Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Ilimar Franco

‘É grande o mal-estar no governo com a reportagem do jornal americano ‘Hábito de beber do líder brasileiro torna-se preocupação nacional’. O assunto foi tratado, na noite de sábado, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pelo secretário-geral da Presidência, Luiz Dulci, pelo ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo e pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci, na festa de aniversário do secretário de Comunicação, Luiz Gushiken. A reportagem azedou a festa.

Ontem, Gushiken não poupava críticas à reportagem, qualificando-a de ‘leviana’, ‘irresponsável’ e afirmando que ela se situa ‘nas fronteiras da calúnia e da difamação’. – O jornalista reproduz, ao construir sua versão, a leitura de conhecida coluna semanal (cuja natureza é de não considerar o rigor factual, e sim a livre opinião do autor), antigas declarações de um político adversário do atual governo e insinuações veiculadas num tipo de colunismo no qual o jornalismo presta-se a servir interesses pouco claros e alimentar fofocas.’



Gerson Camarotti

‘Reportagem do ‘NYT’ sobre Lula é digna de jornalismo marrom, diz Planalto’, copyright O Globo, 10/05/04

‘O Palácio do Planalto divulgou ontem nota assinada pelo porta-voz da Presidência, André Singer, em que classifica como caluniosa e digna de imprensa marrom a reportagem do correspondente americano Larry Rohter, do ‘New York Times’, publicada ontem, em que afirma que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem exagerado no consumo de bebidas alcoólicas, o que estaria prejudicando sua atuação no cargo. O Planalto acionou o embaixador do Brasil em Washington para que entre em contato com o jornal americano e transmita a indignação e a surpresa do governo brasileiro pela veiculação do que classificou de insultos gratuitos ao presidente da República.

‘O governo brasileiro recebeu com profunda indignação a reportagem caluniosa sobre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva publicada hoje pelo jornal norte-americano ‘New York Times’. O correspondente dessa conceituada publicação no Brasil simplesmente inventou uma suposta ‘preocupação nacional’ com hábitos do Presidente da República para dar vazão a um amontoado de afirmações ofensivas e preconceituosas contra o chefe do Estado brasileiro, boa parte delas pinçadas em fontes obscuras e de nenhuma confiabilidade’, afirma o porta-voz na nota.

A matéria do ‘NYT’ é baseada apenas em afirmações e textos de Leonel Brizola, Diogo Mainardi (Revista ‘Veja’) e Cláudio Humberto Rosa e Silva (ex-porta-voz de Collor). Na nota do Planalto, o porta-voz de Lula classifica a reportagem de Rohter como digna da pior espécie de jornalismo, ‘o marrom’:

‘Apenas o preconceito e a falta de ética podem explicar essa tentativa esdrúxula de colocar em dúvida o profundo compromisso com as instituições e a credibilidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva’.’



Eduardo Scolese e Ranier Bragon

‘Planalto diz que ‘NYT’ calunia Lula e faz ‘jornalismo marrom’’, copyright Folha de S. Paulo, 10/05/04

‘Uma reportagem publicada ontem pelo jornal norte-americano ‘The New York Times’ sobre supostos excessos alcoólicos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi classificada pelo Palácio do Planalto como ‘caluniosa’, ‘da pior espécie de jornalismo, o marrom’ e que apenas o ‘preconceito e a falta de ética’ explicam a tentativa de colocar em dúvida a credibilidade do presidente.

De acordo com nota assinada pelo porta-voz da Presidência, André Singer, ‘o governo brasileiro recebeu com profunda indignação a reportagem caluniosa sobre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva publicada pelo jornal norte-americano ‘The New York Times’. O correspondente dessa conceituada publicação no Brasil simplesmente inventou uma suposta ‘preocupação nacional’ com hábitos do presidente da República para dar vazão a um amontoado de afirmações ofensivas e preconceituosas contra o chefe do Estado brasileiro, boa parte delas pinçadas em fontes obscuras e de nenhuma confiabilidade’, diz a nota (leia íntegra).

Em sua edição de ontem, o ‘New York Times’, o principal jornal dos Estados Unidos e um dos mais influentes do mundo, publicou reportagem com o título ‘Hábito de bebericar do presidente vira preocupação nacional’. O texto é acompanhado por uma foto de Lula, do ano passado, bebendo cerveja na Oktoberfest.

‘Os hábitos sociais do presidente são moderados e em nada diferem da média dos cidadãos brasileiros. Apenas o preconceito e a falta de ética podem explicar essa tentativa esdrúxula de colocar em dúvida o profundo compromisso com as instituições e a credibilidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva’, diz a nota de Singer.

Em princípio, o governo brasileiro buscará uma solução diplomática para o caso. Segundo a Presidência, o embaixador do Brasil em Washington, Roberto Abdenur, já foi ‘orientado’ a entrar em contato com a direção do jornal a fim de ‘transmitir a indignação e a surpresa do governo brasileiro pela veiculação de insultos gratuitos’ ao presidente.

Uma ação judicial contra o jornal e o repórter Larry Rohter (um dos correspondentes do jornal no Brasil) não está descartada, mas só será considerada após o esgotamento da via diplomática.

Em seu texto, Rohter compara o suposto hábito de ‘tomar bebidas fortes’ de Lula ao de Jânio Quadros (1917-1991) e diz que o presidente freqüentemente aparece em fotos com um copo na mão, com os olhos e as bochechas vermelhas, mas que poucas pessoas ousam expressar suas opiniões sobre esse assunto em público.

Ontem, o ministro Luiz Gushiken (Secretaria de Comunicação) disse, por meio de sua assessoria, que a reportagem poderia estar ‘a serviço de posturas de governos centrais que desprezam a soberania alheia, buscam interferir em questões internas e tentam impor visão unilateral sobre questões que, num mundo cada vez mais complexo, exige outra ótica de solução para os conflitos.’

Para Gushiken, o repórter, por estar sediado no Rio de Janeiro, está ‘privado de uma observação pessoal e direta’ acerca dos temas de Brasília. ‘Talvez, como é comum autoridades norte-americanas cometerem erros quanto à capital do Brasil, o jornal ainda não tenha dado conta de que desde 1960 a cidade do Rio de Janeiro deixou de ser a capital do país e seu principal centro irradiador da política brasileira’, diz o ministro.

Segundo o presidente do PT, José Genoino, o governo deveria processar o jornal e o repórter. ‘Foi uma reportagem inventada da cabeça do repórter. Eu, que convivo há muitos anos com Lula, nunca vi nada que sustentasse essa reportagem’, afirmou.

A Folha procurou o repórter Larry Rohter por email e telefone celular, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição.’



Deonísio da Silva

‘Goles, medidas e polegadas a mais’, copyright Jornal do Brasil, 11/05/04

‘Não é apenas a do bingo que é provisória. No jogo da vida, todas as medidas são provisórias, principalmente as femininas. Aquela cinturinha de pilão, querida leitora, que você já teve, era uma medida provisória, não era? Era, e a amiga sempre soube que o tempo levaria aquele e outros encantos, substituindo-os por novos, que precisariam de olhares diferentes para serem contemplados. Afinal, a melhor estação pode ser aquela aonde ainda não chegamos. E a água do amor apareceu em outros copos, não?

Também os pesos são provisórios. Se a mulher não é esportista, sua estatura leva-a a ter o eterno sonho de pesar menos de 60 quilos. Para outras, o tempo e as medidas reais passam, mas ficam as simbólicas.

Martha Rocha não foi Miss Universo em 1954, mas é como se tivesse sido. Martha foi o único vice-campeonato que o Brasil aceitou desde tempos imemoriais. Nem antes nem depois aceitamos vice nenhum.

‘Por duas polegadas a mais,/ passaram uma baiana pra trás./ Por duas polegadas,/ e logo nos quadris,/ tem dó, tem dó, seu juiz.’ Foi uma derrota que encheu de orgulho os brasileiros. Ainda que perdendo o concurso, a bela baiana passou a ser reverenciada por todos como uma das mulheres mais bonitas do mundo. E Martha Rocha passou, por razões que Freud explica, a denominar bolos e pratos saborosos. O inconsciente do brasileiro manifestou suas intenções.

Nelson Rodrigues escreveu: ‘O brasileiro é o narciso às avessas, que cospe na própria imagem. Somos feios confessos. Deu-me vontade de sair gritando: somos lindos, somos lindos! Desde então sempre que penso num elenco de ‘grandes homens’ brasileiros, incluo Martha Rocha. Ela bem o merece. Tornou bonito o povo feio.’

Voltando a outras medidas provisórias. Nossas medidas provisórias começaram lá no útero materno, o lugar mais protegido do mundo para o ser humano. Mas depois de nove meses, o inquilino é despejado. Ali, medíamos alguns poucos milímetros durante vários dias. Em ritmo alucinante, ao chegar ao nono mês, o bebê que um dia fomos veio ao mundo com cerca de meio metro de altura – altura? Mas estávamos deitados, em repouso – e três quilos de peso. Medidas provisórias. Ao chegar aos 21, em ritmo bem mais lento, chegamos à altura média de 1,70m.

E o peso? Bem, daí é preciso introduzir algumas variáveis. Se bebermos e comermos como o New York Times disse que o presidente Lula come e bebe, mudaremos de cor e de peso.

O principal jornal dos Estados Unidos que desculpe este escritor, mas seu correspondente no Brasil, autor da matéria de sábado , inscreveu-se ao troféu Jayson Blair, por conclusões equivocadas. Os hábitos privados de Lula não têm a menor importância para o povo. ‘O governo esquerdista de Da Silva’, começa um dos parágrafos. Esquerdista? Só se Lula fosse canhoto!

Somos diferentes dos americanos, que quase travaram o país para saber direitinho em que medida as medidas provisórias de Monica Lewinski estavam afetando o presidente Clinton. Bons tempos aqueles, também para os EUA, quando a preocupação nacional era avaliar as conseqüências, não da tortura no Iraque, mas de uma sessão de amasso.

Que bom se a preocupação nacional fosse a água que, evitada por passarinhos, o presidente Lula bebe! Nossos problemas são outros. Que por dois goles a mais, não passem nosso presidente pra trás.

Ainda que nosso presidente vivesse de porre, como Jânio Quadros, seria indispensável lembrar que as medidas que quase acabaram com o mundo não foram tomadas por ninguém que estivesse de porre. Hitler e Truman estavam sóbrios quando cobriram a humanidade bombas.’