Há alguns anos, assisti num festival ao documentário chamado Nasceu o bebê-diabo em São Paulo!, sobre lendas urbanas – a loira do banheiro, a gangue do palhaço, o bebê do título – alegremente publicadas pelo jornal Notícias Populares e acompanhadas pelos leitores mais como uma novela do que como notícias. Não deixavam de ser simpáticas a cara-de-pau e a criatividade dos jornalistas do periódico, ao criarem essas ‘notícias’, principalmente a biografia do ‘bebê-diabo’ que, se bem me lembro, acabou indo embora com extra-terrestres.
Deixei de ler a Veja há quatro anos, na época dos ataques ao World Trade Center, quando a revista, entre muitas outras coisas, publicou trechos de entrevistas do documentário Em Busca de Osama bin Laden fora de contexto e sem citar a fonte, dando a entender que as entrevistas eram da revista, e passando uma imagem equivocada da comunidade islâmica mundial, principalmente européia.
A volta do desiludido
Porém, ao ler na internet essa matéria do dinheiro de Cuba renasceu em mim a vontade de ler a Veja. Essa história tão disparatada – por que dólares, e não euros, que não são taxados como o dólar na ilha? Por que uísque, e não rum ou charutos? Por que ajudar o Lula, que não ajudou tanto assim a ilha depois de eleito? – coloca a revista no divertido nicho dos tablóides sensacionalistas, como o Notícias Populares e o The Sun. Mal posso esperar para saber qual vai ser a próxima aventura do ‘Lula’ na revista! Já nem me importa mais a distância cada vez maior entre essas matérias e a realidade.
Alguns analistas alarmistas falam que agora virão matérias ligando o PT a isótopos da Coréia, alcorões com o MST, euros de Chávez… Não concordo, isso não estaria de acordo com o espírito irreverente e a alegre incoerência da matéria de Cuba. Creio que a seguir teremos xifópagos exóticos, extra-terrestres e avistamentos de celebridades teoricamente mortas ‘à la’ Elvis (sugiro, para dar um toque brasileiro, avistamentos de Ayrton Senna, Raul Seixas e Mamonas Assassinas, todos colaborando clandestinamente com as campanhas do PT).
Se a revista seguir esta linha, e parece que vai seguir, ganhará de volta este desiludido leitor, já não mais acreditando que a revista não passe de um punhado de papel grampeado cuja única utilidade seria recortá-la em tiras e fazer uma colorida caminha para gatos.
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Cineasta, São Paulo