Friday, 15 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

James Murdoch depõe novamente – e insiste que não sabia de nada

Em testemunho diante de um comitê parlamentar no Reino Unido, o filho do magnata Rupert Murdoch, James, manteve suas declarações anteriores de que só recentemente veio a saber da prática ilegal e antiética dos grampos telefônicos que levou ao fechamento do tabloide News of the World. Nada o atormentou durante as duas horas e meia diante do painel parlamentar: nem ser comparado a um chefe mafioso de uma empresa criminosa administrada sob medo e “omertà” (código de silêncio da Máfia) nem ser acusado de fechar os olhos e ser indiferente ao dinheiro de sua empresa.

Depois de seu primeiro depoimento, em julho, dois ex-funcionários da News Corp – Colin Myler, que foi editor do News of the World, e Tom Crone, conselheiro legal da News International – procuraram o comitê para revelar que haviam mostrado a James Murdoch documentos que descreviam “a cultura de acesso ilegal à informação” no jornal, incluindo um email que continha transcrições de conversas grampeadas que provavam que a prática era comum.

Murdoch disse que, embora soubesse da existência deste email – em uma mudança de um testemunho anterior, quando alegou que nunca havia ouvido falar sobre ele –, ninguém o mostrou ou explicou o alcance da prática ilegal. “O encontro, segundo lembro bem, foi rápido, e recebi informação suficiente para autorizar o acordo que foi feito. Não mais do que isso”, disse, afirmando que Myler e Crone estavam mentindo. Na ocasião, lhe foi solicitada aprovação para um acordo com Gordon Taylor, executivo-chefe da Associação de Jogadores de Futebol Profissionais, que havia acusado o News of the World de ter grampeado seu telefone. A News International, braço britânico do grupo News Corp, pagou US$ 725 mil (o equivalente a US$ 1,2 milhão) a Taylor em danos.

Murdoch ainda criticou Myler, que se tornou editor do News of the World depois do primeiro escândalo dos grampos, no qual o repórter que cobria a família real, Clive Goodman, foi preso, em 2007. Segundo ele, Myler deveria ter lhe contado o que estava acontecendo e colocado fim ao problema. “Em uma empresa com 50 mil funcionários em todo o mundo, precisamos que executivos nos mais variados níveis se comportem de determinadas maneiras”, disparou. Membros do comitê, entretanto, estavam incrédulos ao fato de ele não ter feito perguntas básicas no caso Taylor, principalmente diante do alto valor pago a ele.

Danos ao grupo

O escândalo dos grampos afetou fortemente a News Corp e prejudicou sua relação simbiótica com o establishment político britânico. Além do fechamento do News of the World, o magnata Rupert Murdoch teve de desistir da compra da British Sky Broadcasting. Pelo menos 16 funcionários da empresa foram presos, incluindo dois ex-editores do News of the World. Diversos executivos – como Les Hinton, publisher do Wall Street Journal e executivo-chefe da Dow Jones – renunciaram a seus cargos.

Parecendo confiante e calmo, James Murdoch transmitiu a mensagem de que os grampos são um problema do passado e algo que forçou a empresa a reavaliar suas práticas. Ele ainda afirmou que não descartaria o fechamento do tabloide The Sun caso houvesse evidências de grampos em sua redação.

Tom Watson, membro do comitê, trouxe à tona a acusação de que o News of the World contratou um detetive para vigiar dezenas de pessoas, incluindo advogados de vítimas de grampos, o que foi negado por Murdoch. O presidente do painel, John Whittingdale, disse que o comitê começará a preparar um relatório sobre o escândalo, em especial diante das discrepâncias entre os testemunhos de Murdoch, Myler e Crone. Informações de Steve Myers [Poynter, 10/11/11] e Sarah Lyall [The New York Times, 10/11/11].

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