A mídia está encantada com os dois desempenhos de Ronaldo, o camisa 9 do Corinthians. Mais uma façanha, mesmo irrisória, e este senhor estará sendo rebatizado como Fenômeno.
A missão do torcedor é torcer, delirar. Ao jornalista cabe não distorcer, usar a razão e o discernimento. Há um ano, Ronaldo estava sendo tratado como a Geni da canção de Chico Buarque. Nesta reviravolta há, certamente, um toque de solidariedade. A recuperação de um ser humano é sempre auspiciosa, sobretudo quando se trata de um ídolo. E, sobretudo, quando este ídolo é corintiano.
Essas súbitas mudanças de humor dos jornalistas esportivos – felizmente não todos – mostram como é diferente o universo futebolístico. O jornalista político geralmente dá preferência aos fatos negativos, pois acredita que através deles pode levar o eleitor – espécie de torcedor – a optar por mudanças. Já o jornalista esportivo, geralmente, prefere o clima da euforia.
Corrupção no mundo da cartolagem, mediocridade na seleção nacional e campeonatos inexpressivos são fatos que não animam os editores das páginas de esporte. A preferência é pela euforia.
Já o mundo da política vive da realidade e das suas mazelas. Como no mundo dos negócios: a prisão em Nova York do trapaceiro Bernard Madoff e a possibilidade de ser sentenciado a 150 anos de prisão fizeram a alegria de uma legião de investidores. Inclusive no Brasil.