Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Estadão chancela retórica

O Estado de S. Paulo abriu espaço no domingo (13/1) para um trololó do ex-secretário municipal Marcos Cintra a respeito da “laicização” do PRB, partido (Republicano Brasileiro) subordinado à Igreja Universal do Reino de Deus que lançou a candidatura de Celso Russomanno à prefeitura paulistana em 2012.

A reportagem informa que Cintra será nomeado presidente estadual do PRB, em lugar de um quadro da Iurd, o deputado federal Vinicius Carvalho. O discurso é: “Acho importante contribuir para tirar essa característica religiosa do partido. É algo que ele não deve ter, não pode ter”.

Tarefa difícil. A própria matéria explica por quê. Acima de Cintra permanecerá o presidente nacional da legenda, Marcos Pereira, bispo licenciado da Universal. Abaixo, na presidência do diretório municipal da capital, Aldo Rodrigues, outro prócer iurdiano. Quais seriam os predicados de Cintra para operar o milagre?

Isso não está na reportagem, que esclarece apenas os objetivos da aquisição: aumentar a bancada federal do partido e acomodar Celso Russomanno em alguma das chapas que disputarão o governo do estado em 2014.

Tarimba e versatilidade

Os predicados, especule-se, seriam dois. Primeiro, tarimba política no executivo e no legislativo. Segundo, a versatilidade do novo dirigente.

Marcos Cintra deixa agora o PSD de Gilberto Kassab, a quem esteve subordinado como secretário municipal de Desenvolvimento Econômico e do Trabalho. Para entrar no PSD, deixou o PR, ex-PL, pelo qual havia sido eleito vereador em 2008.

Seu currículo, em ordem cronológica inversa, mostra que entre 2003 e 2006 foi secretário municipal em São Bernardo do Campo, no governo de Wilson Dib, do PSB. Foi deputado federal entre 1999 e 2003, eleito pelo PL. Em 2000, concorreu à prefeitura paulistana pelo mesmo partido. Seu companheiro de chapa (e de partido) foi o também deputado bispo Wanderval, da Iurd. Nessa época, a igreja do bispo Macedo tinha parlamentares em diferentes agremiações, mas o PL era considerado reduto da Universal.

Em 1996, Cintra foi vice na chapa de Francisco Rossi (PDT) à prefeitura de São Paulo. Em 1993, teve seu primeiro mandato, de vereador, pelo PL. Mas passou do legislativo para o executivo, como secretário de Planejamento do prefeito Paulo Maluf. Marcos Cintra é economista. Desde 1969, professor da Fundação Getúlio Vargas.

Em seu verbete na Wikipedia e em sua página oficial na internet (o texto é idêntico), Cintra omite o nome de Maluf e peripécias que protagonizou antes de arribar no PRB do bispo Macedo.

O Estadão podia ter dado algumas dessas informações, úteis para o leitor tentar entender o contexto em que se move Cintra.