Na Folha de S.Paulo de quinta-feira (29/5), eis o que o ilustre professor Pasquale Cipro Neto escreve a respeito de um aviso da Infraero:
‘Num cartaz em que a estatal informa os itens que os viajantes não podem levar na bagagem, lê-se a palavra `gazes´. Cheiram mal esses `gazes´. `Gás´ e `gases´ se grafam com `s´, quando se trata do `estado da matéria que tem a característica de se expandir espontaneamente, ocupando a totalidade do recipiente que a contém´ (Houaiss) ou do `fluido infinitamente compressível, cujo volume é o do recipiente que o contém´ (Aurélio).
Alguém talvez pergunte por que afirmei que `gás´ e `gases’´se grafam com `s´ quando… O fato é que existe `gaz´ (`medida de extensão, usada na Índia´). A Infraero decerto não terá pensado nesses gazes. Mas o mais interessante (e intrigante) é a origem da palavra `gás´…’
Se o professor Pasquale fosse menos apressado, teria visto que a palavra ‘gazes’, no cartaz da Infraero, não é plural de ‘gás’ nem de ‘gaz’, mas de gaze, ‘tecido leve, de algodão, muito poroso….’, etc. ‘Gaze’, e por conseqüência, gazes, tem registro no Aurélio, no Houaiss, e no vocabulário corrente do povo brasileiro.
Do cochilo do professor podemos retirar uma lição: todos deveríamos ser humildes, cuidadosos e complacentes no corrigir. O risco de cair no ridículo, para as palmatórias da língua, não tem fim. Gazes assim não fedem. Ajudam a curar e a desinfetar ares professorais. É isso.
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Jornalista e escritor, Recife, PE