Os russos que acompanharam pela TV a cobertura de manifestações antigoverno ocorridas ao longo do final de semana passado tiveram uma versão light da ação da polícia, assistindo às imagens de alguns manifestantes entrando de forma ordenada nos camburões. A realidade, no entanto, foi bem diferente. Centenas de protestantes foram presos de maneira violenta e alguns deles foram agredidos por policiais.
Além de distorcerem o ocorrido, as redes televisivas ainda dedicaram grande parte de sua programação à cobertura de um evento pró-Kremlin com imagens de jovens empunhando bandeiras da Rússia. A emissora estatal Rossiya abriu seu noticiário noturno mostrando o presidente Vladimir Putin em uma competição de artes marciais e, quando mostrou algumas cenas de violência do protesto antigoverno, insinuou que os participantes estavam promovendo uma ‘revolução apoiada pelo Ocidente’. A única emissora a fazer uma cobertura um pouco mais isenta foi a REN TV, canal dedicado a programas de entretenimento, que exibiu imagens de manifestantes sendo agredidos.
Influência do governo
Diante das eleições parlamentares, em dezembro, e da presidencial, em março, a influência do governo sobre a mídia é a mais forte desde o fim da era soviética, noticia Alex Nicholson [Associated Press, 16/4/07]. O governo controla as três maiores redes de TV – é proprietário da Rossiya e do Channel One; já a NTV pertence ao grupo de gás Gazprom, alinhado ao Kremlin. Em 2005, o Gazprom comprou o jornal Izvestia e é dono também da rádio Ekho Moskvy. Um bilionário russo que é presidente de uma subsidiária do Gazprom comprou ações do popular diário Kommersant no ano passado.
‘Ainda há empresas de mídia que tentam ser independentes, mas elas estão à mercê do Kremlin’, afirma Masha Lipman, pesquisadora do Centro Carnegie Moscou. Estes veículos, entretanto, não conseguem atingir uma audiência de massa e ainda permitem – sem muita escolha – que o governo alegue que, na Rússia, há mídia independente. Analistas acreditam que a censura à mídia diminua a chance dos protestos ganharem força. ‘Há pouca chance de propagação, pois o Kremlin continua a cercear as TVs’, diz Rory MacFarquhar, do banco americano Goldman Sachs, a investidores, após as manifestações.
Depois de quase uma década de crescimento, a Rússia começa a apresentar resultado positivo na economia de consumo, mas ainda há muito a ser melhorado. Pesquisas mostram que a corrupção é grande e o salário mínimo vale pouco mais de US$ 400 em um país que abriga pelo menos 53 bilionários, segundo a revista Forbes.