Wednesday, 13 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1313

Informação instantânea. E falsa.

Pura coincidência: no mesmo dia, no mesmo horário, no mesmo portal, duas manchetes sobre o mesmo assunto. A primeira, ‘Ataque suicida mata ao menos 71 em mesquita em Bagdá’. A segunda, ‘Ataque suicida mata 55 em mesquita no Iraque’. Coisa pouca: diferença de 16 corpos. Dezesseis vidas. Afinal de contas, quantos morreram no ataque suicida-homicida em Bagdá?

Franklin Martins foi direto ao ponto: hoje temos informação em abundância, mas não notícias, porque os jornalistas não têm tempo (e, acrescentemos, nem disposição; às vezes nem conhecimento) para explicar o que acontece. Na pressa de cada um para ser o primeiro a expor a nova informação, quem sofre é a precisão; e há o risco de que o espetáculo e torne mais importante do que a notícia.

Na opinião do comentarista da Rede Globo, profundo conhecedor da política e do jornalismo, os políticos e os jornalistas precisam ser mais humildes, precisam admitir as dúvidas, precisam estudar os assuntos de que vão tratar.

No mesmo dia em que um só ataque deixou dois números diferentes de mortos num só portal de internet, houve a ameaça de deputados de renunciar ao Conselho de Ética. Quantos ameaçaram renunciar? Não se sabe: o número variou conforme a fonte. E variou também a maneira de calculá-lo: suplente, por exemplo, foi contado em alguns veículos e não foi contado em outros.

O problema é que informação é fundamental. Falta de informação é uma tragédia. E informação incorreta é tragédia dupla.



Pressa e perfeição

A internet permite que uma notícia imprecisa seja corrigida rapidamente. Acontece que quem já a leu nem sempre verá a correção. Não há pressa, portanto, que justifique a falta de cuidado. Imagine o caro leitor uma notícia errada a seu respeito; imagine quem poderá lê-la, e quem lerá a correção. Provocado o prejuízo, moral ou material, como e quando será possível repará-lo?



A morte e a morte de Giordani

O assassínio do jornalista paranaense Giordani Rodrigues provocou um saudável debate via internet: os limites da informação. Até que ponto é preciso divulgar tudo, mesmo que para isso a vítima seja vitimada mais uma vez?

O caso, obviamente, ficou mais quente por envolver um jornalista. Mas a discussão é essencial: às vezes, a fronteira entre o jornalismo puro e simples e o jornalismo marrom é pouco visível.

Há anos, este colunista afastou um editor por descumprir uma ordem expressa: em determinados casos, deve-se dar a notícia mas poupar a vítima, para evitar dissabores desnecessários à família. O caso era o seguinte: um garoto de 14 anos foi seqüestrado à saída da escola, arrastado para um terreno baldio, estuprado e abandonado. Foi para casa, trancou-se no quarto e suicidou-se.

Pelas normas do jornal, o caso deveria ser noticiado, mas sem nomes, sem qualquer identificação. O editor não publicou o nome do garoto, mas deu o endereço completo. Em outras palavras, em nome do sensacionalismo, driblou as normas. No caso de Giordani, a situação é semelhante: ele foi assassinado. Fotos do corpo, detalhes de sua vida, tudo isso é desnecessário e contraproducente; afasta o leitor do foco da notícia, a violência contra uma pessoa, e o desvia para temas ligados à sua vida pessoal. Depois do assassinato físico, procura-se assassinar o caráter da vítima. É como se a reportagem estivesse buscando uma justificativa para o crime. E este, definitivamente, não é o papel da imprensa.



O crime e a pena

Um detalhe que vem sendo esquecido, na discussão sobre a quebra ilegal do sigilo bancário do caseiro Nildo, é o papel da imprensa. O jornalista tem a prerrogativa legal de preservar a fonte – e essa prerrogativa é essencial à liberdade de imprensa. Não há quem possa obrigá-lo a revelar quem lhe deu informações. Entretanto, ao divulgar uma informação errada ou criminosa, o jornalista se arrisca a sofrer processo. Arrisca-se até a levar a culpa que seria da fonte preservada. Ou seja, preservar a fonte é essencial, mas devemos ter a certeza da precisão das informações que a fonte, que vamos proteger, nos passou.



E a gripe?

Este colunista já viu a peste suína aparecer espetacularmente, provocar o abate de alguns milhares de porcos e de repente sumir como se nunca tivesse existido. Viu uma das mais famosas marcas de água mineral do país ser apontada como anti-higiênica, e de repente, tão logo outras marcas se firmaram no mercado, desaparecerem os problemas sanitários. Viu o salmão passar de alimento de alta qualidade, extremamente benéfico à saúde, à condição de veículo de uma lombriga; e viu o salmão, de repente, voltar a ser seguro, com seus problemas de lombriga subitamente resolvidos (terão os salmões tomado aquele licor matador?) Agora, temos a gripe aviária.

Este colunista não entende nada do assunto. Mas achou interessante artigo ‘Gripe aviária: será o novo Bug do Milênio?‘, de um veterinário paulista, publicado neste Observatório. Vale ler.



Da série ‘E eu com isso?’

De jornais, revistas, colunas e especialmente de sites:

1. John Travolta apóia ‘parto silencioso’ do bebê de Cruise.

2. Bussunda diz qual seu prato preferido em ‘Estrelas’.

3. Preta Gil leva namorado em show de Gal Costa.

4. Paulo Vilhena e Karina Bacchi sentam no chão para ver peça.

Agora confesse: como é que a gente viveu até hoje sem ter lido essas informações?



O grande título

É verdade, este colunista garante. A reportagem sobre o Corinthians trazia o título ‘Corinthians em busca da vitória contra o Universidad’. Não seria notável o time entrar em campo em busca da derrota?



O título curioso

A firma existe, sim, e tem excelente conceito. O problema é que manteve no Brasil o nome que a consagrou no exterior. E permitiu a seguinte delícia: ‘Segurança é tema de palestra da Axalto (…)’.



O melhor título

Este é de um portal de internet. Este colunista imagina que, estudando o assunto por alguns pares de anos, consiga entendê-lo. Vamos lá: ‘Ciphertrust cria serviço gratuito para vigiar phishing scams’.



E você?

Este texto saiu, é verdade: não foi inventado por ninguém (e quem teria imaginação suficiente para inventá-lo?) Vamos lá:

‘Não sei você, mas o seu cãozinho ou gatinho já tem visual garantido para acompanhar, ao seu lado, os jogos do Brasil durante a Copa do Mundo da Alemanha’.

Não é um primor?

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Jornalista, diretor da Brickmann&Associados