não deveriam aceitar seus recursos? De acordo com a matéria, as doações eram ilegais. Que explicação oferecem os beneficiários para ter recebido doações ilegais?
A síndrome da matéria pronta, recebida quentinha e com muitas informações, embora parciais, continua prejudicando a reportagem. No caso, um pouco mais de trabalho poderia até complicar a vida dos acusados. Se não tivessem boas explicações para receber doações ilegais, que manobra teriam feito para aceitá-las?
Os 40 anos
O episódio do drible que a equipe do Jornal da Tarde deu na Polícia Federal, que queria apreender o jornal no dia do Ato Institucional nº 5, desdobra-se em muitas histórias. Mário Marinho, ótimo repórter, lembra a distribuição de mão em mão, enquanto a Polícia Federal tentava apreender a edição inteira.
Os garotos que vendiam jornais na rua costumavam assinar um protocolo quando recebiam seu reparte (e, no dia seguinte, pagavam o que tinha sido retirado). No dia 13 de dezembro de 1968, no meio da pressa e da confusão, a garotada pegava o jornal sem pagar nada, sem assinar nada. E saía na corrida, para vender o mais rápido possível. Outro grupo, de que o próprio Marinho fez parte, junto com boa parte da equipe de Esportes, pegou um montão de jornais e passou a distribuí-los gratuitamente no meio do trânsito. Avisavam: pega logo que a polícia está apreendendo. Solidariedade total: não sobrou um só jornal. O pessoal pegava, dava uma rápida olhada e escondia o exemplar, para não ser apreendido.
O mais interessante é que ninguém teve medo. O pessoal que distribuía o jornal não ficou preocupado por entregar o jornal sem recibo, sem nada. Os jornalistas que participaram da entrega não temeram ser presos. Naquela empresa, especialmente naquele momento, sabia-se que haveria cobertura por parte da direção: se alguém fosse preso, logo apareceria um Mesquita, acompanhado de bons advogados (na época, com a ditadura ainda bamba, isso ainda era possível) para libertá-lo. E o pessoal que distribuía o jornal sem comprovante sabia que o importante para a direção da empresa era menos o dinheiro e mais, muito mais, a circulação das idéias e a luta contra os maus tempos que estavam chegando.
Foi um dia triste. Mas o episódio foi bonito.
O sapateador
Duas informações que apareceram com muita discrição no noticiário sobre os sapatos atirados contra o presidente americano George Bush, em Bagdá:
1.
O repórter Al Zaid, que jogou os sapatos, é membro do Partido Comunista Iraquiano. Agiu como ativista político, não apenas como cidadão indignado.2.
Em suas reportagens de Bagdá para a TV Al Baghdadiya, concluía dizendo ‘Al Zaid, da Bagdá ocupada’. É tudo verdade: Al Zaid é o nome dele e Bagdá, como o restante do Iraque, está ocupada. Mas não combina com a imagem de ditadura que se faz hoje do Iraque. Frases desse tipo não eram aceitas no regime iraquiano anterior, de Saddam Hussein.A propósito, boa parte do noticiário da grande imprensa sobre o repórter Al Zaid teve como origem um site muito bem-feito, o Vermelho, do PCdoB. Endereço eletrônico do Vermelho, onde esse tipo de notícias do Iraque sai em primeira mão: www.vermelho.org.br
Rigoroso inquérito
É preciso acompanhar de perto o caso da agressão do repórter Sérgio Gobetti por truculentos seguranças apelidados de ‘policiais legislativos’ na Câmara dos Deputados. Gobetti, do Estado de S.Paulo, entrou correndo no plenário, mas com crachá e mostrando o documento. Mesmo assim, dois gorilas o seguraram por trás, um deles pelo pescoço. Não é a primeira vez: este colunista, por exemplo, não chegou a ser agredido, mas seguranças (desculpe, ‘policiais legislativos’) insistiam primeiro em chamá-lo de ‘Baltazar’; e, ao ver que os documentos estavam em ordem, tentaram provar que o crachá tinha sido cedido a ‘Baltazar’ para que ele entrasse clandestinamente no plenário da Casa do Povo.
O perigo é que as investigações se limitem ao ‘rigoroso inquérito’, sem entrar no mérito da questão: o de dar poder de polícia a pessoas despreparadas, para quem a agressão é um ato normal e que deve ser aceito como um fato da vida.
E eu com isso?
Sabe aquela tela sensível ao toque, que a Globo está usando? Pois está cada vez mais popular: no Iphone, em marcas concorrentes, em notebooks. Um fabricante de celulares desenvolveu uma tela dessas de vidro temperado, à prova de manchas e riscos. Uma beleza! E, com a convergência digital, cada vez mais teremos informações em celulares e notebooks com telas sensíveis ao toque – ou, como preferem os vendedores, em touch screen. Basta passar o dedo na tela e saberemos, imediatamente, que:
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‘Madonna esnoba Gianecchini e dá atenção para Santoro em festa’**
‘Scarlett Johansson assoa o nariz e lenço vai a leilão’**
‘Pet shop freqüentado por Britney e Paris pode fechar’**
‘Tom Cruise não vai ao aniversário da mulher nos EUA’O grande título
Dias de festas, dias de plantão, meia equipe de folga, sabe como é. E os títulos mostram direitinho o que está acontecendo nos meios de comunicação:
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‘Correa diz não cair em canto das sereiais para pagar dívida’Correa é Rafael Correa, presidente do Equador. Sereiais deve ser ‘sereias’ digitado às pressas, sem revisão. Ou é algum prato que leva cereais, igualmente com problemas de digitação. Não faz muita diferença: cereais não cantam, sereias não existem, Rafael Correa não diz coisa com coisa.
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‘Rede de fast food lança desodorante de carne assada’Deve haver quem entenda. Mas, se o título exprimir o que diz a matéria, que coisa sensacional! Este colunista acha que desodorante de carne assada vai afastar todos os amigos. Em compensação, atrairá todos os cachorros da rua.
E agora, o melhor título:
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‘Veja os bebês de famosos que nasceram em 2008’Eta, gente precoce!
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Jornalista, diretor da Brickmann&Associados