Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Folha condena limites
aos outdoors paulistas


Leia abaixo os textos de segunda-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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O Estado de S. Paulo


Segunda-feira, 23 de outubro de 2006


ELEIÇÕES 2006
Ana Paula Scinocca e Clarissa Oliveira


Candidatos fazem hoje na Record o penúltimo debate


‘A Rede Record promove hoje, a partir das 22h30, o penúltimo debate entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB). A Globo fecha o ciclo de debates entre os candidatos à Presidência na sexta-feira à noite, ainda sem horário definido, na antevéspera da eleição.


O programa da Record marca a volta do embate direto dos dois adversários, com três dos cinco blocos destinados a perguntas entre os próprios candidatos. No último debate, realizado pelo SBT na quinta-feira, predominou um tom morno. Contribuiu para isso o formato adotado na abertura do programa, com perguntas sobre o conteúdo programático de cada candidato. As coordenações de campanha dos dois, no entanto, garantem que o tom ameno será mantido.


Animado com o resultado do debate no SBT, Lula decidiu que não mexerá em nenhum ponto de sua estratégia para hoje à noite. Lula, que manifestou a interlocutores a satisfação com o último debate, seguirá tentando desconstruir o discurso de gestão do rival, batendo nas privatizações e no corte de gastos.


‘A avaliação do presidente sobre o último debate foi muito boa e ele tende a seguir exatamente na mesma linha, de priorizar questões programáticas’, disse o coordenador da campanha e presidente interino do PT, Marco Aurélio Garcia.


Garcia se encontrou com o presidente para discutir o assunto e disse que Lula não está preocupado com o tom que será adotado por Alckmin – o estilo ‘Mike Tyson’ que marcou o debate inaugural do segundo turno, na TV Bandeirantes, ou o tom mais brando mostrado no confronto do SBT. ‘O Alckmin mantendo a linha leve ou pesada, o presidente não está preocupado.’


O comando de campanha do PSDB se reuniu ontem à noite com o candidato tucano para definir a estratégia. Segundo interlocutores, a linha a ser seguida deverá ser a mesma apresentada no debate da semana passada. Ou seja: menos agressividade com Lula e mais diálogo com o telespectador. ‘Não há por que gastar munição agora’, disse um integrante da equipe do marqueteiro Luiz Gonzalez. O PSDB quer guardar fôlego para o embate da TV Globo.’


João Domingos


Na TV, petista vai de ironia e tucano tenta ataque final


‘O candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, decidiu mudar seu programa no rádio e na televisão nos últimos cinco dias da campanha. Na reta final, será muito mais agressivo, principalmente em relação ao PT, que vai aparecer como dono do dinheiro destinado à compra do dossiê Vedoin. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai deixar o programa quase do jeito que está. Apenas algumas ironias em relação a Alckmin serão acrescentadas.


O comando tucano acha que a fórmula tentada até agora não deu os resultados esperados. Pelo atual formato, um locutor denuncia a participação de petistas na compra do já famoso dossiê Vedoin contra o PSDB no momento em que são mostradas fotografias do R$ 1,75 milhão apreendido pela Polícia Federal e, como contraponto, Alckmin fala de suas realizações e obras no governo de São Paulo. Na quinta-feira, reunido com seu conselho político, o candidato tucano decidiu mudar quase tudo.


Lula, pelo contrário, entende que seu programa fala diretamente ao povo, tanto no que se refere às pequenas intrigas contra o adversário, quanto em relação às realizações de seu governo. Nas últimas avaliações feitas a respeito do programa eleitoral e nas análises de pesquisas eleitorais, o presidente e seus marqueteiros concluíram que a estratégia adotada deu certo.


Os petistas conseguiram, por exemplo, fazer com que os eleitores acreditem que se Alckmin vencer a eleição vai vender estatais como o Banco do Brasil, a Petrobrás, a Caixa Econômica Federal e os Correios. Avaliaram que ainda não é possível passar para o eleitor a idéia de que, na Presidência, Alckmin vai cortar os gastos sociais, como os da Previdência e para o Bolsa-Família.


Na reunião de quinta-feira, o comando da campanha tucana concluiu que o candidato Alckmin deve parar de responder às insinuações do PT. O programa ganhará também uma tintura muito mais agressiva, na tentativa de reduzir nos momentos finais a grande vantagem que separa os dois candidatos, de acordo com as pesquisas eleitorais.


Nos quatro últimos dias da campanha, que termina na quinta-feira, o programa de Alckmin insistirá em mostrar as fotos do dinheiro do dossiê. Mas afirmará que a operação que arrecadou R$ 1,75 milhão para a compra do material antitucano não é de responsabilidade apenas do PT paulista, mas do partido como um todo. Será dito que o PT nacional é comandado pelo PT paulista. O problema, na visão do conselho político de Alckmin, é que certamente esses programas terão muita contestação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).


A assessoria de Lula já se preparou para tentar tirar tempo do programa de Alckmin. Se vencer na Justiça, usará o espaço para dizer que a Justiça puniu o adversário por ter dito ‘mentiras’ a respeito de Lula.’


PUBLICIDADE
Marili Ribeiro


Filme ou merchandising?


‘Se antes as ações de merchandising se limitavam a uma cena do filme, agora vão ocupar a história inteira e condicionar o consumidor a sair do cinema com a marca no seu cérebro. A motivação que leva anunciantes a apostarem no conteúdo em si para dar maior permanência às suas mensagens marca forte tendência da publicidade.


Com a televisão digital, o público passa a ter recursos tecnológicos para deletar o que não quer assistir. O intervalo comercial pode cair em desuso e a propaganda tem de encontrar outros canais para se comunicar com a platéia.


No filme Náufrago, por exemplo, bastava que Tom Hanks se atracasse por alguns minutos na telona com embalagens da FedEx, para se atingir o objetivo. Agora Hanks vai protagonizar um publicitário desempregado que trabalha em uma cafeteria da rede Starbucks, em How Starbucks Saved My Life, previsto para estrear em 2007. A marca é co-protagonista e não sai de cena.


Nessa linha de merchandising revisitado, que o meio publicitário denomina de ‘propaganda tratada como conteúdo e não como publicidade’, a iniciativa mais festejada é a do filme roteirizado pela agência da moda no foco dos profissionais do ramo, a Crispin Porter + Bogusky. Preparada para a Burger King, a proposta da agência prevê até porcentual de participação na bilheteria do filme.


No Brasil, a colocação da marca intermeando o roteiro de um projeto de entretenimento não alcançou o cinema. Até porque, aqui ele não tem a força da produção hollywoodiana. Mas a tendência já desembarcou na televisão.


O seriado Mothern, inspirado no blog criado pelas publicitárias Laura Guimarães e Juliana Sampaio sobre as dificuldades de conciliarem maternidade e profissão, foi lançado em agosto no canal GNT e já detém a vice-liderança na televisão por assinatura, segundo o Ibope. ‘A Unilever, Nestlé, Johnson & Johnson e Laboratórios Bristol entram na história de forma natural’, conta João Daniel Tikhomiroff, presidente da Mixer, agência que idealizou o projeto.


Sérgio Valente, presidente da DM9DDB, acredita que o truque que está por trás dessa movimentação atual poderia se resumir no velho conceito de que boa propaganda tem a obrigação de surpreender. ‘Hoje, no universo multimídia, isso se dá interferindo nos conteúdos.’


‘Nunca gostei de ações de merchandising invasivas, que interferem na cena e provocam desconforto’, diz Paulo Camossa, diretor-geral de mídia da AlmappBBDO. ‘O caminhão da Volkswagem no seriado Carga Pesada, da Rede Globo, por exemplo, surge quase como coadjuvante nas aventuras de Antônio Fagundes e Stênio Garcia. Alguns episódios foram adaptados para se falar de freios, mas de forma integrada à trama’, explica.


Os comerciais de 30 segundos, que sempre reinaram na propaganda brasileira, não vão acabar de uma hora para outra, mas terão menos relevância com esses avanços. ‘A tendência da publicidade se dirigir para mídias mais diferenciadas e mais eficientes é irreversível’, diz Antônio Fadiga, presidente da FischerAmérica. ‘Aqui já temos uma pessoa dedicada a estudar soluções fora da mídias convencionais.’


Para Fadiga, o maior impasse ao avanço do uso de outros canais decorre da forma de remuneração das agências no Brasil. Aqui, a receita delas está, em boa parte, atrelada à negociação da veiculação dos comerciais. ‘Lá fora há empresas especializadas em aproximar anunciantes de produtores e roteiristas de cinema, caso da Media MatchMaker.’ A receita de merchandising nos EUA já cresceu 30% este ano em relação a 2005.’


INTERNET
Simone Iwasso


‘Internet na escola não resolve problemas, fabrica novos’


‘Discípula do psicólogo suíço Jean Piaget, a psicolingüista argentina Emilia Ferreiro revolucionou nos anos 80 a alfabetização, ao sugerir uma nova maneira de entender como as crianças aprendem a ler e a escrever. Foi ela quem cunhou o termo ‘construtivismo’, nome da teoria que hoje, passados mais de 20 anos, é tida como a principal corrente do sistema educacional brasileiro. Aos 69 anos, empolgada com as possibilidades que as novas tecnologias oferecem, ela diz que faltou, no Brasil, pesquisa didática para aplicação da teoria. Apesar dos desvios, segundo ela, a educação está melhor do que antes, só por reconhecer que as crianças são ativas na alfabetização, e não apenas devem copiar e reproduzir o que os professores escrevem.


Atualmente é professora do Centro de Investigação e Estudos Avançados do Instituto Politécnico Nacional, na Cidade do México, onde mora. De passagem por São Paulo, para participar do Seminário Victor Civita de Educação, no início do mês, Emilia falou ao Estado sobre sua teoria, a dificuldade que a escola tem, ainda hoje, de lidar com a diversidade e as possibilidades da tecnologia na alfabetização.


Professores, pais e até alunos conhecem o termo construtivismo, adotado no Brasil pela maior parte das escolas. No entanto, cada um define a linha de uma maneira. Há uma dificuldade de compreensão?


A questão é que existe um passo intermediário entre a pesquisa de base, de natureza psicolingüística, e a aplicação pedagógica, que é a pesquisa didática. O que aconteceu aqui e em várias partes do mundo é que se fez uma aplicação antes da pesquisa de base. Foi por um bom motivo, porque a situação educacional no Brasil era insuportável. Nos anos 80, metade dos meninos repetiam a 1ª série. Parecia que eram todos incapazes de aprender. Sentiu-se que o construtivismo trazia novas idéias para mudar isso. Acredito que teve resultados positivos, apesar dos desvios. Foi bom pensar que as crianças podiam aprender, que antes de escrever corretamente, tinham modos de ler e escrever evolutivamente ordenados. Agora, é necessária a pesquisa didática para saber como usar na escola um saber teórico.


Apesar do esforço pela inclusão e respeito à diversidade, pesquisas apontam para um excesso de alunos agitados medicados sem necessidade, por exemplo. A escola não sabe lidar com a diferença?


O tema da medicalização está sendo uma catástrofe em todo o mundo. Não é um problema só brasileiro. Na Argentina, um grupo de pediatras e psicólogos estão preocupadíssimos com a quantidade de crianças medicadas. E é um problema sobretudo da escola particular. Essa é uma dificuldade que existe.


Por que a escola ainda não superou essa dificuldade?


Quando a escola foi criada, também havia muita diversidade. Mas foi uma diversidade negada. Todas as crianças deviam ter os mesmos direitos, aprender as mesmas coisas, da mesma maneira e falar a mesma língua. Quando se estabelece isso, a missão da escola é formar esse cidadão ideal, que deve saber certas coisas e falar de certa maneira. Hoje, a comunicação entre as diversidades, as possibilidades de encontro se multiplicaram exponencialmente. Não havia tanto encontro de diversidades antes, exceto em alguns lugares. Então, historicamente, a escola não foi criada para respeitar a diferença.


Com o computador, que chega também à rede pública, as crianças têm acesso a universos muito distintos, mas também a hipertextos, links, que fogem do padrão linear da leitura do livro. Isso influencia na alfabetização?


O computador quando é processador de texto é uma coisa, quando é internet é outra, chat é outra, e-mail é outra. Como processador de texto já é de uma utilidade pedagógica sensacional. Na escola tradicional, a revisão de texto é feita pela professora. Com os processadores de texto se pode socializar a revisão. Um dos objetivos da alfabetização é formar um produtor autônomo e para isso o computador é fantástico. É apaixonante como se pode instaurar desde o começo uma atitude de responsabilidade frente ao próprio texto, deixá-lo mais eficaz como mensagem para transmitir a outro. Se escrevo para uma diversidade de destinatários – outra vez a diversidade -, isso muda o texto, tenho de pensar o que digo em função de um interlocutor, e não de uma professora que só está interessada na ortografia. Isso tem repercussão cognitiva e no processo de socialização da criança.


E o contato com a internet?


Com a internet, o problema não é tanto ser linear ou não. O problema é o seguinte. Eu busco, acho um site, que tem um link para outro lugar, e dele vou para outro, e em pouco tempo já nem sei o que buscava. Sou um barco perdido no meio do mar sem porto de chegada. Uma das dificuldades é que cada opção abre outras opções. É muito fácil se perder e o desafio é manter o objetivo da busca diante de uma multiplicidade de opções. É uma coisa que a escola nunca ensinou. Outra coisa é que busco e aparecem cem opções, como escolho? Com que critérios seleciono? O problema da reação aos buscadores é que pensamos que existe alguém por trás que saiba tudo e me mostre tudo e me leve a tudo. E não é assim. Um dos problemas sérios é aprender a duvidar da internet, que nem sempre me traz o que busco. Para navegar eficientemente na internet é preciso ter uma série de atitudes novas, tomar decisões rápidas e extrair informação.


Mas a maneira de ler muda?


Não tem de ler como se ensinava antes na escola, começava do início e seguia até o fim da página. Isso é interessante, porque na internet, numa busca, é diferente, tem de ter critérios e selecionar, ler de todos os pontos. Uma coisa que se está discutindo seriamente são esses critérios de confiabilidade da internet. Nos objetos livro, revista e jornal, eu tenho critérios antes de começar a ler. A aparência do livro já me diz se é bem editado ou não. A quantidade de fotos e a distribuição de propaganda em uma revista ou jornal me dizem algo. E são objetos que há séculos circulam na sociedade, então temos tanta prática com eles que podemos dizer rapidamente de que tipo se trata. Agora, um site, se é de uma editora, eu transfiro para o site a confiabilidade que eu tinha à editora. Mas esses são a menor parte. Esse é um produto educativo muito sério. Desde que haja um tema polêmico, você vai encontrar uma multiplicidade de vozes na internet.


Qual a melhor maneira de lidar com essa falta de critérios?


Creio que ainda não sabemos como lidar com isso, porque tudo isso é muito novo para a escola. Ter internet na escola não resolve os problemas, fabrica novos, mas que são desafios interessantes. Para adolescentes, discutir junto com eles, colocá-los em busca dessas respostas, é uma situação que pode ser apaixonante, inclusive usando a experiência que eles já têm com a internet. É preciso saber enfrentar os problemas educativos novos que nos são colocados. A internet traz um novo tipo de diversidade à escola.’


Maurício Moraes e Silva


‘A democracia da internet é um mito’


‘A internet funciona como um espaço livre, que permite a qualquer pessoa manifestar suas idéias – até mesmo as mais controversas? Nada nisso, na opinião do escritor, artista e ativista digital Fran Ilich. ‘Acho que existem muitos mitos sobre a web que temos de rever: o fato de ser democrática ou transparente ou educativa’, acredita. ‘Há muita censura, invisível para a gente que vive nas cidades, mas muito sofisticada.’


Ilich vive no México e esteve no Brasil na semana passada para participar do Seminário Internacional de Ações Culturais em Zonas de Conflito. O evento foi promovido em São Paulo pelo Instituto Itaú Cultural. Em seus projetos, ele procura dar voz a populações excluídas, movimentos sociais e grupos organizados de esquerda, como o Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN). Por isso mesmo, vê de perto as dificuldades de expressar idéias que fogem do convencional.


Poucos dias atrás, por exemplo, Ilich conta que uma lista de discussão criada por zapatistas e simpatizantes do movimento foi deletada pelo Yahoo! México. Sem alegar qualquer motivo, a empresa desativou a conta de e-mail do moderador do grupo, criada em fevereiro deste ano. Segundo Ilich, assim como nesse caso, o tipo de censura que existe na rede atua de maneira sutil, às vezes levando o usuário atingido a procurar centrais de atendimento ao consumidor sem nunca ter sucesso.


A situação pode ficar ainda pior, de acordo com o ativista, se for adiante a idéia de acabar com a neutralidade da web. Há um projeto em discussão nos Estados Unidos que permitiria, em linhas gerais, que provedores pudessem bloquear ou limitar o acesso a sites que não fossem seus parceiros. Para contornar isso, as empresas ou os donos de homepages afetadas teriam de pagar um pedágio. ‘Isso deixa muito claro o futuro da internet: uma superestrada da informação ao lado de uma estrada de lama.’


Por essas e outras, Ilich acha que a única saída é lutar. ‘A rede deveria ser um patrimônio da humanidade, não o patrimônio de alguém’, destaca. ‘Nesse sentido, nas ruas das cidades existem espaços públicos, mas o mesmo não ocorre com a internet. Você tem espaços ‘.net’, que são redes, ‘.edu’, que são escolas e universidades, ‘.gov’, que são os governos – mas não há algo que seja neutro. Tudo é propriedade.’


A saída encontrada pelo artista foi criar um servidor (micro ligado à rede que abriga homepages) autônomo, o Possibleworlds.org. ‘Começamos a construir esse computador, que já são vários PCs, e estamos hospedando revistas culturais, escultores, músicos, instituições culturais de gente que diz ‘Ei! Não queremos estar nesses serviços comerciais! Queremos nossa própria internet!’


Também está abrigada ali uma comunidade virtual fechada que contém muitos dos trabalhos de Ilich. Entre as obras há uma telenovela com temática social, a Telenouvelle Vague, que conta o reencontro de dois irmãos separados pelos militares há 30 anos, quando crianças. Outra idéia de Ilich foi o projeto La Actriz Interactiva, um reality show no qual as ações cotidianas de uma atriz eram decididas pelos usuários durante três meses – com a diferença de que os temas giravam em torno de código aberto, transparência, democracia e eleições. Quem quiser ter acesso a esse conteúdo precisa pagar US$ 12 por ano. O servidor recebe cerca de 3.000 visitantes diários.


A iniciativa procura dar apoio à Sexta Declaração da Selva Lacandona, documento divulgado pelos zapatistas em junho de 2005 que faz um balanço do movimento e indica os passos a seguir. Desde dezembro, quando começou a funcionar, o Possibleworlds.org já sofreu uma série de ataques que o tiraram do ar. Nem por isso Ilich pensa em desistir. ‘A luta é conquistar um pedaço de internet onde possamos criar, onde possamos colocar nossas páginas’, diz. ‘Isso, para mim, já é difícil. Se conseguir, ganhamos.’’


Pedro Doria


Internet: tá dominada?


‘Imaginem o seguinte cenário: o sujeito está conversando ao celular na rua, bem próximo de seu apartamento. Atravessa a portaria, pega o elevador, abre a porta de casa – instantaneamente a conversa que vinha tendo passa à linha fixa.


Ele não mudou de aparelho, continua com o mesmo telefone. Aliás, sequer percebeu que houve uma mudança, simplesmente continuou conversando. Mas a infra-estrutura que passou a usar assim que entrou em casa é da telefonia fixa. E a tarifa caiu instantaneamente.


Não se trata de um futuro distante. A tecnologia já existe, e empresas de telecomunicações de todo o mundo estão se preparando para essa transição. A palavra-chave que os marqueteiros usam para esse novo sistema é convergência, e a revista britânica The Economist publicou, na edição da semana passada, uma longa análise desse futuro.


O que muda atende pelo nome IP. É o protocolo que gerencia a internet. Redes se gerenciam de muitas formas, mas o IP é particularmente esperto, por um motivo simples: para ele, não importa o que está sendo transportado.


Se é texto ou foto, se é áudio ou filme, o que importa é se é digital. Acaso possa ser escrito nos uns e zeros da língua dos computadores, o IP quebra aquela série numérica em vários pacotes, põem eles na rede e faz com que cheguem ao destinatário.


Para as telecoms, é um grande negócio converter todas as suas redes para IP. Mandar o sinal de áudio do telefone por IP, o sinal de vídeo da tevê por assinatura via IP, o do celular idem. Se tudo é feito com a mesma tecnologia, e a da internet permite isso, os problemas de botar uma rede para conversar com a outra somem. Porque, hoje, a rede de celular e a de telefones fixos são separadas e só com muita dor de cabeça conversam uma com a outra.


É assim que coisas aparentemente díspares, como a rede sem fio (Wi-Fi) que alimenta com internet o notebook em casa, o fio que liga o telefone à parede e o cabo que traz à tevê programação além dos canais abertos podem vir a se relacionar.


Se todo o aparato de comunicação vira um só cabo ligado a um roteador Wi-Fi, deixa de fazer sentido ter um aparelho telefônico fixo e outro celular. Na rua, usam-se as antenas que já estão lá. Chegando em casa, em vez de usar a infra-estrutura externa, usa-se aquela pela qual já se paga um preço fixo mensal.


Que ninguém se engane: as telefônicas – ou as empresas de tevê a cabo – se dão particularmente bem com isso. Seu custo de manutenção cai violentamente e elas podem competir, no mercado, oferecendo a seus clientes pacotes fechados com celular, telefone fixo, televisão, internet e o que mais for.


Mas interessa ao consumidor? Talvez não. Porque a internet não é apenas o IP. O IP é o mecanismo que permite à internet que exista, mas ela é muito mais do que isso. Ela é anárquica, uma rede que permite a qualquer um plugado consumir e produzir informação ao mesmo tempo. E permite, a todo mundo, que acesse tudo o que está lá.


A cultura das telecoms e das operadoras de cabo é diferente. De anárquica, não tem nada. Querem controle, oferecem um pacote de serviços – ou de programas – e têm o hábito de cobrar a mais por qualquer extra. Quer um jogo de futebol? Pague por ele. Quer, além de falar ao celular, enviar mensagens de texto? Pague.


O perigo é que, nesse processo, aquilo que conhecemos como internet permaneça com uma banda limitada e apenas a programação determinada pelas operadoras fique disponível para rápido acesso. É com esse novo mundo que estúdios de cinema e grandes gravadoras sonham. Uma batalha legal em países como os EUA está em curso e, dependendo de como essa convergência for regulamentada, a anarquia da internet será dominada e uma meia dúzia de empresas gigantes, em todo o mundo, controlarão o acesso ao conteúdo digital. O resto vai lento.


Como tanto o lado tecnológico quanto o legal são complicados, pouca gente está prestando atenção. É como as grandes empresas gostam. Daqui a pouco, quando começarem a vender seus pacotes, dirão que é um grande avanço de comodidade. E, relativamente, será mesmo. O problema é que, se lhes for permitido ditar que tipo de conteúdo trafega mais rápido ou mais devagar em seus fios ou entre suas antenas, elas terão dominado a internet.’


Ricardo Anderaos


Ladrão que rouba ladrão


‘Silo é um pirata da internet. Não é possível saber muita coisa sobre ele além de seu nickname – ou apelido, em inglês. Há tempos ele é monitorado pelas autoridades norte-americanas, que seguem o rastro de suas atividades ilícitas na rede, juntamente com as de milhares de outros hackers. Como muitos de seus colegas, Silo freqüenta vários fóruns onde compra e vende produtos e serviços para quem quer cometer crimes no ciberespaço.


Esses fóruns são verdadeiros supermercados da bandidagem. Neles, por cerca de US$ 25, é possível adquirir um número de cartão de crédito com código de segurança e data de validade. Assim, o criminoso pode fazer suas compras online tranquilamente e debitar tudo no cartão de outro infeliz que, no final do mês, receberá um extrato cheio de despesas que nunca realizou pela rede.


O preço dos produtos vendidos nesses fóruns sobe na proporção direta da dificuldade em obtê-los. Um cartão de seguridade social norte-americano custa cerca de US$ 100. Um programa ‘cavalo de tróia’, desses que invadem o computador de uma vítima e transferem fundos de sua conta bancária para as dos criminosos, vale de US$ 1.000 a US$ 5.000.


Quem quer auxílio para transações ainda mais complexas pode contratar os serviços de um ‘consultor’ que cobra, em média, 8% do valor da transação ilícita por seus serviços.


No último dia 16 de agosto, Silo foi entrar num dos fóruns que freqüenta habitualmente, mas não conseguiu. Um após o outro, tentou entrar em sites como o DarkMarket, TalkCash, ScandinavianCarding e The Vouched, mas todos estavam fora do ar.


Na tarde desse mesmo dia ele recebeu um e-mail enviado por outro hacker, conhecido no submundo da internet como Iceman. Na mensagem, Iceman revelou ter ‘absorvido’ os outros fóruns e consolidado todas as suas informações em um único endereço, intitulado CardersMarket.


Além de fazer propaganda da superioridade técnica de seu fórum, Iceman revelou no e-mail o principal atrativo que estava oferecendo para proteger seus colegas das autoridades norte-americanas: o servidor que roda o CardersMarket está localizado no Iraque. ‘Provavelmente o país politicamente mais distante dos Estados Unidos no mundo de hoje’, completou.


Para realizar sua façanha, Iceman invadiu os bancos de dados dos concorrentes e roubou todas as informações lá cadastradas. Terminado o serviço, apagou os conteúdos dos outros fóruns.


Silo não gostou da atitude de Iceman e manifestou publicamente seu desagrado numa mensagem postada na área aberta do CardersMarket. ‘Como nós podemos acreditar neste fórum e em seu administrador? Ele quebrou a segurança de nossa comunidade, roubou os conteúdos dos outros fóruns e acabou com a pouca confiança que existia entre nós’, afirmou.


Um outro hacker, apelidado de Unknown Killer, enviou uma mensagem alertando seus colegas para que tivessem cuidado com Iceman. ‘Ele pode ser da Polícia’, escreveu Killer. Um porta-voz do FBI, ouvido pelo jornal norte-americano USA Today, descartou essa hipótese. Mas quem pode saber a verdade, afinal?


Projeções do governo norte-americano mostram que cibercriminosos como Silo causam prejuízos de US$ 67,2 bilhões por ano nos EUA. Segundo a ONG Consumer Reports, nos últimos dois anos mais de US$ 8 bilhões foram surrupiados somente de pessoas físicas no país, através de esquemas de fraude pela grande rede.


Mas como os bandidos conseguem dados sobre cartões de crédito e contas bancárias? Na imensa maioria das vezes, não é com complexos conhecimentos de informática, mas sim por meio de e-mails falsos, que aparentam vir de bancos ou do serviço de proteção ao crédito. É a chamada engenharia social. Um nome bacana para o bom e velho trambique.


Por isso, se receber um e-mail do SPC ou de seu banco pedindo para enviar seus dados pela rede, cuidado: você pode ser o próximo produto colocado na prateleira dos supermercados virtuais da bandidagem.’


EUA / MERCADO EDITORIAL
O Estado de S. Paulo


Jornais americanos anunciam cortes


‘Os novos donos de três ex-jornais do império Knight Ridder anunciaram demissões. O San Jose Mercury News planeja cortar 101 pessoas do seu quadro de 1.260 empregados. Houve cortes no Philadelphia Inquirer e no Daily News. Em 2005, a Knight Ridder vendeu 32 jornais para o grupo McClatchy, que abriu mão de 12 títulos, como o Inquirer e o Mercury.’


TELEVISÃO
Keila Jimenez


Terra Nostra estréia na Ásia


‘A Globo está de olho no mercado asiático para a venda de suas produções. A rede, que viu que estrear em um canal da Indonésia por esses dias Terra Nostra, prepara-se agora para o Fórum Asiático de Televisão (ATF), uma das maiores feiras internacionais do setor, que será entre os dia 29 de novembro e 1.º de dezembro em Cingapura. A Globo, que já vendeu um bom pacote de novelas para o canal asiático Televiva Vision 2 no início do ano, quer fechar novas parcerias por lá, uma vez que a concorrência na Europa está cada dia mais acirrada.


entre- linhas


Rolando Boldrin grava edição especial do seu Senhor Brasil, com direito a convidados, hoje, às 20h, na TV Cultura. É um tributo aos seus 70 anos de vida e 48 de carreira.


Manoel Carlos faz questão de divulgar. Segundo levantamento sobre a média de audiência dos primeiros 85 capítulos de novelas das 9 da Globo dos últimos anos, Páginas da Vida lidera o ranking, com 48 pontos de média. Na seqüência, estão Senhora do Destino, com 46, América, 45, Belíssima, 45 e Celebridade, com 42 pontos. Essa conta de dados parciais já foi motivo de discórdia entre autores, não faz muito tempo.’


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Folha de S. Paulo


Segunda-feira, 23 de outubro de 2006


ELEIÇÕES 2006
Malu Delgado e José Alberto Bombig


‘Temas familiares’ na TV preocupam rivais


‘Na véspera do penúltimo debate televisivo da eleição deste ano, as campanhas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de Geraldo Alckmin faziam mistério ontem sobre se pretendem abordar temas que envolvam familiares dos candidatos ao Planalto no encontro de hoje à noite na TV Record.


Reservadamente, as duas campanhas diziam ontem que não pretendiam incluir o tema em suas pautas, mas que iriam preparadas para o revide se o adversário tocar no assunto.


No PSDB, a decisão caberá ao próprio candidato, já que o jornalista Luiz Gonzalez, responsável pela comunicação da campanha, planeja utilizar o debate para questões ‘programáticas’, mas mantendo a alta temperatura no caso dos escândalos de corrupção.


Reportagem da revista ‘Veja’ liga Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, ao lobista Alexandre Paes dos Santos, conhecido como APS, investigado pela Polícia Federal. Parte da coligação PSDB-PFL defende a inclusão desse assunto no debate.


Nesse caso, também seria abordado o negócio da empresa do filho do presidente, a Gamecorp, com a Telemar. A Gamecorp nega que a empresa tenha atuado para ‘influenciar decisões de governo’. O lobista APS diz que não conhecer Lulinha.


Ontem, em entrevista ao programa ‘Roda Viva’, ao ser indagado sobre o fato de sua filha, Sofia, ter trabalhado na loja Daslu, investigada pela PF, o tucano disse que não se incomodava ao abordar temas relativos à família. Do lado petista, se Alckmin insistir em mencionar os negócios de Lulinha, a questão será tratada como ‘caso requentado’. Em um contra-ataque, ele poderia cobrar do tucano explicações sobre a doação de vestidos à Lu Alckmin.


Os temas relativos à família ficaram fora dos debates do segundo turno até agora.


Lula foi aconselhado por aliados a ser mais comedido nas ironias no debate A análise da coordenação de campanha é que Lula abusou do sarcasmo em alguns momentos no SBT, na quinta, o que pode transmitir a idéia de arrogância.’


José Maschio


Governador condena privatizações do PSDB e sinaliza apoio a Lula


‘Candidato à reeleição, o governador licenciado do Paraná, Roberto Requião (PMDB), 65, acenou uma reaproximação, nesta reta final do segundo turno, com o governo Lula, de quem disse ter tido ‘algumas decepções’ e de quem foi crítico nos últimos dois anos. Ele atacou o tucano Geraldo Alckmin, a quem atribuiu um perfil ‘privatista’, e chamou de ‘nazista’ a campanha de seu rival, Osmar Dias (PDT), antigo aliado na política paranaense. Requião disse ser vítima de armações de setores da imprensa do Paraná. Crítico do plantio de soja transgênica, culpou o ‘imediatismo’ de lideranças cooperativistas (que apóiam Osmar Dias) pelo que chama de não-compreensão da dimensão ‘geopolítica’ de sua luta pelo plantio de soja convencional. Leia trechos da entrevista concedida na sexta:


FOLHA – O sr. foi envolvido na história do policial civil Rasera e grampos telefônicos [Délcio Augusto Rasera estava lotado na Casa Civil e foi preso sob acusação de chefiar quadrilha de arapongas]. Houve ainda o pedido da quebra de sigilo telefônico de jornalistas que noticiaram o caso. Como o sr. explica isso?


ROBERTO REQUIÃO – Não tenho qualquer relação com o Rasera. Houve má-fé da ‘Gazeta do Povo’ [jornal paranaense] nessa história. Os repórteres defendem o sigilo da fonte, mas é preciso chegar a essa fonte para se mostrar que houve armação. Não teve pedido de quebra de sigilo de jornalista. Eu não tinha como saber, em campanha, o que os advogados estavam fazendo. Mas essa história de me ligar a grampos é armação.


FOLHA – O sr. entrou na disputa do primeiro turno como virtual eleito, mas haverá segundo turno. O que houve de errado na campanha?


REQUIÃO – Tínhamos só dois minutos e meio de TV. E teve uma campanha da RPC [Rede Paranaense de Comunicação, afiliada da Globo] e ‘Gazeta do Povo’ [do mesmo grupo RPC] contra meu governo. Sem contar que todos batiam no candidato majoritário. Neste segundo turno tudo mudou e estamos firmes de volta à liderança.


FOLHA – O senador Osmar Dias [PDT] afirma que o sr. o procurou seis vezes para pedir que ele não fosse candidato. Isso é verdade?


REQUIÃO – Não é verdade. Osmar estava doente e queria falar comigo. Fui até ele três vezes para conversar. Ele disse que queria ser candidato em 2010 e que me apoiaria agora com a condição de eu não apoiar seu irmão, Alvaro [Dias, reeleito senador pelo PSDB]. Mas até aí eu não sabia de sua megafazenda no Tocantins. Ele disse que tinha uma chácara lá. Ele não conseguiu explicar seu enriquecimento. Temos uma vida parecida, de classe média, e até cargos iguais. Então, como explicar duas fazendas no Paraná e essa megafazenda no Tocantins?


FOLHA – Sobre o modelo agropecuário, o sr. é contra os transgênicos e a favor do MST, e Osmar é favorável ao agronegócio exportador. O sr. concorda com essa tese?


REQUIÃO – Eu não fui eleito pelas multinacionais. É bom frisar que o transgênico é permitido no Brasil. O que existe é uma visão geopolítica. Não podemos permitir que o Brasil seja uma reserva estratégica de ração para gado dos europeus. Se o Brasil só plantar transgênicos, perderá competitividade logística para os EUA. Precisamos ter essa visão da geopolítica mundial. As cooperativas possuem uma visão de curtíssimo prazo e não pensam estrategicamente. Já o MST é um movimento social, e não vou atacar movimentos sociais legítimos.


FOLHA – O sr. ficou em cima do muro no primeiro turno em relação à Presidência. Vai se decidir agora?


REQUIÃO – Eu tive algumas decepções com o governo Lula. Acredito que até o próprio Lula teve. Neste segundo turno, o PT está comigo, e o PMDB do Paraná, com Lula. Meu vice [Orlando Pessutti, do PMDB] sobe no palanque do Lula. Já o Alckmin privatizou linhas de transmissão em São Paulo e não deixou a Copel participar do leilão porque era uma estatal. Vejo isso como uma continuação privatista do que foi o governo FHC. Vejo isso [privatizações] como conseqüência necessária do tipo de coligação que embala o Alckmin. Mas logo irei me definir e anunciar minha posição.


FOLHA – A campanha abalou sua amizade com Osmar Dias?


REQUIÃO – Não dá para negar isso. Meu adversário faz uma campanha nazista, repetindo mil vezes um mentira. E tem a história do seu vice, o Donin. Uma chapa com o Donin como vice não é uma chapa, é formação de quadrilha. E quem diz formação de quadrilha não sou eu, é o Ministério Público.’


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Rede de TV diz que só faz jornalismo


‘O diretor de jornalismo da RPC (Rede Paranaense de Comunicação), Wilson Serra, disse que a emissora faz jornalismo. ‘No episódio dos grampos, quem prendeu o detetive foi a polícia do Estado, quem determinou foi o Ministério Público, e o ‘Diário Oficial’ é que informou que ele era assessor do Palácio Iguaçu. O que fizemos foi noticiar. Nós fazemos jornalismo ouvindo todos os lados.’ Disse que Requião não comenta quando a TV mostra coisas boas de seu governo, mas fica ‘incomodado’ quando as reportagens exibem problemas.


O chefe de Redação do jornal ‘Gazeta do Povo’ (do grupo RPC), Francisco Camargo, afirmou que o jornal não comenta declarações de Requião.’


SP SEM PROPAGANDA
Editorial


Ataque à publicidade


‘PRIMEIRO foram os cigarros que tiveram sua publicidade banida no país. Depois, foi a propaganda de bebidas alcoólicas que caiu na mira das autoridades sanitárias. E, na cidade de São Paulo, foi aprovada há poucas semanas uma lei que, na prática, vai acabar com a chamada mídia externa, isto é outdoors e anúncios indicativos. Agora, chegou a vez das crianças. Congresso, Ministério Público e governo discutem restrições a comerciais voltados ao público infantil.


Um observador desavisado poderia crer que o Brasil vive uma cruzada antipublicitária. Parece mais exato, porém, identificar aí a tentação legiferante -a vontade de resolver todos os problemas a golpes de caneta- que, em maior ou menor grau, acomete todos os ocupantes do poder.


Embora a propaganda esteja envolvida em todos os casos mencionados acima, os produtos em questão são muito diferentes. Faz sentido limitar fortemente a publicidade de tabaco e álcool. Trata-se, afinal, de drogas psicoativas que provocam dependência. Ninguém deveria ser estimulado a ingeri-las.


Além disso, a Constituição, em seu artigo 220, prevê restrições ‘à propaganda comercial de tabaco, bebidas alcoólicas, agrotóxicos, medicamentos e terapias’. Mas produtos que não se enquadrem nessas categorias têm em princípio sua publicidade protegida pelos mesmos dispositivos constitucionais que garantem a liberdade de expressão.


Daí não segue, é claro, que os anunciantes possam tudo ou que prefeituras devam renunciar a regular o uso do espaço urbano.


No caso dos produtos para crianças, a auto-regulamentação parece uma solução mais razoável. As normas para o segmento aprovadas há pouco pelo Conar (Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária) são equilibradas e, ao que tudo indica, serão seguidas. A última coisa que um anunciante deseja é provocar a ira de clientes potenciais.


Uma eventual proscrição da propaganda infantil, nos moldes da que vigora na Suécia, poderia trazer efeitos indesejados. Não é impossível imaginar um cenário em que, premidas pela queda de receitas, emissoras de TV baixassem ainda mais a já discutível qualidade da programação destinada às crianças.


Já no que diz respeito aos outdoors paulistanos, poucos irão discordar de que a poluição visual na cidade se tornou excessiva e de que era necessário tomar providências. Lamentavelmente, porém, a prefeitura preferiu a solução fácil de vedar tudo, para não dar-se ao difícil trabalho de diferenciar as utilizações legítimas das abusivas.


Não se enfrentam mosquitos com tiros de canhão. A proscrição da propaganda parece um remédio adequado para combater o uso de drogas, mas excessivo para lidar com os pequenos abusos cometidos por publicitários sem imaginação e por programadores de mídia mais afoitos. Mensagens publicitárias, com as vantagens e desvantagens que isso traz, tornaram-se parte da civilização ocidental. Essa é uma característica que dificilmente será alterada por leis e decretos.’


JORNALISMO & COSTUMES
Carlos Heitor Cony


Informações e deformações


‘Trabalho em jornal há bastante tempo. Muitos dos cacoetes da profissão absorvi, mas sempre sobram algumas deformações profissionais que não descem pela garganta.


Uma delas -já contei em crônica passada- é a proibição da palavra ‘câncer’: já foi proibida nos jornais brasileiros. Outro cacoete que não desce é a discriminação dos jornais em certos casos policiais. Se um favelado toma umas e outras e esfaqueia a mulher, ou se uma favelada, enlouquecida pelo ciúme ou pela bebedeira do marido, dá um tiro no cujo -o fato é narrado com todos os detalhes: fica-se sabendo quantas amantes o cujo tinha, ou quantas vezes batia na mulher, ou quantas garrafas bebia.


Já o negócio é outro quando o mesmo incidente -trágico, lamentável, mas próprio da condição humana- acontece com o pessoal da sociedade, das finanças, da política ou da classe artística.


Tenho anos na profissão e sei como essas coisas acontecem: pressões de amigos, às vezes de anunciantes e, às vezes, pressão nenhuma, apenas a rotina de excetuar os políticos, empresários e artistas das misérias da condição humana, deixando facadas e tiros para os favelados, os alagados, os humilhados e ofendidos da vida.


Há tempos, um ex-ministro foi esfaqueado pela amante. Os jornais -era tempo de ditadura- apresentaram o fato como se fosse um assalto, o ex-ministro estaria se dirigindo para o carro quando um assaltante surgiu à sua frente e o esfaqueou.


Todo mundo sabia de tudo, e a mentira oficial, através da imprensa, não colou. Acredito que os jornais não precisam mais dessa subserviência ao poder, ao talento, ao dinheiro.’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


O tempo e as reformas


‘Diz o ‘New York Times’ de Larry Rohter que, ‘para aqueles que esperam manter Lula fora de um segundo mandato, o tempo está terminando’. Mas a Reuters avisa, também ontem, que ‘uma semana na política brasileira é um longo tempo’. Rohter até registra que ‘o ‘dossiegate’ se aprofundou’, mas ‘apesar dos fatos recentes Mr. da Silva abriu vantagem’ e será difícil para Alckmin, ‘a menos que haja novo escândalo’.


O ‘Financial Times’ de Jonathan Wheatley já olha para a frente e diz que a ‘perspectiva de uma grande vitória de Lula levanta temores sobre as reformas’. Avalia que, ‘agindo aparentemente aconselhado por figuras de esquerdas que seriam proeminentes num segundo governo’, Lula ataca privatizações e cortes de gastos -o que tornaria, ‘na visão dos ortodoxos, reformas muito necessárias ainda menos prováveis’.


MARTA LÁ


Enquanto o jornal ‘Perfil’ trazia a enésima entrevista argentina de FHC, ontem, o ‘Página/12’ entrevistava Marta Suplicy, com ataques a Alckmin, ‘um provinciano sem visão do mundo’ etc.


O mais significativo veio com a última resposta, sobre suas ‘aspirações’ futuras: ‘Eu diria que 2010 está fora das minhas preocupações atuais’.


OUTROS DOSSIÊS


O site Terra Magazine, no final da semana, destacou que a revista ‘Panorama’ acaba de noticiar que o ministro Márcio Thomaz Bastos ‘foi espionado’ no ano passado.


A ação teria sido conduzida ‘pelo ex-chefe de segurança da Telecom Italia, com a ajuda de um agente da PF de Goiás’ -e ‘o dossiê estaria agora na procuradoria de Milão’.


DE SÃO PAULO


Registra o blog Ponte Aérea/ SP, no site Nomínimo, que ‘um adesivo com uma mão espalmada em uma placa de ‘proibido’ é o hit do segundo turno em São Paulo’, entre os ‘eleitores tucanos’, nas ruas. Só quatro dedos, ‘a mão sem o mindinho, entenderam?’


DO BRASIILL!!


Galvão Bueno e seu patriotismo estão de volta. Na transmissão da corrida de ontem, e depois no ‘Domingão do Faustão’ e no ‘Fantástico’, muito verde-e-amarelo:


– Felipe, Felipe, Felipe, Felipe Massa do Brasiill!!


Antes, abrindo as manchetes do ‘Jornal Nacional’ de sábado, na escalada sem qualquer menção às eleições, ‘Nem Alonso nem Schumacher, é o Brasil que vai sair na frente: Felipe Massa voa na pista e vibra com a torcida’.


Na transmissão, ontem, fundo musical para Massa como para Senna


A GANGUE


Antes da corrida, nos despachos nos sites de jornais do exterior, destaque para ‘emboscada de homens armados’, ou ainda, ‘a gangue de 20 jovens’ que cercou uma equipe de Fórmula 1, no sábado. No dizer da assessoria da equipe às agências, ‘nada fora do normal em São Paulo, cidade com uma das maiores taxas de crime na América do Sul’.


VIRAL E…


No ‘NYT’,num texto sobre um jovem que fez ‘currículo em vídeo’ para o mercado de capitais e caiu no YouTube, a avaliação de que ‘Operadores são especialmente rápidos em apertar o botão ‘enviar’.


Que o diga a ‘boataria’ de quinta e sexta no Brasil, que se revelou vazia no sábado.


… O MERCADO


O ‘NYT’ dá como exemplo maior das ações virais no mercado que ‘no mês passado um vídeo comprometedor de um banqueiro da Merrill Lynch e sua acompanhante na praia deixou os operadores do Brasil grudados nas telas de computador’. É o vídeo de Daniela Cicarelli, aquele.’


TELEVISÃO
Daniel Castro


Ministério faz mutirão para liberar TV e FM


‘O Ministério das Comunicações está fazendo um mutirão para agilizar processos de distribuição de canais de rádio e televisão, alguns deles pendentes há quase dez anos. A iniciativa foi muito bem recebida por donos de rádios e TVs, principais beneficiários dela.


Desde agosto, todos os funcionários da Secretaria de Comunicação Eletrônica e da consultoria jurídica têm trabalhado até em finais de semana na análise de processos parados.


Até a semana passada, o mutirão já tinha desobstruído cerca de 500 processos, um número recorde. Foram encaminhadas 218 concorrências de rádio AM e FM e três de TV, além da abertura de 67 consultas públicas para novos canais retransmissores, 22 autorizações para operação de retransmissoras de TV e 30 outorgas de FMs.


‘Estamos fazendo um esforço concentrado’, afirma Marcelo Bechara, chefe da consultoria jurídica. Segundo ele, o ministério está ‘travado’ e ‘sobrecarregado’ desde 2002, quando foram extintas as delegacias regionais do órgão. De uma só vez, diz Bechara, o ministério recebeu cerca de 40 mil processos.


‘Tem licitação que ainda nem abrimos os envelopes com as propostas. Concorrências iniciadas em 1997 ainda não foram resolvidas. É por isso que não abrimos concorrências para novas emissoras. É imoral fazer isso sem resolver o que está parado aqui dentro’, afirma.


CULTURA FEDERALO Ministério das Comunicações concedeu na última sexta à TV Cultura um canal retransmissor em Brasília, conseqüência do mutirão para liberar concessões. Em alguns meses, a emissora pública paulista terá seu próprio sinal no DF.


OBRIGADO, MINISTRA 1O agradecimento que Silvio Santos fez à ministra Dilma Rousseff, nos bastidores do debate do SBT na última quinta, oficialmente não teve nada a ver com algum favor prestado pela chefe da Casa Civil.


OBRIGADO, MINISTRA 2Segundo a assessoria de Silvio Santos, o empresário agradeceu à ministra apenas por ela ter demonstrado muito interesse em conhecer o SBT, que visitou em junho, e por ter se declarado fã dele.


FALSA ASSEPSIA 1É da MTV um intrigante anúncio publicado na Ilustrada, quinta-feira, com apenas um homem de branco e atribuído ao fictício Instituto Purifica.


FALSA ASSEPSIA 2O anúncio faz parte de uma brincadeira da emissora, que terá a participação do telespectador. O jogo começou no último dia 2, quando a MTV foi ‘invadida’ por um vírus que passou a disparar comerciais do Instituto Purifica.


FALSA ASSEPSIA 3O Purifica ‘recruta’ pessoas para lutarem pelo ‘bem-estar comum absoluto’, mas quer mesmo é controlar suas mentes. Em breve, aparecerá um novo personagem, Prestes, que dará dicas à audiência da MTV para combater o Purifica. O jogo termina em dezembro.’


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