‘O considerado Fernando Paiva enviou à coluna um dos mais gloriosos momentos do jornalismo brasileiro, garimpado por esse grande repórter que é Décio Galina. A obra-prima saiu no jornal Atos e Fatos, de Três Passos (RS), distante 28 quilômetros de Tenente Portela, que vem a ser o cenário do crime. Galina informou que o assunto só não foi manchete nos dois jornais de Tenente Portela, Folha Popular e Jornal da Província, porque ambos estavam em ‘recesso de verão’ quando se deu o acontecido.
Eis este que já garantiu lugar entre os títulos mais ousados da imprensa do Século XXI:
TRIO PRATICA ORGIA COM ÉGUA NO INTERIOR DE CEMITÉRIO!
Uma ocorrência inédita registrada pela Brigada Militar de Tenente Portela, na madrugada do último sábado, 15 de janeiro, causou espanto e indignação na comunidade.
Os policiais foram comunicados do furto de uma égua no Bairro São Francisco e, ao saírem em diligência, surpreenderam três elementos ‘tratando’ o eqüino no interior do cemitério municipal.
Com a chegada dos brigadianos, dois dos ‘zoófilos’ conseguiram fugir mas o terceiro, ‘que estava na sua vez de tratar a égua’, foi preso em flagrante. Ele não conseguiu fugir porque foi literalmente flagrado com as calças na mão, em pleno ato sexual com a inocente égua.
(No dia seguinte, a coluna recebeu a mesma notícia, desta vez enviada pelo nosso Symphronio Veiga. Quer dizer: a égua galopa sua indignação pela Internet…)
Janistraquis, sertanejo que sempre respeitou a bicharada, deseja saber a opinião dos ‘onguistas’, os mesmos que pegaram no pé de Glória Perez por causa da ‘perversidade’ dos rodeios em Barretos: como os senhores e senhoras vêem esse exemplo explícito de ‘zoofilia erótica’? É que, em última análise, trata-se de extremada demonstração de amor e carinho…
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Defecatório
Saiu em tudo quanto é jornal:
Câmara não vai ser ‘supositório’ do Planalto, diz Severino
O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), criticou o excesso de medidas provisórias editadas pelo governo federal e disse que a ‘Câmara dos Deputados não vai ser apenas o supositório do Poder Executivo’.
Janistraquis, que já se acostumou à dessabença das autoridades deste país de m…, tentou interpretar o defecatório de Severino:
‘Considerado, é obóvio que o homem quis dizer ‘repositório’; afinal, este é o lugar onde se pode guardar qualquer coisa, inclusive os supositórios do pudê.’
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Bundas & Bundas
O considerado Paulo Leitão enviou mensagem à coluna:
Assustado, acabo de ler (quinta, 10/10/2205, 16h26) a manchete abaixo na página principal do portal Terra. Fiquei chocado! Quer dizer que a bela atriz tem, realmente, cara de bunda? Não concordo! Eis o títulão mais um pedaço do textinho:
Sandra Bullock usa creme de hemorróidas no rosto
Sandra Bullock, 40 anos, afirmou que usa creme para as hemorróidas no rosto, informou o jornal Evening Standard.
A atriz contou que aprendeu esse segredo de beleza durante a filmagem do longa-metragem Miss Simpatia 2.
Janistraquis, conhecedor do assunto, esclarece que hemorróidas no rosto são raríssimas; bem mais comuns, excetuando-se as ‘daquele lugar’, surgem no cérebro de muitos mandatários que por aí abundam…
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Mais luz!
A considerada Angela Ziroldo, companheira dos bons tempos da Istoé dos anos 70, lembra que Geraldo Mayrink, companheiro de melhores tempos ainda, no Jornal do Brasil dos anos 60, prepara-se para lançar seu livro Escuridão ao meio-dia.
Segundo Angela, trata-se de uma ‘reunião de ensaios informais, inteligentes e divertidíssimos desse jornalista e intelectual mineiro sobre o passado, presente e futuro da criatura chamada ‘homem’ na Terra’. O lançamento será às 18h30 da terça-feira, dia 22, na Livraria Cultura da Av. Paulista, 2.073.
O colunista assina embaixo porque o nome do autor é Geraldo Mayrink mas podem chamá-lo simplesmente de Talento.
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Visto, Lido e Ouvido
Acaba de ser nomeado vice-diretor de nossa sucursal no Planalto o ‘profissional contratado’ Porfírio Castro. Com vasta experiência parlamentar e jornalística, ele será o braço direito do mestre Roldão Simas Filho, este que mais e mais se assoberba, principalmente por causa das estripulias do Demônio de Garanhuns mais o Capeta de João Alfredo.
Porfírio estréia com duas notas de Ari Cunha, colunista do Correio Braziliense, criatura adorada pelas mulheres do DF, todas admiradas de ver como um homem pode conhecer tão profundamente o universo feminino. A coluna dele, intitulada Visto, Lido e Ouvido, é um bastião de tolerância nesta tão desatinada democracia em que vivemos. Aqui vai um breve excerto e a íntegra das duas notas está no Blogstraquis.
Na ânsia de entrar na passarela da fama, muitas mulheres prendadas e de boa formação aviltam os princípios nos quais foram criadas. Procuram os holofotes da vida, muitas vezes sem entender bem o que fazem. Isso vem a propósito dos movimentos feministas que se propagam pelo mundo. Merecem a classificação de machismo feminino(…)
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Presidências…
O considerado Giulio Sanmartini, que o inverno de Belluno obriga a homiziar-se em casa, debruçado sobre jornais brasileiros, viu o tempo esquentar quando leu esta notinha na coluna de Marcia Peltier no Jornal do Brasil:
Assédio social
Nunca dona Amélia Cavalcanti, mulher do presidente do Senado, recebeu tantos convites como agora. Socialites e lobistas estão fazendo de tudo para se aproximar da mulher de Severino Cavalcanti, que vem mantendo, bravamente, seu estilo discreto. Até a igreja que ela freqüenta a turma de bajuladores está querendo saber qual é.
Janistraquis tem certeza de que Severino, o Capeta de João Alfredo, não está interessado na presidência do Senado; ele quer que o Demônio de Garanhuns desça às profundas, acompanhado do seu vice, para então assumir a presidência… da República!!!
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De morte
Diretor da sucursal desta coluna no Ceará, com jurisdição em todo o Nordeste, Celsinho Neto despacha da Praça do Ferreira, em Fortaleza, onde mantém seu escritório e rede permanentemente armada:
Na cobertura do covarde assassinato do vigilante José Renato Coelho Rodrigues, crime praticado pelo juiz titular da 2ª Vara da Cidade de Sobral – terra do humorista Renato Aragão -, Pedro Percy Barbosa, o nosso indefectível Diário do Nordeste lascou esta:
O pai, Renato Coelho, compareceu acompanhado de familiares e do filho de José Renato, de apenas 6 anos de idade. Nas entrevistas que concedeu, pediu providências ao Tribunal de Justiça e ao Supremo Tribunal de Justiça (STJ), em Brasília, para que evitem a impunidade.
Ora, nada mais natural que o pai da vítima estivesse bastante atônito com os fatos, mas daí a repórter e editor deixarem passar esse ‘Supremo Tribunal de Justiça’ foi, desculpe o trocadilho infame e em hora inoportuna, de morte. STJ é sigla de Superior Tribunal de Justiça, sediado em Brasília.
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Amizade
Sorridente, o considerado Roldão Simas Filho acolheu o vice Porfírio Castro como se fosse da família, porém logo em seguida perdeu o humor ao ler uma notícia no agora duplamente ‘marcado’ Correio Braziliense:
Ao tratar da sucessão do governo do Distrito Federal, o jornal diz que o deputado Sigmaringa Seixas é amigo pessoal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sempre freqüenta a Granja do Torto.
Não conheço amigo impessoal. Todo amigo é pessoal. O adjetivo está substituindo um outro, íntimo, que caiu em desuso talvez por falso moralismo e mentes sujas.
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Nota onze
O texto mais assustador da semana e dos últimos tempos saiu da consciência piedosa de D. Luciano Mendes de Almeida, em artigo na Folha de S. Paulo. A leitura deste simples excerto equivale a meia hora de pesadelo:
(…)O feto anencefálico é um ser humano portador de grave deficiência cerebral e tem direito a perdurar na vida sem ser eliminado pelo aborto. À sociedade cabe respeitar o direito à vida, mais ainda quando se trata de ser humano inocente, indefeso e fragilizado. Que sentido tem toda a luta heróica em prol da saúde e da sobrevivência dos enfermos, acidentados e idosos se, de modo incoerente, concedermos a alguém o pseudodireito de eliminar o bebê anencefálico?(…)
Janistraquis concorda e sugere: as mães que gerarem fetos anencefálicos devem enviar os estranhos seres a Dom Luciano, que se encarregará de criá-los e educá-los à luz da Santa Madre Igreja.
(Leia a íntegra dessa obra-prima do obscurantismo no blog de Marcia Lobo, intitulado ‘Meus Sais’, novo espaço deste Comunique-se onde as mulheres podem rodar a baiana e chutar o pau da barraca.)
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Errei, sim!
‘POUCA LEITURA – Esta é do suplemento Viagem, só que do Jornal do Brasil. Na Alemanha, três boas livrarias, dizia a manchete de página. Janistraquis leu, releu e comentou: : ‘Considerado, três boas livrarias tem é em Caruaru; na Alemanha eu garanto que tem muito mais!’. Concordo plenamente.’ (novembro de 1992)’
LÍNGUA PORTUGUESA
‘Erros que divertem e ensinam’, copyright Jornal do Brasil, 21/03/05
‘Vários profissionais têm reunido casos antológicos de falhas graves ou pequenos desacertos de colegas, mantendo anonimato da autoria, pois o propósito de tais coletâneas é corrigir os erros e evitar sua repetição, sem tripudiar sobre quem os cometeu.
Há grande diferença entre erro e deslize, em português, como em direito e em medicina. Uma coisa é errar o tempo e a conjugação de um verbo, a colocação de um pronome ou de um advérbio. Outra, bem diferente, é levar alguém à prisão ou à morte por tal incompetência.
Já ouvi que em nossas leis, que se dividem entre as que ‘pegam’ e as que ‘não pegam’, os verbos estão no futuro e este nunca chega: ‘o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor’, diz o artigo XXXII de nossa Constituição. Quando? Vale para os serviços 0800 e para as companhias telefônicas e provedores de Internet? O cidadão quer saber!
São freqüentes os deslizes de língua portuguesa no exercício das profissões, mas, embora não pareça, poucos são tão rigorosos consigo mesmos como os advogados. Ainda que diplomado em centros de excelência, nenhum deles pode exercer a profissão, se não for aprovado em exames nacionais aplicados pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
Como já são proverbiais algumas besteiras proferidas em documentos judiciários – mais abundantes em petições do que em sentenças, por razões óbvias – algumas publicações, dirigidas por advogados, tentam corrigir a situação, como é o caso da revista Redação Jurídica, publicada em Niterói com apoio da OAB.
No número treze, traz curioso artigo de Davi da Silva Sá, que reúne sob o título Folclore Jurídico trechos extraídos do mundo judiciário. Eis alguns exemplos: ‘Xingavam a todos com palavras de baixo escalão’. ‘Encontramos a vítima caída ao solo, aparentando ter cometido um homicídio contra si mesmo’. ‘Constava um objeto apreendido: duas latas de cera Odd e uma lata de cera ppO’. Os redatores, nos dois primeiros casos, confundiram baixo calão, equivalente a palavras vulgares, com ‘baixo escalão’, e suicídio com homicídio. No terceiro caso, o redator pensou que uma das duas latas de cera, que ele referiu como ‘um objeto’, fosse de marca diferente. Não era. Estava apenas de cabeça para baixo. A lata, não o redator.
Nascido do latim, o português guarda em seu vocabulário ‘pensamentos recônditos, intenções torcidas, ódios secretos’, como diz Machado de Assis em Várias Histórias.
Certa vez o signatário, buscando entrevistar um juiz, recebeu convite para assistir a uma audiência. Um dos querelantes — palavra que veio do latim querella, queixa, amparada na forma verbal queror, gritar – usava toda hora o verbo judiar com o significado de maltratar. E o juiz era judeu! Em resumo, ofendia sem querer as ancestralidades da etnia, sem racismo nenhum, apenas por descuido. Cometia, pois, um deslize em sua argumentação.
Significados ocultos podem, entretanto, ser rasteados se pesquisarmos a viagem que as palavras fizeram até chegar ao português. Nem todos os significados são explícitos, alguns estão ocultos no seio dos vocábulos. São seios que não usam sutiãs, como os seios da face (expressão corrente em medicina), o seio da família e o seio da liberdade, este último definido como cidadela de resistência no Hino Nacional: ‘em teu seio, ó liberdade, desafia o nosso peito a própria morte’.
De todo o exposto, ex positis, concluímos: os profissionais precisam estudar português! E talvez um pouco de latim também, quod erat demonstrandum!’
Luiz Gonzaga Bertelli
‘O desaparecimento do idioma português’, copyright Gazeta Mercantil, 17/3/05
‘Existem tantos estrangeirismos em uso no nosso vocabulário, que alguns gramáticos proclamam a gradativa extinção do idioma nacional. Nos últimos 300 anos, línguas desapareceram em ritmo acelerado.
Para os estudiosos, o fenômeno atinge o mundo todo, entre outras razões devido à globalização da economia, ao desaparecimento das nações e ao contato com culturas mais desenvolvidas.
Contudo, há outros testemunhos contrários alegando que seria normal e admissível a inclusão de palavras estrangeiras e, dessa forma, não evidenciam razões para qualquer movimento defensivo ou de preservação do vernáculo. Evanildo Bechara, notável filólogo e membro da Academia Brasileira de Letras, considera enriquecedor o processo de incorporação dos estrangeirismos.
‘Não há língua que tenha o seu léxico livre dos estrangeirismos’, assevera. Foi o que aconteceu, como menciona, com a terminologia clássica e introdutória do futebol no Brasil, quando se falava em goal keeper, off side e corner.
Perfilo entre os desejosos de maior divulgação da nossa leitura e dos investimentos nas bibliotecas públicas, ao reconhecer que os jovens estão falando e escrevem cada vez pior. Vigora lei que determina haja pelo menos uma biblioteca oficial em todos os municípios brasileiros.
Os alunos, hoje, não sabem mais escrever à mão, nem mesmo separar sílabas. No mundo empresarial, comumente, é aconselhado que o ensino do idioma inglês deveria ser compulsório desde o curso fundamental. Não obstante, o Ministério das Relações Exteriores determinou recentemente que a prova de inglês não seja mais eliminatória no processo de seleção dos candidatos à diplomacia.
A professora Cecília Prada narra que, em encontro com escritores, ouvira a afirmação que o mais importante num livro era o seu conteúdo, pouco importando se bem ou mal escrito, se o vernáculo estava correto ou não.
No século 16, o português foi a língua de comunicação internacional, idioma global. À época, 3 milhões falavam português em sua forma arcaica, decorrente dos descobrimentos marítimos e da atuação dos missionários.
São oito as nações de língua portuguesa: Brasil, Portugal, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. A tais países se somam alguns territórios.
Até o agonizar do século 17, apenas uma em três pessoas falava português no Brasil. A preferência dos nativos era o tupi, língua geral dos índios.
Tramita no Congresso Nacional o projeto de autoria do deputado federal e ministro Aldo Rebelo proibindo o emprego dos estrangeirismos, mui especialmente os ingleses.
Se aprovada a lei, deixaríamos de usar expressões inglesas ou americanizadas, como meeting, paper, personal bank, head hunter, playground, delivery, fast food, entre tantas outras.
Alberto Nepomuceno, músico erudito cearense, certa ocasião fez campanha para que as canções fossem cantadas unicamente em português.
‘Não tem pátria ou povo que não canta na sua língua’, dizia. Para o vate luso Fernando Pessoa, Portugal poderia desaparecer, desde que a língua sobrevivesse (‘Minha pátria é a língua portuguesa’).
Nas últimas eleições municipais, não registramos críticas acentuadas aos candidatos por erros gramaticais. Contudo, nos debates tivemos escorregões freqüentes em relação à linguagem culta.
Todos os nossos políticos melhorariam se conseguissem ler bons autores. Bastaria meia hora diária de leitura dos nossos principais veículos de comunicação para o domínio da estrutura básica da língua. A maioria dos oradores se perde no improviso, mesmo conhecendo o tema.
Os melhores periódicos brasileiros publicam colunas resolvendo o que há de mais elementar em relação ao idioma. No ginásio estadual de Dois Córregos (SP), onde estudei, o professor Benedito Ortiz, nos tempos em que escolas públicas eram melhores que as particulares, com quatro aulas semanais de português, fazia ler em voz alta, junto com o ensino das regras gramaticais, analise léxica e sintática.
Similar prática de interpretação, em voz alta, adotava o professor de medicina Luiz V. Decourt, um dos criadores do conceituado Incor paulista, juntamente com o consagrado cirurgião E. Zerbini, visando despertar nos futuros médicos o gosto pela literatura.
Inquestionavelmente, a língua materna se aprende (ou melhor, se desenvolve) lendo e escrevendo, isto é, fazendo o uso dela, de preferência com bons padrões como modelo e estímulo.
A preservação do idioma nacional é imperativo, portanto, se pretendemos ocupar um posto de liderança entre os países em desenvolvimento.
Em artigo publicado na Folha de S. Paulo, o professor e acadêmico Arnaldo Niskier adverte sobre o risco de invasão estrangeira e de ausência dos cuidados que quase todos temos ao falar a nossa língua.
Dessa forma, é fundamental a concentração na recuperação do nosso patrimônio lingüístico e na valorização dos nossos escritores e da nossa literatura.’
SEM TÍTULO
‘Um título, por favor’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 15/03/05
‘Esta semana tenho que entregar um livro, que está pronto, mas faltava, já não digo o principal, mas algo sem o qual um livro não existe: título. Tinha umas dez possibilidades, mas nenhuma me agradava completamente. A idéia da véspera era expulsa pela do dia seguinte, que por sua vez… e assim por diante. Cheguei a pensar em chamá-lo ‘Sem título’. Seria original, mas não sei se alguém compraria um livro cujo título era a ausência dele. Como não conseguia bater martelo em nenhum, meu editor Pascoal Soto, da Planeta, resolveu me ajudar, me enchendo de sugestões.
Aflito, também comecei a disparar e-mails para os amigos. Enviava uma seleção dos títulos já feitos e pedia opinião. Avisava que, se nenhum lhes agradasse, estava aberto a receber colaboração. Explicava que era um livro sobre personagens que conheci e episódios que vivi ao longo de quase 50 anos de profissão. Humberto Werneck, uma das vítimas, me aconselhou: ‘eu fugiria de títulos que contenham ‘memória’, ‘lembrança’ e quejandos. Passam uma impressão de saudosismo que afasta muito leitor. Já saem meio mofados da oficina’. Era exatamente o que eu pensava. Dos que lhe mandei, ele ficaria com ‘Presente do passado’, que era o preferido de minha filha Elisa também.
O primeiro título que me ocorreu foi ‘Pedaços de mim e dos outros’, que minha mulher logo derrubou: ‘Isso é música do Chico’. Transformei então em ‘De mim e dos outros’, que Pascoal mudou para ‘De mim e tantos outros’. Ao lado desses, foram aparecendo: ‘Antes que seja tarde’, ‘O que dá para contar’, ‘Se não me falha a …’, ‘Minhas histórias alheias’, ‘Minhas histórias dos outros’.
Artur Xexéo mandou um bem moderno, ‘Cenas deletadas’, fazendo referência ao DVD – aos extras que o diretor deixa fora do filme. A idéia curiosamente voltou a aparecer nas sugestões enviadas por Marcia (seu marido Ricardo Setti é quem fez a leitura crítica do livro, corrigindo as bobagens): ‘Antes que eu delete’, ‘Cenas extras’, ‘Memória não virtual’, ‘Arquivos não virtuais’, ‘Memória não virtual’ e um que Setti acha uma ‘delícia’: ‘Do bolso do colete’ (ele sugeriu uma pequena alteração: ‘do meu colete’).
Elio Gaspari, que está nos EUA, comentou entre parêntesis os títulos que lhe submeti: ‘Antes que seja tarde (baixaria)’; ‘De mim e tantos outros (incompreensível)’; ‘Presente do passado (coisa de intelectual)’; ‘Se não me falha a… (propaganda de Viagra)’; ‘Minhas histórias alheias (acho que alheias fica em pé, caso ninguém ache hermético)’; ‘Minhas histórias dos outros (gosto desse)’.
‘Minhas histórias dos outros’ foi o último título que me ocorreu. Por coincidência, sem saber da opinião de Elio, acabou sendo o preferido também de Setti e de Pascoal. Já no final do ‘concurso’, Afonso Borges mandou um forte candidato: ‘Tempo guardado’, que sugeri alterar para ‘Tanto tempo guardado’. Como tenho até amanhã, vocês vão ficar sabendo de minha escolha quando o livro sair.
PS: Está circulando na internet a crônica ‘O orgulho de ser corno’, de Tutty Vasques, com meu nome. Espero não ser processado por apropriação indébita.’
MÍDIA & INTIMIDADE
‘O que eles fizeram com aquelas famílias’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 17/03/05
‘Não vou falar do namoro do Chico Buarque. Já se escreveu muito sobre isso. Mas aproveito o ensejo para resgatar uma situação do início da minha carreira. Creio que seja útil para ilustrar os conflitos que, volta e meia, somos obrigados a enfrentar no cotidiano da nossa profissão.
Era o meu primeiro emprego jornalístico, eu trabalhava, aos 21, como redator de uma pequena emissora de televisão da Grande São Paulo. Entre as vinte notas de telejornal que escrevia, diariamente, uma deveria ser mais descontraída, curiosa, humorística, o molho do encerramento de cada edição.
Um dia o editor-chefe me entregou uma nota de jornal sobre um marido que ‘perdera’ a mulher para um encanador, algum profissional do gênero, desses que fazem visitas domésticas. Lembro-me, vagamente, de que, além de passar por essa, o marido amargara um prejuízo extra. A mulher fugira com o outro, não sem antes ‘tungar’, levar tudo do ex-companheiro.
Meu chefe gostou e me mandou escrever a nota engraçada. Pensei, pensei e concluí: ‘Engraçada porque não foi com a gente’. O meu raciocínio foi o seguinte: esse sujeito, o traído, já está arrasado o suficiente, não temos por que tirar sarro do seu infortúnio. Primeiro, porque devemos respeitar o significado literal da palavra intimidade; segundo, porque uma notícia como essa desmoraliza qualquer um, num país de mentalidade paleolítica, como o nosso. E o bom jornalismo deve concorrer para a construção da cidadania, não para o esculacho público da intimidade.
‘Não vou escrever – decidi -, mesmo que isso me custe o emprego’. Depois de algum tempo, o editor me perguntou pela notinha. Expliquei-lhe, com jeito, que não deveríamos veiculá-la, que tínhamos que proteger a intimidade das pessoas, que aquilo provocaria uma meia-dúzia de risos, mas, de outro lado, afetaria ainda mais a vida de alguém, e por aí foi…
O chefe ficou bravo e, de saída, já à porta da Redação, ordenou: – Você vai escrever.
‘Ai, ai… Vou perder o emprego, mas não vou escrever…’. Eu tinha enfiado na cabeça que não usaria o jornalismo para ridicularizar o cidadão. Se o emprego era o problema, eu que arrumasse outro. Ia me ferrar, faltaria grana para pagar a faculdade, mas fazer o quê…
-’Fulano’, eu não posso…
Ele virou as costas e saiu.
Passaram-se umas duas horas. No fechamento, o editor me perguntou: – Cadê a nota? Respondi: – ‘Fulano’, eu já disse para você que eu não vou fazer isso…
Irritado, o chefe pegou o recorte e foi para a máquina de escrever. Ele mesmo se incumbiu de redigir o texto, entre um e outro olhar fuzilador para o amotinado. Como de hábito, a notinha pitoresca encerraria aquela edição.
Não falamos mais nisso, no dia seguinte. O editor errou, mas, homem de bom coração, não me demitiu. Apesar de discordar, deve ter entendido o meu pensamento, e nos damos bem até hoje.
Me senti em paz, cedo entendi que uma das minhas maiores preocupações universitárias, a de ser ‘engolido’ por um sistema viciado, tinha mesmo razão de ser. Mas tudo dependeria da minha reação. Nessa me dei bem, noutras me daria mal e seria prejudicado com retaliações.
Conto essa história para dizer que é preciso reagir, ainda que com gentileza, às ordens estapafúrdias e, conscientemente ou não, anti-éticas e irresponsáveis dos nossos chefes. Isso é um dever moral. Um amigo meu, colega respeitado, tem-no dito aos quatro ventos: por falta desses embates, o jornalismo brasileiro tem se caracterizado, dia após dia, pela mediocridade do conteúdo e das relações profissionais, sejam internas (editores, pauteiros, chefes de reportagem, repórteres) ou externas (fontes e repórteres).
Não resisto e aproveito: desnecessário escrever mais sobre o comportamento de certos editores e repórteres nesse episódio do Chico Buarque de Hollanda. Está claro o que eles fizeram com aquelas famílias.’