Impressiona a falta de sensibilidade da maioria da mídia e da opinião pública que a secunda. Um pré-candidato à presidência, em terceiro lugar nas pesquisas, um dos mais votados na última eleição, de um dos maiores partidos do país, ex-governador de um dos mais importantes estados da Federação, toma a iniciativa de uma greve de fome, expõe os seus motivos, faz suas reivindicações, e qual o tratamento dado? Ridicularização, desprezo, ironia, desqualificação.
Isso mostra desrespeito por uma enorme gama de cidadãos não-petistas, que não se regozija com comentários maldosos e pretensamente espirituosos sobre algo que merecia ser tratado seriamente, com isenção. A greve de fome, apesar de drástica, é um instrumento legítimo; fazer piadinhas não é só sarcasmo de quem se ressente por não ter igual destemor, é sadismo de quem não tem respeito pelo ser humano, por alguém que, certo ou errado, tomou a delicada decisão de expor sua saúde em defesa de sua honra. Critiquem-se, se for o caso, as reivindicações de Garotinho, não o seu gesto.
Pântano
Quanto ao direito de resposta, é bom lembrar, não é uma coletiva que vai resolver o problema: o direito de resposta deve ser proporcional ao agravo, no mesmo espaço em que foi feita a agressão, não em coletiva cuja manipulação da edição é feita pelos próprios algozes daquele que está se defendendo.
A mídia poderia ter um pouco mais de respeito ao menos pelo cidadão Garotinho. Por que uma turba tão feroz se levanta ressentida quando alguém toma algum gesto revelador de coragem, de audácia, de enfrentamento aos senhores do poder? São serviçais do poder, beneficiários das migalhas dos planos assistencialistas governamentais? Ou são também ressentidos pela própria mediocridade, pela incapacidade ou covardia de tomar uma atitude própria, autêntica, reveladora do próprio caráter, da própria índole, sem preocupação maior com os comentários dos percucientes (e isentos) ‘analistas’ ou ‘experts’?
Por que a personalidade própria é tão combatida nestes tempos modernos? Quem ousa sair do pântano (ou seria deserto?) de idéias e atitudes com um gesto inusitado, diferente da maioria, é logo apontado como ‘ridículo’, como ‘populista’ ou ‘oportunista’. Que decadência dessa nossa mídia e dessa nossa opinião pública, que morre de medo de ser particular, de ser própria, de ser autêntica! Que se esconde nos lugares-comuns e nas opiniões preconceituosas de festejados colunistas…
Atentado
O sr. Carlos Alberto Furtado de Melo afirmou que Garotinho foi demonizado pela mídia. Isso é algo evidente não só aos olhos do cientista político, mas do cidadão comum, que tem pensamento próprio e não é dado a comodamente assimilar por osmose as ‘profundas’ análises dos jornalistas, repetindo-as como se fossem psitacídeos. A pergunta é: cabe a alguém ser demonizado pela mídia porque surgiram denúncias que somente há pouco começaram a ser investigadas pelos órgãos competentes? Ou será pela reação dura que Garotinho teve contra a mídia, por se considerar perseguido?
A pergunta para a qual não estou vendo resposta nos noticiários e jornais é a seguinte: a mídia soube assimilar uma crítica dessa natureza do modo correto, ou preferiu, acuada pela verdade, descarregar seu arsenal contra um cidadão, demonizando-o, como afirmou o cientista político? O que estamos vendo, infelizmente, na cobertura deste episódio, são comentários que se repetem, quase sem variação. Afinal, pela dialética é que chegaremos mais próximos da verdade, que não é propriedade de ninguém, mas ideal a ser atingido.
A quem os meios de comunicação têm dado espaço, desde o início da greve de fome, para que divulgassem suas opiniões? Na maioria, adversários, como Renan Calheiros (governista), Tarso Genro e Lula. Lula teve destaque, dizendo que seria natimorto se entrasse em greve de fome cada vez que falassem mal dele. Esquece-se o presidente de que, como bem lembra Ricardo Noblat, tentou expulsar do país no ano passado o correspondente do New York Times que escreveu sobre seu gosto por bebidas alcoólicas. Que passasse um tempo abstêmio, e não, como fez, atentasse contra a liberdade de imprensa. Atentado que, agora, delirantemente, querem fazer crer que é Garotinho que comete, em sua legítima tentativa de se defender do que considera uma perseguição.
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Servidor público federal, Olinda, PE