Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Meio surdo, meio cego

Meninos, eu li. O texto, como de hábito muito bom, é do grande Ricardo Kotscho, finalmente de volta à vida real (ou quase). Está no NoMínimo desde o dia 2. No texto ‘Bons tempos, esses’ [clique aqui para ler], Kotscho conta que passou horas agradáveis na cobertura do escritor Fernando Morais, num bairro elegante de São Paulo. Lá havia figuras notáveis como Washington Olivetto, o jornalista Thomaz Souto Corrêa, diretor da Editora Abril, Jô Soares, Juca Kfouri, Nirlando Beirão, o advogado Manuel Alceu.

Entre aspas:

‘Posso andar meio surdo, mas não ouvi ninguém reclamando de nada (…) Ao contrário: a única queixa geral é que está todo mundo trabalhando demais, que há muito tempo não tinha tanto serviço, que não está dando para atender às encomendas.’

Kotscho tem toda a razão: este colunista andou sondando algumas pessoas, como Olavo Setúbal, os irmãos Safra e Pedro Moreira Salles, e todos estão muito otimistas, felizes com a situação. Se melhorar, estraga.



Quem são?

O Ibama andou flagrando uma série de madeireiras violando as leis ambientais na Amazônia e depredando a floresta, em vez de explorá-la racionalmente. Parabéns ao Ibama por ter flagrado a ilegalidade. Uma pergunta: qual o nome das madeireiras multadas por destruição daquilo que deveria ser preservada? Outra pergunta: por que o nome dos infratores não é divulgado? Seria interessante saber se não são aquelas madeireiras da Malásia, que arrasaram as florestas tropicais da Ásia, e que provocaram tantos protestos ao se instalar no Brasil.



Suitar é preciso

A família Collor é personagem de excelente matéria na IstoÉ (aquela com a capa de Marta Suplicy). Em entrevista ao repórter Mário Chimanovitch, Leopoldo Collor, o irmão mais velho, acusa o ex-presidente Fernando Collor de se recusar a pagar-lhe um empréstimo de 2,2 milhões de dólares – quase 6 milhões de reais – embora tenha recursos em contas no exterior. O motivo do empréstimo, diz Leopoldo, foi juntar numerário para comprar o Dossiê Cayman – um conjunto de documentos, depois declarado falso, em que Fernando Henrique Cardoso, Sérgio Motta, José Serra e Mário Covas eram apontados como donos de substanciosas somas em contas bancárias no paraíso fiscal das ilhas Cayman, no Caribe.

Vejamos só:

1. É a segunda grande briga entre irmãos. Na primeira, o depoimento de Pedro Collor contra Fernando foi importantíssimo no impeachment do irmão;

2. Dá indícios sobre contas não-declaradas de Fernando Collor no exterior;

3. Abre campo para novas investigações sobre o Dossiê Cayman.

Pergunta-se: por que ninguém, da imprensa, foi atrás da história? Dá para fingir que não aconteceu nada? O papel da imprensa é, às vezes, seguir notícias publicadas pelo concorrente. Foi assim que, na queda de Collor: todos foram atrás da entrevista de Pedro, publicada na Veja, e IstoÉ achou o motorista que ligou o presidente às quantias arrecadadas em seu nome.



Online

Se um jornal tem de seguir determinados padrões de qualidade, por que sua versão online é tantas vezes dispensada deles? E não falemos apenas da qualidade informativa – os online muitas vezes se dispensam de obrigações elementares, como cuidar da veracidade da informação ou ouvir a palavra dos atingidos. É preciso cuidar também dos demais aspectos do jornalismo: por exemplo, verificar a data das informações oferecidas ao internauta. Outro dia, um jornal apresentava notícias de três semanas atrás. É preciso também verificar se as legendas correspondem às fotos. Num jornal online, por exemplo, há três fotos, todas com legendas erradas. Numa delas, uma senhora é identificada como se fosse um cavalheiro que está comemorando mais de cem anos de idade. E, note bem, a senhora é, respeitosamente, gostosíssima.



Anhembi, o factóide

O choque de gestão prometido pelo prefeito paulistano José Serra está começando: a primeira mudança deveria acontecer no nome da empresa municipal de turismo, a Anhembi – que, segundo dizem na Prefeitura, passará a chamar-se SPTur. A mudança deveria acontecer – mas não é nada simples. Primeiro, porque a Anhembi é uma S/A e tem acionistas minoritários; mudar seu nome exige uma assembléia geral. Segundo, porque custa caro: é preciso trocar toda a papelaria, todos os contratos, todos os registros. Terceiro, porque significa jogar fora um nome que vem sendo promovido há 30 anos, e gastar dinheiro para fixar o novo nome.

E como é que a imprensa entra nessa, sem questionar necessidade nem procedimentos?

Boa pergunta.

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Jornalista, diretor da Brickmann&Associados