A TV Globo dá 70.000 (arredondamento do número oficial do Censo de 2010 do IBGE), o jornal O Globo dá 100.000. Nem dentro das Organizações Globo os jornalistas se entendem a respeito da população da Rocinha.
Evidência de distanciamento, desconhecimento, falta de interesse por parte da imprensa, os números da Rocinha sempre foram tratados a pontapés. A população da Rocinha é um número-sanfona. Alguns indivíduos delirantes já chegaram a falar em 400.000 moradores. Seria a maior favela do Rio, do Brasil, da América do Sul, da América Latina. Não é nem do Rio.
Quem já sobrevoou a Rocinha de helicóptero sabe que naquele território não cabem 100.000 pessoas, apesar do esforço caprichoso dos moradores para poupar espaço: razão das escadas que parecem degraus de escalada em montanha; razão de uma incidência de tuberculose acima da média da cidade e do país.
A montanha-russa da Veja
Um dos veículos que mais abusaram da ignorância própria e dos leitores foi a Veja. Ao longo dos anos, nas páginas da revista, a população residente da Rocinha andou numa montanha russa. Repórteres e editores nem se deram o trabalho de consultar os números usados na reportagem anterior.
Em dez meses do mesmo ano (1975) a população caiu de 150.000 para 80.000. Subiu para 145.000 em 1978. Em fevereiro de 1980, caiu para 98.000. Meses depois, a população da Rocinha informada pela Veja saltou para 200.000. Entre 1980 e 1989 não aconteceu nada na favela: a população estacionou em 200.000 moradores. Em fevereiro de 1994, foi dividida por cinco (42.800), mas cinco meses depois apareceria revigorada, com 170.000 habitantes.
Seria uma pândega, se não fosse um crime jornalístico que se constata melhor na tabela abaixo.
População da Rocinha segundo a Veja |
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16/9/1970 |
90.000 |
28/2/1975 |
150.000 |
24/12/1975 |
80.000 |
9/8/1978 |
145.000 |
2/7/1980 |
200.000 |
12/7/1989 |
200.000 |
20/4/1994 |
42.800 |
2/9/1994 |
170.000 |
16/3/2005 |
100.000 |
6/8/2008 |
67.000 |
Quem desconfiar dos dados faça o favor de consultar o Acervo Digital da Veja. Dá um certo trabalho, mas é uma recompensadora viagem ao diletantismo da revista brasileira com maior tiragem.
P.S. – A maior favela do Rio de Janeiro e do Brasil é a da Maré (129.700 moradores). A maior de São Paulo é a de Heliópolis (125.000). Dados do Censo de 2010. A maior da América do Sul é a de Petare, cidade da região metropolitana de Caracas. Tem algo em torno de 350.000 habitantes.