Os ataques de traficantes a organizações de mídia no México e a intimidação governamental em diversos países têm gerado autocensura na imprensa nas Américas, segundo o relatório semestral sobre a liberdade de imprensa no continente americano divulgado esta semana pela Associação de Imprensa Inter-Americana (IAPA, sigla em inglês). ‘Embora a mídia continue a cumprir fortemente sua missão de serviço público em alguns países, alguns jornais e repórteres vêm enfrentando diversos esforços diretos e indiretos do governo e de políticos para conter seu trabalho’, afirmou a organização.
A IAPA se mostrou especialmente preocupada com as ameaças e ataques de traficantes, principalmente no norte do México, que forçaram alguns jornais a interromper sua cobertura sobre o tráfico de drogas. A organização citou o ataque à redação do diário El Mañana, em Nuevo Laredo, no qual homens armados feriram um jornalista. A IAPA pediu ao governo do estado de Tamaulipas para garantir a segurança dos profissionais de imprensa. O governo federal do México nomeou recentemente um advogado especial para investigar os ataques a jornalistas e a associação pediu às autoridades que não abandonem as investigações de assassinatos destes profissionais, incluindo o de Hector Felix Miranda, editor do semanário Zeta, morto em 1998. No norte do país, três jornalistas foram assassinados em resultado direto a seu trabalho nos últimos seis meses; outro profissional está desaparecido e possivelmente morto, segundo a IAPA. Para a associação, observa-se ‘a inabilidade ou falta de vontade de alguns governos para investigar, instaurar processos e punir aqueles que cometerem crimes contra jornalistas’.
O documento denuncia também a hostilidade, em relação à mídia independente, dos governos da Venezuela e Argentina, além de lamentar a prisão de jornalistas em Cuba. O governo do venezuelano Hugo Chávez foi criticado por ‘ameaçar e punir a mídia independente através do uso de impostos arbitrários, intimidação e criação da lei de responsabilidade social para rádio e televisão’, que, segundo a IAPA, iguala dissidência política a conduta criminal. Na Argentina, o presidente Nestor Kirchner ‘aumentou a hostilidade à mídia independente, empregando denúncias verbais e abuso do poder – aumentando taxas cobradas aos jornais e recusando colocar anúncios do governo em determinados jornais para punir críticos’. Em Cuba, conforme observado pela associação, 25 jornalistas independentes estão presos.
O relatório também mencionou o Brasil, onde a investigação do assassinato de um apresentador de TV foi encerrada sem conclusão. Edgar Lopes Faria foi morto em 1997 no Mato Grosso do Sul. O caso demorou a ser transferido para ser investigado pela Unidade Integrada de Combate às Organizações Criminosas (UNICOC) e foi encerrado por falta de pistas. Informações de Eloy O. Aguilar [Associated Press, 21/3/06].