Um dia depois que a Coreia do Norte anunciou a morte do líder Kim Jong-il, vídeos e fotografias distribuídas pelo governo mostravam cenas de luto e histeria em massa entre cidadãos e soldados na capital Pyongyang. As imagens, muitas delas escolhidas cuidadosamente pela Agência de Notícias Central da Coreia, pareciam fazer parte de uma campanha oficial para construir apoio ao sucessor de Jong-il, seu terceiro filho, Kim Jong-un. No Teatro Nacional de Pyongyang, atores e atrizes foram fotografados aos prantos, efetivamente instruindo a nação a como se comportar.
As expressões exageradas de luto nos funerais – choros compulsivos, balançar do corpo e berros – são uma parte aceitável da cultura coreana. Mas, no norte, elas foram exacerbadas por um culto à personalidade em que o líder do país é considerado pai de cada cidadão. Para Park Jong-chul, analista do Instituto Coreano para Unificação em Seul, financiado pelo governo, o luto mostrado nas imagens do governo era genuíno. Além da tristeza, o sentimento era de medo e incerteza sobre o futuro do país. Mas ele concorda que houve um certo grau de coerção. “Alguns podem ter feito isso por acharem que estavam sendo observados”, afirmou.
Lealdade
Por mais de seis décadas, a família Kim, começando com Kim Il-sung, governou o país, como se fosse uma única família. Como os filhos tomam conta dos túmulos dos pais na cultura tradicional, cidadãos vão, toda manhã, aos monumentos da família Kim. Segundo Brian R. Myers, especialista na ideologia da Coreia do Norte na Universidade Dongseo, na Coreia do Sul, eles sentem-se traumatizados com a perda, mesmo se não têm uma afeição forte e pessoal em relação a Kim Jong-il. “No norte, o nacionalismo e a lealdade ao governo são reforçados”, disse.
Em sua primeira aparição pública desde a morte do pai, Kim Jong-un visitou o mausoleu em Pyongyang. O caixão do ditador estava cercado por crisântemos brancos e Kimjongilia, uma flor que recebeu este nome em homenagem a ele. Kim Jong-un estava acompanhado por um grupo do partido e por militares, dando uma pista de que será o sucessor na dinastia que controla a Coreia do Norte desde que foi fundada por seu avô, Kim Il-sung, cuja morte, em 1994, gerou uma comoção ainda maior. Sob Kim Jong-il, a falta de comida piorou e uma disparidade na lealdade ao governo surgiu entre os que vivem na capital e os que ficam nas províncias do interior. Informações de Choe Sang-Hun e Norimitsu Onishi [New York Times, 21/12/11].