Thursday, 14 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Mais reportagem, menos pesquisa

Parecia GP de Fórmula 1: Fulano na frente, mas Sicrano encosta. Fulano ganha no primeiro turno. Se as eleições fossem hoje, haveria segundo turno. Aumenta a vantagem de Fulano sobre Sicrano e Beltrano.


Tudo bem: pesquisa é informação. Mas eleição não é corrida de automóveis: eleição é um fato político. Posso votar num candidato tendo a certeza absoluta de que ele não tem a menor chance. E, se várias pessoas fizerem o mesmo que eu, o candidato passa a ter chance – e foi assim que Luíza Erundina, atropelando o favorito Paulo Maluf, atropelando o segundo nas pesquisas, João Leiva, chegou à prefeitura de São Paulo. Houve uma decisão política de alguns milhares de eleitores, decisão esta que virou o resultado das eleições na véspera do voto.


Nestas eleições o noticiário teve muita pesquisa, teve muita denúncia, teve muita gravação. Mas este colunista não entendeu direito, por exemplo, por que o ministro Édison Vidigal, sempre tão ligado ao senador José Sarney, saiu do Superior Tribunal de Justiça para ser candidato contra Roseana Sarney, no Maranhão, sabendo que suas chances de tomar uma surra memorável seriam imensas. Ou por que o senador Tasso Jereissati, um dos coordenadores da campanha tucana de Geraldo Alckmin, apoiou em seu estado, o Ceará, o candidato de Lula. Ou por que Germano Rigotto, governador do Rio Grande do Sul, adversário local do PT e com todo o perfil de chuchuzista, se absteve de apoiar Alckmin. Por que o governador paulista Cláudio Lembo, a cara do PFL, de uma fidelidade absoluta aos aliados, tratou com tanta ironia o candidato presidencial de seu partido?


De vez em quando, sabíamos dos fatos: Fulano faz corpo mole, Sicrano subiu no muro. E que é que está por trás disso? Faltou a reportagem política, substituída pela pesquisa. Soubemos então o resultado da costura política – mas saber o que houve na costura política sobrou para os insiders. Os consumidores de notícia, como diria um famoso político, foram incluídos fora disso.




Trabalhar cansa


Há uma explicação para a supervalorização das pesquisas em detrimento da reportagem. A pesquisa chega pronta, é só dar uma analisada superficial e botar na manchete (no dia seguinte, analistas de pesquisas divulgam as análises que fizeram). Reportagem exige muito trabalho, pede infra-estrutura e custa caro.




Memória curta


Parafraseando o grande Ivan Lessa, no Brasil acontece um escândalo novo, que faz esquecer o escândalo anterior, a cada 15 minutos. Os dólares na cueca, por exemplo, bestificaram o país. O então presidente nacional do PT, José Genoíno, que não tinha nada com o caso (o dono da cueca rica era um assessor de seu irmão, que faz política no Nordeste), acabou caindo, em boa parte empurrado por este caso. Agora, caro colega, responda rápido: de quem era o dinheiro? E qual o fim a que se destinava? Que tipo de produto ou serviço valia o risco de transportar tanto dinheiro cash – e, dado o peculiar alojamento dos maços de dólares, compensava uma viagem tão desconfortável?


Outro caso interessantíssimo é o da Operação Dilúvio. No primeiro dia, notícias sem parar, envolvendo nominalmente poderosos empresários – entre outros, um joalheiro conhecido no mundo inteiro, o maior revendedor de moda masculina do país, uma butique que se transformou em sinônimo de artigos de luxo. No segundo dia, pouca coisa. E, do terceiro em diante, nada: a fonte secou. Alguém estaria sendo processado? Terá alguém sido autuado? Não se sabe.


Uma conhecidíssima socialite e empresária foi acusada pela Polícia Federal de, em conluio com uma grande importadora, trazer para o país mercadoria estrangeira subfaturada, burlando a fiscalização por meio de uma série de expedientes não exatamente legais. Houve dois dias de reportagem. Só. E como está o caso hoje? Este colunista não tem a menor idéia.


E houve um caso que, pela violência da ação, despertou muita curiosidade. Toda a diretoria de uma empresa de bebidas em ascensão foi presa. O presidente da empresa, temeroso de abrir sua casa para homens mascarados, no final da madrugada, foi ameaçado de ter suas portas explodidas a bomba. Isso aconteceu há muitos meses – e cadê os processos? Se existem, a imprensa não noticiou.


A culpa não é só da imprensa: é também das autoridades que promovem operações com alarde e depois silenciam. Mas é também da imprensa, que não cobra insistentemente a suíte das operações espetaculares. As autoridades devem ser cobradas; e a imprensa deve noticiar como andam as coisas. E se as autoridades se recusarem a falar? Faça-se como nos tempos do nunca assaz criticado ministro Armando Falcão: divulgue-se que as autoridades nada têm a declarar.




O crime…


Os partidos que apóiam Lula – PT, PCdoB e PRB – pediram aos tribunais eleitorais que impedissem a divulgação da foto da montanha de dinheiro destinado a pagar a falsificação de um dossiê. Em primeiro lugar, é besteira: em poucas horas, a partir da divulgação pioneira (e louvável) da Agência Estado, o país inteiro tinha visto a dinheirama em detalhes. Se quiserem proibir, que proíbam; a foto já é amplamente conhecida. Em segundo lugar, estão querendo investigar como é que as fotos vazaram. Deveriam lutar, isso sim, para saber de onde veio o dinheiro. Origem legal é exatamente aquilo que este dinheiro não tem.




… o crime…


Fato semelhante aconteceu no Paraná: dezenas de fitas foram gravadas por Délcio Razera, do gabinete do governador Roberto Requião. Com a prisão de Razera, as fitas apareceram. Nelas, dizem, há um pouco de tudo – inclusive relatos sobre a remessa ilegal de recursos ao exterior, por parlamentares ligados ao governo paranaense. Um dos atingidos, o deputado Luís Romanelli, em vez de exigir que o caso seja investigado para que sua inocência seja estabelecida, luta para quebrar o sigilo telefônicos dos repórteres que divulgaram as gravações.


Nos dois casos, esquece-se o crime: o que importa é impedir que o crime seja divulgado. Para estes cavalheiros que saíram da linha e não querem perder a reputação, é uma pena que o papel da imprensa seja exatamente o oposto.




…e os crimes


Voltando à montanha de dinheiro, é preciso distinguir dois fatos inteiramente distintos, mas que no tumulto da campanha eleitoral, da guerra comercial entre editoras e na confusão do noticiário, acabaram correndo o risco de ser considerados um só. Um é a falsificação de um dossiê, que incluía uma entrevista que, conforme o próprio entrevistado, teria acusações falsas. Outra é a participação de um empresário, Abel Pereira, em licitações públicas apontadas como irregulares.


Os dois casos devem ser investigados a fundo: a falsificação e as licitações. Investigar só o dossiê é tão errado quanto dar atenção apenas ao empresário – e a imprensa, por mais que se tenha envolvido nas paixões da campanha, precisa ter isenção suficiente para examinar cada um deles.




Emperor size


Um leitor, profundo conhecedor de finanças, corrige um erro desta coluna: os bancos são obrigados a informar ao Coaf os saques em dinheiro iguais ou superiores a R$ 100 mil (e não R$ 10 mil, como publicamos equivocadamente), ou movimentações atípicas. No caso, acredita o leitor, o Coaf não foi informado porque colchão não manda informações. Colchões imensos, claro; daqueles americanos, maiores que o já enorme king size, e com divisões para dólares, euros e reais. E onde estarão esses magníficos colchões?


Ao contrário das lendas que correm sobre psicanálise, Freud não explica.




Cadê as hélices?


As duas notícias chegaram ao mesmo tempo, cada uma por um importante portal informativo de internet: de acordo com uma, caiu um helicóptero com o governador do Maranhão. De acordo com a outra, não houve queda, mas um pouso forçado. E não era um helicóptero, mas um avião.


Em tempo: a notícia do helicóptero falava em cinco pessoas. A do avião deixava por quatro. Nos dois casos, todos (os cinco e os quatro, seja lá qual for o número certo) se feriram levemente.




Cadê o revisor?


Duas delícias, ambas de internet:


1. “Paes e Palmeira utilizam imagem de presidensiáveis no horário eleitoral”


2. “O prefeito Gilberto Kassab (PFL) terá 30 dias para sancionar também a lei que proíbe propagandas em táxis, ônibus e bucicletas




E eu com isso?


Em 1815, quando as tropas do duque de Wellington enfrentaram Napoleão Bonaparte nos campos de batalha de Waterloo, na Bélgica, a família Rothschild, dona de bancos na Inglaterra e na França (e também na Áustria e na Alemanha), montou um sofisticadíssimo sistema de informações, tendo na ponta observadores visuais da luta. No momento em que Wellington venceu a batalha, cavaleiros a serviço dos Rothschild saíram a galope para Paris e Londres. No caminho havia postos de remonta, com outros cavaleiros e cavalos descansados. Alguns dias depois, os emissários dos Rothschild chegaram ao destino, trazendo com exclusividade o resultado da grande batalha. O banco Rothschild de Londres comprou, o banco Rothschild de Paris vendeu. O grupo lucrou nas duas pontas.


Não é como hoje, em que a informação chega à velocidade da luz. Em milionésimos de segundo, o mundo inteiro recebe informações sem as quais, efetivamente, nem valeria a pena continuar vivendo:


1. Luana Piovani afirma que continua saindo sem calcinha


2. Paula Lavigne e Paula Burlamaqui assistem a filme juntas


3. Xuxa diz que rapazes tinham medo de tirar sua virgindade.


4. Orlando Bloom diz que sua mãe acredita na imprensa e não nele.


Aliás , quem é Orlando Bloom?




Sonho impossível


A entrevista de Xuxa, a propósito, precisa ser lida. Segundo conta, como demorou para perder a virgindade, era conhecida pelo apelido de “Cabação”. E diz que gostaria de ter reatado seu namoro com o piloto Ayrton Senna. “Não sei se estaria com ele até hoje”, completou.


Não, não estaria.




Reincidência específica


Xuxa é sempre um grande tema. Há tempos, deu entrevista contando que, em certa época, acordou de madrugada e topou com um duende aos pés de sua cama. Pois é: ela disse. E dizem que o duende batia um bolão.




Como é mesmo?


Tudo bem, fechamento é sempre tenso, o tempo é sempre curto, e sob pressão as coisas ficam sempre difíceis. É uma boa explicação, não é? Ou a gente não conseguiria entender o que é que quer dizer o título abaixo. Seria um frango feroz, com características especiais? Será, talvez, uma ave tão inteligente que, apesar dos males que pode causar, conseguiu estudar e licenciar-se em Direito? Enfim, chega de suspense. Abaixo segue o grande título:



** McDonald’s e Burger King atacados na justiça por frango cancerígeno


Mas a melhor coisa da semana, em termos de dificuldade de entendimento, é outra: um título que este colunista e seus amigos examinaram de todas as maneiras, sem conseguir decifrá-lo. Cá está:



** 

mibr avança para finais do campeonato KODE5



Deve ter sentido, claro. Alguém deve entendê-lo. Algum especialista em entrevistas do ministro Gilberto Gil com certeza saberá do que se trata.

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Jornalista, diretor da Brickmann&Associados