Sunday, 17 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Juiz ataca jornalista no Facebook

Quanto mais se reza, mais assombração aparece. Ou, como dizia um curioso livrinho francês de décadas atrás que o pensador Leandro Konder encontrou num sebo, “a realidade supera a ficção”.

Agora, em resposta a críticas que lhe foram feitas pelo jornalista Lúcio Flávio Pinto, o juiz Amílcar Guimarães publica em seu  perfil no Facebook um tópico onde se defende atacando o editor do Jornal Pessoal, que qualifica como “pateta” e “canalha”. Alguma coisa tirou o juiz do sério.

A Folha de S. Paulo deu na terça-feira (6/2) a notícia: “Um juiz que condenou um editor de jornal do Pará a pagar indenização a um empresário usou o Facebook para atacar o próprio jornalista”.

Linguagem de botequim

Além de abrir seu coração com linguagem de conversa de botequim, o juiz Guimarães não sonega pensamentos, como se lê na notícia da Folha: “No Facebook, o juiz pede que seja denunciado ao CNJ (Conselho Nacional de Justiça) para ser aposentado compulsoriamente. ‘Não seria punição, seria um prêmio’.”

O juiz é tão humano quanto qualquer um dos cidadãos que julga ou que o leem, mas isso não o libera para ignorar deveres de servidor do Estado. Para justificar seu destempero, Guimarães se diz “satanizado” por Lúcio Flávio. É uma tática para desviar a atenção da batalha que o jornalista trava há anos com poderosos paraenses.

Lúcio Flávio anunciou que não recorrerá da sentença. A luta é desigual. O juiz, implicitamente, lhe dá razão ao escrever que também não confia na Justiça (e o que continua fazendo lá?).

Agora, o jornalista tem um caminho para acionar o juiz por injúria. Não propriamente pelos brios ofendidos, mas porque se trataria de mais uma oportunidade para colocar em discussão o funcionamento da Justiça brasileira.