Publica-se muita coisa, especula-se muito e também se chuta exageradamente em tudo que se refere à convergência entre a tecnologia da informação e as telecomunicações. No meio desse debate feroz, o destino da imprensa escrita é uma das questões que mais provocam polêmica. Há os que já condenaram à extinção a imprensa tradicional e os que vêem sinais de vitalidade em cada novo blog que se agrega ao site de um jornal ou revista. Enquanto isso, o mundo persegue velozmente a equação que deve colocar a maior quantidade possível de informação no menor dispositivo eletrônico, e fazer a transferência de dados realizar-se em tempo imperceptível e sem a necessidade de fios.
Para quem já utiliza os mais avançados aparelhos de telefonia móvel para acessar os serviços de terceira geração no Brasil, as falhas constantes nas operações mais simples, de mera conversação, fazem parecer que tudo não passa de fantasia. Afinal, com as operadoras ocupadas em expandir suas redes, em função do novo cenário de competitividade, a qualidade da comunicação caiu sensivelmente, e muitos usuários não conseguem fazer seu celular funcionar minimamente dentro de suas casas. No entanto, o fato é que, mesmo com todas essas falhas, a tecnologia continua sendo aperfeiçoada com tamanha rapidez, que as empresas mal têm tempo de absorver uma novidade e já se apresenta outra logo adiante.
Nos momentos como este, em que uma nova tecnologia provoca mudanças de hábito em grande número de pessoas ao mesmo tempo – as chamadas tecnologias de ruptura –, os setores mais conservadores tendem a perder espaço. O setor financeiro brasileiro, que se consolidou nos últimos anos e se apresenta com alta competitividade no mercado internacional, soube aproveitar o surgimento das tecnologias de automação e reduziu brutalmente seus custos, aumentando a margem média de lucros nos últimos dez anos. Os bancos aproveitaram e diminuíram postos de trabalho, transformaram as agências em balcões impessoais e passaram a estimular o relacionamento à distância.
Quinto mercado
As empresas tradicionais de comunicação também cortaram custos e empregos, mas agiram de maneira oposta. Assumiram a tecnologia da informação com abordagens conservadoras, descartando a oportunidade de reinventar seus negócios. Simplesmente transplantaram para a tela o mesmo desenho e a mesma estrutura de texto usados no papel.
Como resultado, o que se observa atualmente, passados quase 15 anos do desenvolvimento das primeiras webpages, é que os sites de jornais ainda repetem os mesmos vícios de 1995, enquanto empresas de outros setores constroem plataformas flexíveis que tanto podem ser acessadas por computadores como por telefones celulares, painéis de rua e outros aparelhos.
A mídia continuou presa ao modelo associado à indústria gráfica, enquanto outros protagonistas descobriram que podem se comunicar diretamente com seus públicos. No Brasil, as publicações de empresas e de outras instituições, que procuram se comunicar diretamente com seus públicos sem a mediação da imprensa tradicional, despertam o interesse de pesquisadores por causa do seu papel cada vez maior na difusão de informações. A comunicação corporativa, também chamada de ‘mídia das fontes’, se revela mais ágil e inovadora do que a mídia tradicional e, portanto, mais apta a aproveitar as oportunidades abertas pela evolução da tecnologia.
Na última semana de junho, a pesquisa Ibope/NetRatings revelou que mais de 41 milhões de brasileiros têm acesso à internet, sendo que cerca de 35,5 milhões acessam de suas casas. Além disso, em comparação com o universo pesquisado pela empresa, que abrange dez países, o brasileiro permanece mais tempo online. O Brasil já é o quinto maior mercado de computadores, atrás apenas dos Estados Unidos, China, Japão e Reino Unido. Observe-se que as famílias que ascendem à classe média já não aspiram a uma assinatura de jornal, mas a um computador com acesso à internet.
Fora de cena
Nesse cenário, a persistência dos jornais e revistas numa abordagem conservadora do uso das novas tecnologias equivale a virar a estratégia na direção contrária à das tendências. Mas é preciso compreender que não é tarefa fácil para os gestores da imprensa assumir que a comunicação do futuro vai se caracterizar pelo extremo protagonismo dos cidadãos. Nascida como instituição que faz a mediação entre os fatos e o público, a imprensa precisaria se reinventar radicalmente para assumir um papel menos central na formação do conhecimento coletivo.
A OECD – sigla em inglês da Organização para a Cooperação Econômica e o Desenvolvimento – encerrou dias atrás em Seul, na Coréia, a cúpula ministerial na qual se discutiu o futuro da internet. As conclusões indicam mais investimento em inovação, segurança e ampliação da infra-estrutura global de comunicações. As diretrizes para investimento sugerem o desenvolvimento de protocolos abertos e padrões universais, defesa da liberdade de expressão e utilização dos recursos tecnológicos para fortalecer os direitos civis e promover oportunidades de desenvolvimento.
O relatório final do encontro indica que os países desenvolvidos vão investir em novas plataformas de comunicação – baseadas em novas tecnologias como a fibra ótica – para interligar as redes e ampliar sua capacidade, acelerar o processo de obsolescência dos computadores fixos e estimular o uso de aparelhos móveis.
Há 10 anos, quando se realizaram os primeiros encontros internacionais de cúpula para tratar de normas e investimentos conjuntos em infra-estrutura de comunicações, era notável a presença de representantes das empresas de mídia. Na reunião deste ano, os jornalistas presentes eram repórteres de publicações especializadas em tecnologia. A imprensa tradicional parece ter ficado para trás.
******
Jornalista