Com o aparecimento e expansão da televisão e, mais recentemente, com a internet, a mercadoria público ampliou-se e migrou para estes meios, deixando a imprensa escrita fortemente ameaçada. O público passa a se interessar pelo noticiário que é constituído de conteúdos “interessantes”, que atraem, prendem e seguram, seja pela dor, pelo entusiasmo, pela preocupação que provocam, ou pela esperança.
Se tratando da internet, Ciro Marcondes Filho acredita que as novas tecnologias digitais introduzem a “imaterialidade jornalística”. Na tela do computador, o texto jornalístico perde a materialidade e se torna pura fibrilação visual de pontos, um texto permanentemente provisório, nunca terminado, passível de interferências por todos os que por ele passam e em todos os momentos da produção do jornal. Neste ínterim, há previsões de que o jornal impresso tende a desaparecer em consequência da diminuição do número de leitores que se adequam cada vez mais às facilidades que os produtos tecnológicos em constante desenvolvimento oferecem.
A destruição deste veículo de comunicação implicaria na extinção do primeiro tipo de lead, o do texto impresso. Neste caso, a própria industrialização que possibilitou o nascimento do lead se torna a responsável pela sua morte. Ou veremos apenas o fim do papel? O jornalista Alberto Dines discute o futuro do jornalismo impresso no Brasil. A questão da sobrevivência do jornal tradicional frente ao uso cada vez mais disseminado da internet para obtenção de informação é uma questão que preocupa não só brasileiros, mas os jornais de todo o mundo. Com fortes quedas de circulação, os jornais precisam utilizar o momento de crise para uma mudança ou renovação positiva.
O fato e o contexto
Dines cita a precocidade do texto da internet como uma vantagem a ser utilizada pelo jornal de papel. A ausência de uma “gramática própria” poderia reforçar a qualidade que o texto impresso pode alcançar se trabalhada de forma responsável. Enquanto isso, o que se vê na rede virtual é uma réplica “virtual” e, de certa forma, improvisada do jornalismo standard, cujos padrões vêm sendo consolidados ao longo de 400 anos de abalos e mudanças. O lead e a pirâmide invertida estariam, portanto, migrando para o mundo virtual, com notícias factuais e objetivas, procurando atender a um “internauta” que quer estar ligado – e imediatamente – em tudo o que acontece à sua volta. Assim, as notícias são passadas de maneira breve para que em um curto espaço de tempo, se tenha acesso ao maior número de informações possíveis.
Álvaro Caldas defende que o maior desafio do jornal agora é mudar preservando seus valores e principais características. Segundo o autor, leitores de jornal e usuários de internet têm interesses e curiosidades diferentes. Para assegurar seu espaço, caberá ao jornal do presente investir naquilo que o leitor espera encontrar nele: originalidade, texto interpretativo e analítico, com suas implicações e possíveis repercussões na vida de cada um. O fato situado dentro de um contexto mais amplo, ao lado de pesquisa e opinião, já que na internet o que se busca são informações rápidas e específicas, em poucas linhas.
Raciocínio e conhecimento
Quando o jornal impresso se torna mais aprofundado e analítico, resgata o seu caráter partidário inicial, de teor mais comentarista. Isto representa a possibilidade de um retorno ao modelo do “nariz de cera”? O fato é que, com mais de dois séculos de história, o jornal vem se reinventando e o jornal impresso persiste em continuar existindo. Sua linguagem sempre mudou de acordo com as circunstâncias.
O lead foi se adaptando e se adequando a todas as formas de comunicação ao longo do tempo. Pois o que vale, como diz Adelmo Genro Filho, não é a técnica e o formato, e sim, a expressão formal de um raciocínio lógico que dá base à forma de conhecimento própria do jornalismo.
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[Hadassa Ester David é jornalista e mestranda em Comunicação]