Imagine o leitor que os seguintes fatos tivessem ocorrido com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva:
1.
Na primeira edição após a sua posse na Presidência da República, o Diário Oficial da União circulasse com uma foto de Lula estampada na primeira página.2.
O site oficial da Presidência da República, no dia seguinte à posse, apresentasse um "perfil" de Lula qualificando-o como "o maior líder operário do mundo".Não é difícil imaginar qual teria sido a reação da imprensa e da oposição. Um colunista aqui, um tucano de bico longo acolá, teriam todos esperneado. A equipe de comunicação de Lula certamente teria sido chamada, na hipótese mais branda, de stalinista.
Os dois fatos felizmente não aconteceram com Lula, que manteve a compostura. Eles aconteceram na cidade de São Paulo:
1.
Em sua primeira edição após a posse do prefeito José Serra (PSDB), o Diário Oficial do Município circulou com foto do tucano que nos próximos quatro anos tem a incumbência de administrar a cidade.2.
A página oficial da prefeitura paulistana na internet apresentou um perfil do novo alcaide em que ele é qualificado como "o melhor ministro da Saúde do mundo". O texto apresentado no site oficial guarda enormes semelhanças – se não for o mesmo – com perfil do prefeito que constava da página do PSDB municipal na internet.Seria apenas ridículo se não fosse ilegal. No parágrafo primeiro do artigo 37 da Constituição Federal está escrito: "A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos" [grifo meu].
A turma de José Serra mostrou que não sabe ganhar. O responsável pela comunicação da prefeitura, Sérgio Kobayashi, afirmou que ver nos atos tucanos uma ilegalidade era "fazer tempestade em copo d’água". "Não vamos abrir mão do direito de informar", completou.
Se o conceito de informação da nova gestão for realmente este, os tucanos terão inovado: na oposição, cobram a postura "republicana" dos governantes; no governo, fazem da administração pública uma extensão dos caprichos de seus líderes.
Resta esperar que a imprensa cumpra o seu papel e denuncie os desmandos. Afinal, autoritarismo, arrogância e desrespeito à legislação não combinam com o avanço da democracia.