MÍDIA & POLÍTICA
Cobertura de dossiê fez Lula criar TV pública
‘A cobertura da Rede Globo sobre o dossiegate na reta final do primeiro turno
da eleição de 2006 foi o fator determinante para que o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva decidisse priorizar no segundo mandato a criação de uma rede
pública de TV. O projeto sairá do papel nesta semana por meio de medida
provisória. Pesou ainda a abordagem que a Globo deu à sua ausência no debate dos
candidatos à Presidência na primeira fase da eleição.
Segundo a Folha apurou, Lula avalia que a Globo fez cobertura desequilibrada
desses dois episódios. Na época, Lula comentou com ministros que um governo não
poderia ficar ‘na mão da Globo’, enfrentando o poder de fogo de uma rede que
domina o mercado.
Então, disse em reunião com seus principais auxiliares e o marqueteiro da
campanha, João Santana, que tocaria adiante a criação da rede pública de TV,
projeto que à época andava em banho-maria.
Procurada pela Folha, a Central Globo de Comunicação respondeu ontem: ‘As
boas normas de jornalismo recomendam tanto a não-publicação de críticas em off
[nas quais as fontes não se identificam] quanto o comentário sobre críticas em
off’. Durante a eleição de 2006, a Globo defendeu ter praticado uma cobertura
apartidária e isenta. Diretores da TV rebateram críticas de suposta falta de
equilíbrio apontadas pelo PT e integrantes do governo federal.
No caso do dossiegate, disseram que toda a imprensa deu o destaque
jornalístico que mereciam as fotos do R$ 1,7 milhão usados por petistas para
comprar o dossiê antitucanos.
Uma semana antes do primeiro turno da eleição, Lula faltou ao debate que a
Globo organizou entre os principais presidenciáveis. Compareceram Geraldo
Alckmin (PSDB), Heloísa Helena (PSOL) e Cristovam Buarque (PDT).
Lula disse a auxiliares que se sentiu pressionado pela Globo a comparecer ao
debate de um modo mais forte que o usual. Ele crê que a sua ausência levou a
Globo a retaliá-lo com uma cobertura mais negativa do dossiegate.
Na visão de Lula, a repercussão do dossiegate que aparecia em toda a imprensa
dera início a uma sangria de votos, mas a cobertura do ‘Jornal Nacional’ na reta
final do primeiro turno potencializou essa perda de cacife e levou a disputa
para uma segunda fase contra Alckmin.
Quando convidou o jornalista Franklin Martins neste ano para ministro da
Secretaria de Comunicação Social, Lula disse que desejava priorizar a criação de
rede pública e tirou essas atribuições do ministro Luiz Dulci (Secretaria
Geral).
Franklin, ex-Globo, se disse entusiasmado, mas afirmou que a idéia morreria
se fosse carimbada como ‘canal chapa-branca’. Desde então, Lula e Franklin
adotaram um discurso de que a rede teria independência em relação ao
governo.
Equipe
No formato que constará da medida provisória, há um conselho curador que terá
poder de derrubar a diretoria executiva ou um diretor específico por voto de
desconfiança. Essa diretoria será indicada por Lula. Os conselheiros, também
indicados pelo governo, terão mandato de quatro anos.
Para a rede, o Planalto procurou profissionais do mercado com boa relação não
só com o governo, mas com partidos de oposição: Tereza Cruvinel (presidente) e
Helena Chagas (direção de jornalismo).
Também pediu ajuda a um dos criadores do chamado ‘padrão Globo de qualidade’,
José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni. Foi ele quem levou a Lula números
sobre custos de televisão. Explicou que uma operação anual como a da Globo
somaria cerca de R$ 5 bilhões e avaliou que um patamar para a rede pública
começar seria uma estrutura semelhante à da Rede Bandeirantes (R$ 350 milhões
por ano). Essa é a quantia prevista no Orçamento de 2008 para a rede pública,
que não prevê publicidade. Neste ano, a Radiobrás e a TVE, canais federais, têm
orçamento de R$ 220 milhões.
O governo sabe que a rede dificilmente terá o peso que a BBC tem no Reino
Unido, pois não competirá com a Globo e outros canais em termos de audiência.
Mas avalia que, se o projeto der certo, poderá ser uma espécie de contraponto à
grande mídia, no qual aparecerão com destaque temas que esses canais não
abordariam.’
***
Caso dossiê estourou a 15 dias do 1º turno
‘Para o presidente Lula, a cobertura do dossiegate levou a disputa com
Geraldo Alckmin (PSDB) para o segundo turno. Pesquisa Datafolha divulgada em 27
de setembro mostrou que a dianteira do petista em relação à soma dos adversários
não garantia mais com segurança uma vitória no primeiro turno. Em cinco dias, a
vantagem de Lula caíra de 8 para 5 pontos percentuais em relação à soma dos
adversários -o petista tinha, então, 49% das intenções de voto contra 44% dos
adversários.
O dossiegate, caso que explodira em 15 de setembro, minava politicamente o
presidente.’
TECNOLOGIA & PRIVACIDADE
O Big Brother de Serra e Kassab
‘O GOVERNADOR de São Paulo, José Serra, e o prefeito da capital, Gilberto
Kassab, anunciaram que, a partir de maio do próximo ano, os 6 milhões de de
carros que rodam na cidade serão obrigados a carregar chips, encurralando
motoristas caloteiros que não pagam taxas, seguro nem multas. São Paulo tem
cerca de 1,7 milhão de carros nessa situação. Com 2.500 antenas, numa operação
que deve custar uns R$ 300 milhões, será possível tirar centenas de milhares de
veículos das ruas, descongestionando a cidade. Regularizando-se a metade dessa
frota delinqüente, fatura-se algo como R$ 900 milhões. De quebra, as infrações
serão melhor fiscalizadas.
Os doutores garantem que isso não tem nada a ver com novos pedágios,
reconhecem que os chips permitirão o mapeamento de todos os percursos de um
motorista, mas juram que os dados ficarão protegidos pela confidencialidade.
Acredite quem quiser. Durante o tucanato, as declarações de Imposto de Renda do
exercício de 1995 foram parar nas barracas de camelôs.
O projeto não tem similar no mundo. Mais: onde há chip há também um novo
pedágio embutido. Em Londres, Estocolmo e Cingapura eles permitem a cobrança de
taxas em áreas de trânsito sobrecarregado. O uso voluntário desse equipamento
está disseminado em centenas de estradas, inclusive em rodovias privadas
brasileiras. O que há de novo é obrigatoriedade.
A imposição dos chips para toda a área de uma cidade como São Paulo, é um
jaboticabão. Pior: uma decisão insana do Conselho Nacional de Trânsito manda que
até 2011 eles sejam colocados em todos os carros de Pindorama, inclusive nos de
Uiramutã (Roraima), no extremo norte do país, onde vivem 4,6 mil pessoas, com
uma frota de dez carros. Para os fornecedores, isso significará, por baixo, uma
encomenda de R$ 2 bilhões.
Pensa-se em fazer em todo o Brasil algo que só vai acontecer no protetorado
das Bermudas, com 53 km2 de área, 66 mil habitantes e 25 mil veículos. A cidade
de São Paulo tem 1,5 mil km2 e 11 milhões de vítimas.
Serra e Kassab podem estar convencidos de que os chips não provocarão o
aparecimento de pedágios inteligentes. (Por exemplo: uma taxa de R$ 1 para quem
entrar nas áreas congestionadas, cobrada eletronicamente.) Ou acham que falta
inteligência à escumalha, ou ela falta a eles, até porque faz pouco sentido
mutilar o pleno uso da tecnologia. É melhor fazer uma coisa dessas às claras. Em
Estocolmo, o chip foi aceito num referendo.
Há um cheiro de eugenia viária na busca da redução da frota delinqüente de
carros mambembes. Será que os doutores acreditam ser possível sumir com 1 milhão
de veículos com a mesma naturalidade com que contratam a compra de R$ 300
milhões em equipamentos?
Calculando-se que 700 mil donos de carros corram atrás da regularização e que
os demais atendam duas pessoas cada um, Serra e Kassab tiveram uma grande idéia:
deixar 2 milhões de bípedes sem aquele carro velho, barulhento e com os papéis
fora de ordem. Cada um desses transgressores deixa de pagar algo como R$ 1.000
por ano. Em alguns casos, o carro vale menos que isso.
Nada contra puni-los, mas isso não pode ser feito maciçamente, em alguns
meses. (No Rio, mais da metade dos 2 milhões de carros que rodam na cidade estão
fora dos conformes.)
Os chips já se mostraram eficientes em diversos serviços. Começar impondo-os
à malha de uma cidade do tamanho de São Paulo é uma temeridade. Sem discussão, é
prepotência. Como ensinava o professor Mário Henrique Simonsen, ‘o problema mais
difícil do mundo, bem enunciado, um dia será resolvido, mas se o problema mais
fácil do universo for mal enunciado, jamais será resolvido’.’
INTERNET
Com YouTube e anúncios, ações do Google poderão valer US$ 700
‘DA BLOOMBERG – As ações do Google Inc. alcançarão US$ 700 até o final de
2008, num momento em que a empresa atrai um número maior de usuários para seu
site de compartilhamento de vídeos YouTube e empresas de todo o mundo transferem
seus gastos publicitários para a internet, diz o Bear Stearns & Co.
O número de visitantes americanos do YouTube poderá quase triplicar, passando
a 83 milhões, até 2012, quando mais de um terço dos internautas assistirão
vídeos no site, escreveu na sexta o analista Robert Peck em nota enviada a
clientes.
Os anúncios em formato de banner e vídeo farão a receita publicitária do
setor crescer quase nove vezes, para US$ 277 milhões em 2012, a partir dos US$
30,6 milhões de 2007.
Peck é o segundo analista a atribuir estimativa de cotação de US$ 700 para as
ações do Google, proprietário da ferramenta de busca mais popular da internet. A
receita líquida registrada pelas vendas da empresa, sediada em Mountain View,
Califórnia, poderá quase dobrar, para US$ 19,3 bilhões até 2009, num momento em
que o site tenta se defender da concorrência representada pelo Yahoo! Inc. e
pela Microsoft Corp., escreveu Peck, que trabalha em Nova York.
Peck, o terceiro melhor analista do ranking de internet da revista
‘Institutional Investor’ em 2006, também elevou de US$ 550 para US$ 625 sua
previsão para o preço dos papéis do Google no final deste ano. Ele atribui
classificação ‘desempenho superior à média de mercado’ às ações da empresa.
As ações do Google -que em 2004, na oferta pública inicial do site, custavam
US$ 85- recuaram US$ 4,99 na quinta, para US$ 579,03 na Nasdaq. Os papéis
subiram 26% neste ano.’
EUA / MÍDIA & POLÍTICA
Torres fêmeas
‘As fotos assustadoras e dilacerantes de setembro de 2001 expostas na New
York Historical Society estão suspensas por clipes em fileiras organizadas, como
roupas penduradas num varal.
Entre elas há uma imagem em preto-e-branco de uma figura de cartolina, em
tamanho natural, do ator John Wayne em sua época áurea, com um cartaz pendurado
de seu pescoço dizendo: ‘Este não é momento para caubóis’. ‘Essa poderia ser a
capa de meu livro’, disse Susan Faludi.
Ela estava visitando a mostra organizada pela Historical Society de fotos e
artefatos dos ataques ao World Trade Center e falando de seu livro ‘The Terror
Dream – Fear and Fantasy in Post-9/11 America’ [O Sonho do Terror – Medo e
Fantasia na América pós-11 de Setembro, Metropolitan Books, 368 págs., US$ 26,
R$ 47].
Jornalista premiada com o Prêmio Pulitzer e autora de dois livros anteriores,
Faludi ficou perplexa com as seqüelas culturais daquele dia. O que encontrou,
diz ela, foi um forte ressurgimento de papéis sexuais tradicionais e a
glorificação da virilidade do homem forte, conforme é personificado por John
Wayne, o arquissalvador de mocinhas virtuosas, mas desamparadas.
Retrocesso
O pensamento pré-feminista estava por toda parte, disse ela.
Na mídia, onde mulheres comentaristas de repente se tornaram escassas após o
11 de Setembro, e onde começaram a surgir artigos enganosos sobre tendências,
falando de mulheres cuidando da casa e fazendo comida; em retratos feitos dos
heróis daquele dia como sendo homens e das vítimas como mulheres; e em filmes
como ‘Guerra dos Mundos’, de 2005, disse ela, em que Tom Cruise é ‘um pai
divorciado e fracassado que é emasculado por sua mulher e reconquista sua
virilidade ao salvar a filhinha deles’.
No final desse filme, o personagem de Cruise aninha a filha nos braços, num
eco da cena final do clássico de 1956 de John Wayne, ‘Rastros de Ódio’, quando
carrega para casa sua sobrinha, que tinha sido capturada por índios anos antes.
‘É algum tipo de fixação bizarra e estranhamente fora de proporção’, disse
Faludi, ‘uma exaltação da masculinidade americana numa crise intergaláctica’.
Desprezo
Quem não se adequou a essa versão dos fatos -como mulheres que ajudaram no
resgate em 11 de setembro de 2001 e viúvas que se recusaram a permanecer
obedientemente prostradas pela dor ou, então, que questionaram as falhas da
inteligência-, acrescentou, foi tratado com desprezo.
A visão que Faludi apresenta dos fatos pode parecer constituir-se numa
seqüência de seu best-seller de 1992, ‘Backlash -O Contra-Ataque na Guerra Não
Declarada às Mulheres’ [ed. Rocco].
Mas Faludi vai além. Ela situa o conservadorismo pós-11 de Setembro dentro de
uma tradição de 300 anos de ‘reengenharia cultural’, na qual a falha humilhante
dos pioneiros desbravadores do Velho Oeste em proteger suas mulheres e seus
filhos dos ataques de índios passou por uma revisão, para dar lugar a retratos
de ‘coragem férrea por parte dos homens brancos e desamparo vestido de crinolina
da parte das mulheres brancas’, como escreveu em ensaio no ‘New York Times’ em
setembro.
Mas será que é possível retroceder até a época colonial dos EUA para explicar
um fenômeno do século 21? Afinal, a narrativa clássica do bravo caubói -samurai,
cavaleiro, príncipe, soldado, camponês, repórter de fala mansa, piloto de nave
espacial, hobbit- que resgata mulheres e crianças em perigo é um dos
ingredientes básicos das culturas de todo o mundo.
E a vergonha da derrota e da invasão figurou com muito mais destaque na
história de muitos outros países que na dos EUA.
Novo Mundo
Faludi disse que cada cultura ‘molda seus mitos próprios de maneira
específica, baseada em seus próprios dramas históricos’. Outros países ‘têm uma
tradição secular de costumes, rituais e um senso de identidade profundamente
arraigado’.
‘É diferente para nós, porque somos uma nação tão jovem’, acrescentou. Não
importa que os EUA tenham sido, de modo geral, imunes a ataques lançados contra
seu solo: ‘A vulnerabilidade dos pioneiros que desbravaram os EUA é nosso
‘trauma fundador’.
Essa abordagem psicológica sem dúvida encontrará ouvintes céticos.
John Demos, historiador de Yale cujo trabalho sobre a história americana é
citado em ‘O Sonho do Terror’, disse que considera Faludi ‘uma pensadora muito
poderosa’, mas ponderou: ‘Tenho dúvidas quanto à noção toda de uma psique
nacional que nutre traumas inconscientes profundos ao longo de séculos’.
Baseando seus comentários no ensaio de Faludi, Demos disse que a maneira como
as histórias sobre o Velho Oeste foram mudando ao longo do tempo ‘faz parte de
um movimento muito mais amplo para modificar estereótipos e papéis baseados no
gênero’.
Faludi, que vive em San Francisco, disse que inicialmente não tinha a
intenção de escrever sobre o 11 de Setembro. Em questão de horas, um repórter de
jornal telefonou para lhe perguntar qual era sua opinião sobre o efeito que os
ataques teriam sobre ‘nossa tessitura social’, antes de acrescentar, ‘em tom
bizarramente satisfeito’, segundo Faludi: ‘Uma coisa é certa: isto daqui vai
varrer o feminismo do mapa!’.
Reações diferentes
Mesmo assim, foi apenas em julho de 2005 que ela decidiu escrever ‘O Sonho do
Terror’.
Ela estava fazendo um discurso em Estocolmo quando terroristas detonaram
bombas no metrô de Londres. Depois de ler os jornais britânicos, disse Faludi,
‘o que realmente chamou minha atenção foi como as reações foram diferentes’.
‘Um fato criminoso foi tratado como fato criminoso’, explicou. A mídia
britânica não ‘entrou em surto, dizendo que isso era um referendo sobre a
política sexual britânica’.
Quando se deu conta de que ninguém mais estava escrevendo sobre esse tema,
decidiu fazê-lo ela mesma.
Quando Faludi caminhou pelos corredores de mármore da Historical Society,
passou por relíquias do desabamento das torres: a porta de um caminhão de
bombeiros, um pedaço de metal retorcido.
Kathleen Hulser, historiadora pública do museu, disse que a exposição não tem
textos que a acompanhem porque ‘realmente não havia um ponto de vista único’. O
que é incomum nessa exposição, disse, é que ‘se trata de um ponto de encontro
entre o objeto e a pessoa que o vê’.
Juntando pedaços
Faludi parou ao lado de um fragmento de trem de pouso de um dos aviões.
‘Temos pedaços, mas não temos história’, disse ela. ‘É como os objetos
apresentados por um advogado como provas, mas sem a explicação que os
acompanha.’
Nesse ponto, falou, a mostra espelha a situação do imediato pós-11 de
Setembro.
Mas então o governo de George W. Bush, auxiliado pela mídia e outros setores,
apresentou uma narrativa pronta que sufocou as experiências reais das pessoas.
A linguagem também foi cooptada, disse Faludi, mencionando que sobreviventes
e trabalhadores chamavam o local da tragédia de ‘the pile’ [a pilha], enquanto a
mídia recorreu ao jargão militar para rebatizá-lo de ‘ponto zero’. ‘As reações
emocionais pessoais são canalizadas e atreladas numa construção mitológica’,
disse ela, e às pessoas é dito: ‘É isto que vocês devem sentir’. Para Susan
Faludi, a história oficial, a narrativa pré-fabricada, está desabando em razão
de revelações de falhas do governo e do apoio cada vez menor à Guerra do Iraque.
Ela quer oferecer um comentário alternativo. Um dos curadores da exposição na
Historical Society, disse ela, traçou uma distinção entre os artefatos expostos
e arte: ‘Arte é um processo de dar um passo para trás e ver o que aquilo
significa.
É isso o que estou tentando fazer neste livro: tentando identificar o
significado’.
Este texto saiu no ‘New York Times’. Tradução de Clara Allain .’
TELEVISÃO
Globo venderá roupas, móveis e até carros de ‘Duas Caras’
‘A Globo resolveu ganhar dinheiro com as roupas que os artistas usam nas
novelas, motivo de milhares de ligações de telespectadores para a emissora,
curiosos em saber quais são as grifes e onde encontrá-las.
O departamento comercial da rede está negociando parcerias com fabricantes de
roupas, móveis, objetos de decoração e até carros. As empresas que pagarem terão
seus produtos usados pelas estrelas de ‘Duas Caras’, a nova novela das oito.
Poderá, por exemplo, ser um sofá servindo de assento para um chá com Suzana
Vieira, um vestido de estampas coloridas no corpo da perua cheia de caras e
bocas vivida por Letícia Spiller e -por que não?- a cueca de Oscar Magrini.
Por enquanto, nenhum acordo foi fechado. Quando o primeiro deles for
concretizado, a Globo abrirá na internet um ‘Shopping Ambiente’ de ‘Duas Caras’.
Lá, o telespectador passará o mouse do computador sobre imagens de cenas. Se
algum produto tiver parceria com a emissora, o site da Globo encaminhará o
telespectador para a página do fabricante, onde ele poderá comprar a peça, sem
sair de casa.
O próximo programa da Globo a ter um ‘Shopping Ambiente’ será ‘Big Brother
Brasil 8’, que venderá edredons e utensílios de cozinha e decoração.
No futuro, com a TV digital, a Globo quer fazer esso tipo de transação
comercial diretamente pelo televisor.
MULHERES (IM)POSSÍVEIS
A atriz Ingrid Guimarães, 34, vai virar apresentadora. Estréia no próximo dia
27, no canal pago GNT, à frente do ‘Mulheres Possíveis’. O programa mostrará
famosas em situações comuns (tipo fazendo compras na feira) e mulheres anônimas
em atitudes glamourosas. ‘As pessoas acham que nós tomamos banho de espuma, mas
às vezes fazemos xixi em copo de plástico dentro da van’, afirma. ‘Nossa vida é
muito mais normal, e a de pessoas anônimas, muito mais glamourosa’, atesta. Ela
já gravou com Luana Piovani, Maria Rita e Irene Ravache, entre outras.
Frase
Tive a idéia do programa quando vi minha empregada indo embora de salto alto,
batom e brilho. Eu perguntei aonde ela ia, e ela falou que ia pegar dois ônibus
e uma barca pra chegar em casa. Eu pensei: essa mulher é muito mais glamourosa
do que eu
INGRID GUIMARÃES
atriz
TRAÇO NEWS
Novo canal de notícias da Record, a Record News tem sido mais comentada do
que vista. Sua audiência diária na Grande São Paulo tem oscilado entre 0,1 e 0,2
ponto -ou seja, dá ‘traço’. Mas, em alguns momentos, principalmente de manhã,
chega a empatar com a Band e até ultrapassar a Rede TV!.
VIAGEM
Lembra do advogado Anselmo Martini, vencedor da terceira edição de ‘O
Aprendiz’? Pois é, seu contrato com a empresa que o contratou em Nova York
venceu. Agora, ele vai tentar carreira em Hollywood. Seu primeiro projeto é
justamente filmar sua viagem de Nova York a Los Angeles, de carro.
SISTEMA ABERTO
Estrelada por Selton Mello (foto), ‘O Sistema’, série que a Globo estréia em
novembro, terá uma inovação: cerca de 40% das falas serão produzidas pelos
próprios atores durante as gravações, e não pelos roteiristas. Os atores
seguirão um roteiro, que determinará detalhadamente as situações em que se
encontram seus personagens. Dentro desse esquema, improvisarão seus textos, que
o diretor do programa, José Lavigne, aprovará ou não. Segundo o roteirista
Alexandre Machado, o objetivo não é dar mais naturalidade, mas ‘buscar a
verdade’. A Globo já experimentou o improviso em ‘Os Normais’ e ‘Os Aspones’,
mas não ultrapassava 10% do texto. Em ‘O Sistema’, Selton Mello será um
fonoaudiólogo que, após brigar com uma operadora de telemarketing, vira vítima
do ‘sistema’ e perde todos os seus registros bancários.
CROSS SHOW
Luciano Huck vai participar de ‘Duas Caras’. É que Lucimar (Cristina Galvão),
personagem que ainda não apareceu na novela, terá o sonho de reformar sua casa,
na favela da Portelinha. Mais para a frente, ela escreverá para o ‘Caldeirão do
Huck’ e será selecionada para participar do quadro ‘Lar, Doce Lar’, ganhando a
tão sonhada reforma no barraco. A Globo já procura anunciantes interessados em
fazer merchandising com a história.
Pergunta indiscreta
FOLHA – No ‘Mais Você’ de segunda, você disse a Wagner Moura que ele cativa
mesmo quando faz um personagem cruel, como em ‘Tropa de Elite’. Você viu cópia
pirata do filme ou foi disfarçada ao Festival do Rio?
ANA MARIA BRAGA (apresentadora) -Juuuuuuuuuuura que era pirata? Um amigo foi
almoçar lá em casa num domingo, levou o filme e nós assistimos. Imaginei que era
de locadora, que já estava disponível em DVD. Bem, o filme é incrível e prometo
que vou ao cinema para conferir, sem disfarce nenhum.’
Bia Abramo
‘Duas Caras’ aposta no conservadorismo
‘O QUE esperar de ‘Duas Caras’? A julgar pelos primeiros capítulos, o que é
certamente prematuro, uma narrativa oscilante do modelo ‘mexicano’ de melodrama
televisivo e uma representação fabular de certas questões contemporâneas.
Há o vilão cínico que vai tentar arruinar a vida e fortuna da mocinha; o
destino, entretanto, vai se encarregar de preparar uma viravolta em que eles se
confrontem novamente. Haverá amores impedidos pela convenções sociais -ele,
preto e pobre; ela, rica e branca-; o casal lutará contra tudo e todos para
realizar esse amor. Há duas mulheres rivais: dividirão o mesmo homem, uma como
mulher legítima e outra como amante; quando ele morre, aparece um outro que
também disputarão.
O microcosmo dessas desventuras amorosas e existenciais é, desta vez, a Barra
da Tijuca, entre os condomínios de luxo, onde a burguesia se atira avidamente
aos novos negócios do mundo contemporâneo (empreendimentos mobiliários
fantásticos para os ricos, ensino superior privado), e a favela fictícia da
Portelinha, em Jacarepaguá, de onde virão os pobres, porém honestos, para brigar
por um naco que seja do mundo dos ricos.
Ou seja, nada mais, nada menos do que se tornou o padrão da telenovela -é
esse o formato que historicamente se fixou e, até pouco tempo atrás, não via
concorrência. Mas agora, de cinco anos para cá, não apenas há como ela vem de
origens e nas formas as mais diversas.
Então, a cada novela que se inicia, para fazer frente aos números que
declinam, inventam-se aqui e ali bossas diferentes, ornamentos sobre o trilho já
gasto por onde passa o trem da história. No caso de ‘Duas Caras’, parece que se
aposta simultaneamente em duas frentes.
A primeira delas é a textura programaticamente retrógrada dos imbróglios
amorosos, que se movem por oposições bastante convencionais: ingenuidade
feminina X cinismo masculino, a legítima X a outra, a liberdade de escolha X a
autoridade da família. É como se a novela prometesse, assim, o retorno a um
mundo mais simplificado e fácil.
Depois, há a tentativa de recuperar uma ‘favela dos meus amores’, em
contraposição à representação mais violenta que aparece no filme ‘Cidade de
Deus’ ou na novela ‘Vidas Opostas’. A favela fictícia de ‘Duas Caras’ terá lá
seus pobres e seu abandono das instituições, mas será um lugar relativamente
apaziguado.
Por ora, tudo indica que a novela vai preferir o caminho, que parece mais
seguro, do conservadorismo. Mas se a questão for recuperar a audiência que
desligou a TV, talvez seja a coisa mais arriscada a fazer.’
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