Thursday, 07 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

Eleições de 1974 foram o marco

Em boa reportagem na Folha de S. Paulo ("O silêncio do cardeal", 16/10), Bernardo Mello Franco sintetiza passagens importantes da trajetória política de dom Paulo Evaristo Arns.

Um pecadilho, entretanto, não deve ficar sem reparo. Escreve o repórter que o ato em memória do jornalista assassinado Vladimir Herzog, realizado na Catedral da Sé em 31 de outubro de 1975, "entrou para a história como marco inicial da luta pela redemocratização do país".

É um equívoco. O grande processo político que tirou chão da ditadura foi protagonizado por dezenas de milhões de brasileiros um ano antes: as eleições de outubro de 1974, quando o então MDB ganhou 16 das 22 cadeiras em disputa no Senado. Entre os vitoriosos estavam Orestes Quércia (SP), Teotônio Vilela (AL), Itamar Franco (MG), Leite Chaves (PR), Marcos Freire (PE), Saturnino Braga (RJ) e Paulo Brossard (RS). Todos tiveram papel relevante naqueles anos e depois.

Ninguém poderá exagerar a importância do ato na Catedral da Sé como mais expressiva manifestação que, desde a decretação do AI-5, em 1968, desafiou uma proibição do regime. Mas ele só foi possível porque tinha havido antes o repúdio nacional nas urnas ao partido do governo, a Arena, depois sucedida pelo PFL (hoje DEM e PSD) e pelo então PDS (hoje PP, partido de Paulo Maluf).

Jornalistas presentes

Se agora "os políticos" são percebidos por muitos como uma categoria indistinta de indivíduos suspeitos, não se pode perder de vista que parcela expressiva deles conduziu o essencial da luta política pela redemocratização, cujo marco de chegada pode ter sido a promulgação da Constituição de 1988, ou a eleição direta de 1989 e o subsequente impeachment de Fernando Collor, vistos esses dois últimos processos como parte de um amadurecimento notável que Eliane Cantanhêde resumiu com brilho e otimismo na mesma edição da Folha ("Abaixo a corrupção!").

Em nota de rodapé, registre-se que na foto de 1985 publicada na matéria, do lado direito de dom Paulo está Audálio Dantas. Ele teve desempenho político notável desde sua eleição, em abril de 1975, para presidir o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo.