A temporada natalina trouxe novidades que em outras circunstâncias não ganhariam espaço excessivo. Foi o caso da ultrapassagem da economia britânica pela brasileira, supostamente revelada – o FMI já havia previsto esse resultado – pela consultoria CEBR, de Londres, nas páginas do The Guardian.
Vinicius Torres Freire, na Folha de S. Paulo (27/12), achou para sua coluna um título feliz: “Brasil, uma ilusão de ótica real”.
“Ilusão de ótica” porque o PIB medido em dólares provavelmente incorpora uma supervalorização do real. “Mera ilusão de ótica? Também não. Nosso poder de compra aumentou de fato”, escreveu Torres Freire. “O mercado brasileiro é maior. O retorno que a economia brasileira dá para investimentos estrangeiros é também maior”.
Escrúpulos de professor
O ministro Guido Mantega pegou carona na notícia, mas seus escrúpulos de professor o obrigaram a alertar que há uma grande diferença de padrão de vida entre os dois países. E estimou em “dez a vinte anos” o tempo necessário para o Brasil atingir o padrão de vida europeu.
Gustavo Patu, em coluna na mesma Folha, fez as contas e constatou que, no ritmo atual, “só depois de 2040 a renda per capita brasileira atingirá o padrão britânico de hoje – para não falar da qualidade da educação, da saúde, das instituições”. E arrematou: “A não ser, é claro, que Mantega conte com uma ou duas décadas de depressão econômica na Europa”.
Em todo caso, usar um país ou o continente europeu como termo de referência talvez não seja a melhor ideia. No epílogo de Continente sombrio – A Europa no século XX, livro publicado em 1998, Mark Mazower cita um diplomata belga para quem a União Europeia era “um gigante econômico, um anão político e um verme militar”. Hoje, um gigante estatelado. O resto não parece muito melhor do que naquela época.