Coisa mais chata a tal de história, vive se repetindo. E sempre como farsa, ó tédio! Esse novo festival de besteira que assola o país, por exemplo, que alguns tratam de ‘onda conservadora’, é prova cristalina. Calma, gente! Imprensa udenista é coisa mais velha do que andar pra frente. Como onda de mar, ontem fraca, hoje vagalhão, não tem remédio: até tsunami volta bonitinha ao leito do oceano.
Acalmem-se os jornalistas sérios, os leitores preocupados. Jornalismo, aquele, o verdadeiro, cuja existência só o bem da maioria justifica, sempre acha um meio de romper as nuvens e raiar. Foi assim nos piores regimes, do escravocrata aos ditatoriais. Malgrado um triunfo aqui outro ali, jornalismo feito para a minoria poderosa mal sai na foto da história.
Preocupa menos ainda o bombardeio ao jornalismo engajado. Aquele, o verdadeiro, brilhantemente incorporado, por exemplo, pelo repórter britânico Robert Fisk – um dos últimos jornalistas engajados do planeta, como já descrito aqui no OI. Agora então, coitado, que lançou um livro retratando em mais de 1.000 páginas seus 30 anos no Oriente Médio – nada de ‘sacerdócio’, por favor, ele apenas senta a pua nas teclas contra as forças dominantes de sempre, premissa básica do jornalismo, uma profissão como outra qualquer –, já chove crítica dos jornalões americanos a serviço de outras coisas que não o bem-estar da maioria. Paciência.
Não adianta chorar
Para os surfistas deste Febeapá, jornalista brasileiro engajado e de esquerda… tibe! Tem parte com o demo, o cão danado, o coisa ruim! Gente incômoda, sempre criando embaraço, sempre do lado do povão! Sai, povão! Jornalista bom, imparcial, é o de direita, quem mais? Esse sim, tem credibilidade! Se já foi de esquerda e virou a casaca, então, ah, supimpa!
Pois Cláudio Abramo, ídolo dos (hoje) velhotes engajados da profissão, já avisava:
‘Tenho muita dificuldade de trabalhar com gente de direita, porque a direita brasileira, como não é ideológica, é fisiológica, e acho muito difícil conviver com pessoas desonestas, não tenho muito jogo de cintura para isso. Acho mais simples e produtivo trabalhar com gente progressista, esquerdista. Desde que eles nos respeitem e ao jornal não tem problema, o sujeito não vai contrabandear matéria.’
Jornalista de direita é festejado nesta marola febeapista porque contrabandeia tudinho, do recado do banqueiro ao interesse da multinacional. Um amigão do patrão, do leitor da classe do patrão, com interesses semelhantes aos do patrão. É sim, não adianta chorar, está lá na pesquisa do Comitê Gestor da Internet: 68% dos brasileiros nunca acessaram a internet, 55% nunca usaram computador!
A luta de sempre
Pode espernear à vontade, porque agora já se sabe: a grande maioria dos internautas, essa maioria que cospe ódio nos sites da web, esse povo descortês e grosseiro que exibe sem pudor sua profunda falta de educação para mostrar desprezo por qualquer causa remotamente social, intolerância à mais pálida diversidade de idéias, horror ao mais tímido projeto democrático – está lá na pesquisa para quem quiser ver: é a classe A/B se manifestando, exigindo que o jornalismo expresse seus interesses.
Os jornalistas de direita nunca estiveram tão felizes: escrevem para seu público. O conservadorismo nunca esteve tão feliz: com a internet a seu alcance quase exclusivo, nunca teve tanto espaço para se manifestar – especialmente, ó ironia tediosa, nos veículos democráticos da ‘esquerda’ (sim, é preciso reconhecer, veículo de direita não cede espaço não, não senhor, nem a seus iguais).
Aos jornalistas engajados de esquerda resta a luta de sempre: a defesa dos projetos democráticos que ampliem a participação popular na imprensa, na internet, na sociedade. A onda do Febeapá vai passar.