Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Murdoch vence batalha
e compra Dow Jones


Leia abaixo os textos de quarta-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


************


O Estado de S. Paulo


Quarta-feira, 1° de agosto de 2007


DOW JONES VENDIDA
O Estado de S. Paulo


Rupert Murdoch se torna o novo dono do ‘Wall Street Journal’


‘Agências Internacionais – O magnata da mídia Rupert Murdoch, controlador da News Corp., fechou ontem a compra da Dow Jones & Co., que publica o Wall Street Journal. A notícia foi veiculada pelo próprio Wall Street, em sua edição eletrônica, ontem à noite.


‘Um século de controle da Dow Jones & Co. pela família Bancroft chegou ao fim’, anunciou a reportagem do Wall Street Journal.


‘A News Corp., de Rupert Murdoch, selou um acordo de US$ 5 bilhões com a empresa que publica o Wall Street Journal depois de três meses de drama na família controladora e debate público sobre valores jornalísticos.’


De acordo com o jornal, o negócio foi aprovado pelos conselhos de administração das duas empresas e estava para ser anunciado ontem à noite.


A última dúvida que restava nas negociações era a disposição dos integrantes da família Bancroft em vender suas ações da empresa. Parte da família temia que Murdoch pudesse afetar a reputação do Wall Street. O medo era que o empresário australiano influenciasse em questões editorias e desse um tom sensacionalista ao jornal.


Conhecido como empresário agressivo, dono de um império de mídia que inclui do canal de televisão Fox ao jornal Times, de Londres, Murdoch aceitou assinar um acordo com a família Bancroft para preservar alguns princípios editorais do Wall Street. Mas nem isso parecia suficiente.


Alguns membros da família Bancroft procuraram alternativas à oferta de Murdoch, mas se renderam nas últimas horas, ao perceber que não apareceria nenhuma proposta concreta pelo jornal. ‘Por um lado é muito triste, mas por outro era a única coisa razoável a fazer’, disse Elisabeth Goth Chelbert, integrante da família Bancroft. Ela justificou a venda com o argumento que agora a Dow Jones terá mais dinheiro para investir e maior presença global.


Outros membros da família trataram o acordo como um dia negro para o jornalismo. Leslie Hill pediu demissão do cargo de diretora da Dow Jones na segunda-feira à tarde. Em carta ao conselho de administração, disse que era um bom acordo financeiro, mas que os ganhos não compensam a perda da independência de uma empresa com ‘credibilidade e integridade incomparáveis’.


A grande pergunta que se faz após a notícia da compra da Dow Jones é: qual será o futuro do jornal? Desde que a oferta se tornou pública, três meses atrás, a carreira empresarial, o caráter e as motivações de Murdoch para a aquisição vêm sendo dissecadas, em um esforço para se prever o que fará o novo dono do Wall Street.


E, apesar do longo tempo que Murdoch vem cobiçando o jornal, ele pode não ter um plano definido, segundo entrevistas com pessoas próximas do empresário. ‘Há apenas uma pequena possibilidade de que ele realmente tenha um grande plano’, disse uma pessoa próxima de Murdoch.


Mas, baseando-se na história do empresário, não há dúvidas de que Murdoch terá como principal foco atrair tanto leitores quanto anunciantes do New York Times e do Financial Times, os rivais mais próximos do Wall Street. Sua estratégia irá incluir um agressivo corte de custos para anunciantes e fortes investimentos em conteúdo editorial – particularmente em Washington e nas notícias internacionais -, absorvendo as perdas, a princípio, para ganhar no longo prazo.


A maior ambição de Murdoch será colocar o Wall Street Journal como rival do New York Times. A idéia é fazer a influência do Journal ultrapassar a seara dos leitores interessados em economia e negócios. Murdoch quer reposicionar o periódico como líder mundial em negócios que falam a todos os consumidores.’


Eric Pfanner


‘Financial Times’ em busca de parcerias


‘Avanço de Murdoch faz jornal discutir novas formas de distribuir conteúdo


O grupo Pearson, dono do jornal Financial Times, informou na segunda-feira que está conversando com uma série de possíveis parceiros sobre novas formas de distribuição das notícias veiculadas no jornal. As conversas surgem no momento em que o grupo analisa os efeitos da compra da Dow Jones pela News Corp., de Rupert Murdoch.


‘Estamos conversando com todo tipo de pessoas sobre diferentes canais de distribuição’, disse em Londres Marjorie Scardino, diretora-presidente da Pearson. Entre os parceiros em potencial estão o CNBC, o canal a cabo de notícias econômicas de propriedade da NBC Universal. Recentemente, a Pearson e a General Electric, dona da NBC Universal, conversaram sobre a possibilidade de uma oferta conjunta pela Dow Jones, para juntá-la à CNBC e ao Financial Times. Mas as conversas não foram à frente. Essas negociações, que Marjorie chamou de ‘teste do produto’, foram desencadeadas pela oferta da News Corp. pela Dow Jones.


A executiva, falando no momento em que a Pearson anunciava seus resultados finais para o primeiro semestre, disse que juntar o Financial Times, um importante jornal diário de economia internacional, com o Wall Street Journal, o jornal de economia mais vendido nos Estados Unidos, teria oferecido ‘muitas sinergias de custo’.


Mas ela disse que quaisquer associação teria sido complicada pelas diferentes estratégias dos dois jornais.


O Financial Times, com uma circulação de cerca de 450 mil exemplares por dia, tem por objetivo servir a um nicho de mercado de líderes da economia global e políticos, disse ela. Como parte dessa estratégia, recentemente o jornal elevou seu preço de capa nos Estados Unidos de US$ 1,50 para US$ 2. Ela disse que o Wall Street Journal, que tem hoje uma circulação de mais de 2 milhões de exemplares, está buscando um ‘alto volume de público consumidor’.


Marjorie descreveu a recente decisão da Pearson de iniciar negociações exclusivas para vender o Les Echos, jornal de economia da França, para a LVMH Moet Hennessy Louis Vuitton, empresa de artigos de luxo, como uma medida para concentrar a estratégia jornalística da Pearson em marcas globais como Financial Times.


CIRCULAÇÃO


A circulação do FT subiu 1% no primeiro semestre em relação ao mesmo período do ano passado, enquanto o número de assinantes de seu site na internet aumentou 12%, chegando a 97 mil, disse a Pearson. A receita com publicidade teve uma alta de 5%.


Depois de alguns anos enfrentando dificuldades, o Financial Times voltou a ser lucrativo em 2007, e as receitas do jornal subiram de £ 5 milhões (US$ 10,1 milhões) um ano atrás para £ 10 milhões (US$ 20,2 milhões) no primeiro semestre deste ano.’


MEMÓRIA / MICHELANGELO ANTONIONI
Luiz Zanin Oricchio


O eclipse do mestre


‘Que é isso, 2007? Ontem tivemos de anunciar a morte de Ingmar Bergman e hoje, a de Michelangelo Antonioni. Vão-se, praticamente juntos, dois dos últimos mestres de uma fase áurea do cinema. Antonioni tinha 94 anos, estava doente havia muito tempo e morreu em sua casa, em Ferrara. Não falava desde quando sofreu um acidente vascular cerebral em 1985. Já nessas condições visitou o Brasil, em 1994. Esteve em São Paulo e daqui seguiu para o Festival de Gramado, onde foi homenageado. Foi personagem principal de uma noite inesquecível, a projeção, no Palácio dos Festivais, de uma de suas obras-primas, A Noite.


A Aventura (1959), A Noite (1960), O Eclipse (1961), filmes que formavam a chamada ‘trilogia da incomunicabilidade’ e fizeram a fama de Antonioni naquela virada dos anos 50 para os 60. O curioso é que o rótulo de ‘cineasta da incomunicabilidade’, bem acolhido durante algum tempo, depois passou a enfastiá-lo. Dizia, com razão, que tudo o que procurava com seus filmes era justamente se comunicar com o público. Mesmo que essa comunicação falasse exatamente dessa impossibilidade de um encontro completo e pleno entre as pessoas.


Antonioni, assim como seus amigos Fellini e Visconti, veio da escola neo-realista, a mais fértil do cinema italiano dos anos 40-50. Mas, em seguida desenvolveu estilo e preocupações temáticas próprias. Assim como Bergman, tinha interesse pelas situação do homem em sociedade e, sobretudo, as complicadas relações do casal moderno. Também como o mestre sueco, Antonioni tentou compreender a alma feminina, mesmo sabendo que tal tarefa é sempre destinada ao fracasso, como aliás já sabia o próprio Freud.


Muitos outros são seus filmes importantes, como o angustiado Deserto Vermelho, com Mônica Vitti, ou o formidável Passageiro: Profissão Repórter, que filmou com Jack Nicholson no papel principal. E que papel! Nicholson nunca fez nada melhor do que esse personagem que troca de identidade com outro e leva a farsa dessa segunda pele até as últimas conseqüências.


Outros pontos altos de Antonioni são Blow Up – Depois Daquele Beijo (1966), livre adaptação do conto de Julio Cortázar, Las Babas Del Diablo, e Zabriskie Point (1969), com seu final apocalíptico. Faria ainda as primeiras experimentações com vídeo em O Mistério de Oberwald (1980), voltando ao seu universo preferencial com Identificação de Uma Mulher (1982). Depois do longo silêncio causado pela doença, retorna à direção, mas desta vez a quatro mãos, com Wim Wenders, com Além das Nuvens, a adaptação de um texto próprio, Bowling Sul Tevere. Já bastante doente, em cadeira de rodas, comparece ao Festival de Veneza de 2005 para acompanhar a projeção e o debate de Eros, no qual assina o episódio O Fio Perigoso das Coisas.


É o último que se vai do grande grupo de diretores que fizeram a Itália ter, entre os anos 60 e 70, o melhor cinema do mundo.’


***


Um gênio e a tensa dissolução do indivíduo


‘O crítico Lino Micciché considerava que, da ‘santíssima trindade’ italiana – Antonioni, Fellini e Visconti – apenas o primeiro conseguiu manter uma total coerência com sua obra. Para Micciché, depois de Rocco e Seus Irmãos, Visconti mostra um ofuscamento da sua inicial tensão ideológica. Fellini, depois da obra-prima 81/2 teria experimentado uma luxuosa queda com Julieta dos Espíritos. Antonioni se mantém em nível constante ao longo de todo o decênio de 1970, enquanto seus colegas, tão geniais como ele, oscilavam.


Uma explicação foi dada pelo escritor Alberto Moravia: ‘Antonioni se parece a certos pássaros solitários que têm apenas um verso para cantar e o ensaiam dia e noite. Através de todos os seus filmes, Antonioni soletrou este verso e apenas este.’ E qual seria o ‘verso’ de Antonioni? A aridez das relações, a brutalidade da vida moderna, a mediocridade do destino humano. Foi retrabalhando essas questão, filme após filme.


Mas dizer que fala sempre da mesma coisa é grave erro, lembra o mesmo Micciché. Antonioni instala-se num núcleo temático definido, mas o expande à medida que seu trabalho se desenvolve e sofistica. As origens o explicam, em certa medida.


Antonioni, como Visconti e Fellini, veio do mais fértil movimento cinematográfico italiano, o neo-realismo, vertente que valorizava o realismo, propunha produções rodadas em locações verdadeiras e não em estúdios, e muitas vezes utilizava atores não-profissionais no elenco. Não por acaso, seus primeiros filmes foram documentários, um conjunto deles como Gente do Pó (1943), N.U. (1948), Superstição (1949), Sette Canne, un Vestito (1949), L’Amorosa Mensogna (1949), La Villa dei Mostri (1950), La Funivia del Faloria 1950), entre outros. Uma imersão no real, mas, segundo seus críticos, já com atenção ligada na subjetividade dos personagens e o interesse psicológico pelos personagens burgueses – estes mesmos que irão povoar seus filmes mais conhecidos.


Esses elementos entrariam na composição dos seus trabalhos ficcionais, mesmo nos primeiros, como Crimes d’Alma (1950) e Os Vencidos (1952). Também não por acaso, o episódio que escolhe no filme coletivo Amores na Cidade é sobre o suicídio. O que começa a lhe interessar, naquela fase já pós-neo-realista é esse mal-estar que se instala na sociedade européia do após-guerra. A questão neo-realista era: o que fazer para reconstruir uma sociedade devastada pela guerra, e como fazê-lo para que não se repitam os erros que a haviam levado à destruição. A questão posterior – pelo menos aquela assumida por Antonioni – é de ordem diferente: como se instalar numa sociedade já reconstruída, mas de maneira completamente hostil para os indivíduos? É o que vem discutido em As Amigas (1955), no ambiente da moda, e também em O Grito (1957), filme de título emblemático e ambientado no universo operário.


Nesses filmes já temos uma diferenciação de estilo de Antonioni. Já optou pelo tom um tanto seco, pelo rigor formal dos quadros, por um sentido especial da duração. As cenas sempre parecem ter o tempo devido, nem mais nem menos. Justo o tempo e a intensidade necessários para transmitir aquela emoção particular, que é sentimento de se viver numa sociedade pós-industrial na qual os seres são, para usar a terminologia correta, coisificados até o limite. Esse desespero contido, mas que se rompe quando a corda fica tensa demais – no suicídio, em As Amigas, no desespero em O Grito, diálogo com a tela homônima de Munch, obras de mesma inspiração.


Em sua trilogia de A Aventura, A Noite, e O Eclipse, Antonioni vai cercar seus temas obsessivos não mais no mundo operário, junto aos trabalhadores, mas na burguesia italiana, ela própria atingida pelo ‘mal do século’. O tédio, presente no extravio da mulher em A Aventura, nos descaminhos dos casais em A Noite e O Eclipse. Não há como viver neste mundo das relações desencantadas, o mundo das coisas da sociedade européia, agora afluente porém sem alma. É a leitura que dela faz Antonioni.


Quais as saídas, ou sintomas, do tédio vital da sociedade da abundância? Antonioni vai procurá-los na Swinging London dos anos 60, reciclando um conto de Cortázar e fechando-o em um estudo sobre o olhar e a cegueira contemporânea – e Blow Up passa a ser um desses filmes que marcam a época. Em Passageiro: Profissão Repórter, a própria noção de identidade pessoal é colocada em dúvida.


Podemos entender o comentário de Moravia. Antonioni circulou em torno de temas afins por toda a vida. E, fazendo-o, ninguém como ele flagrou essa contemporânea contradição – num tempo que faz, como nunca, a apologia do individualismo, é o próprio indivíduo que desaparece.


FILMES


CRIMES D’ALMA (1950)


OS VENCIDOS (1952)


A DAMA SEM CAMÉLIAS (1953)


TENTATIVA DE SUICÍDIO – AMORES NA CIDADE * (1953)


AS AMIGAS* (1955)


O GRITO* (1957)


A AVENTURA* (1959)


A NOITE* (1960)


O ECLIPSE (1961)


O DILEMA DE UMA VIDA (1963)


O DESERTO VERMELHO* (1964)


AS TRÊS FACES DE UMA MULHER (1965)


DEPOIS DAQUELE BEIJO (BLOW UP)* (1967)


ZABRISKIE POINT (1969)


O PASSAGEIRO –


PROFISSÃO: REPÓRTER* (1975)


O MISTÉRIO DE OBERWALD (1980)


IDENTIFICAÇÃO DE UMA


MULHER (1982)


ALÉM DAS NUVENS* (1995)


EROS * (2004)


* Títulos disponíveis em DVD’


***


REPERCUSSÃO


‘‘Antonioni foi um dos mestres da Nouvelle Vague francesa e um poeta de elegância estilística, do rigor e da pureza. Sua obra está marcada pela dificuldade das relações entre os seres humanos, os indivíduos e o mundo’


NICOLAS SARKOZY – PRESIDENTE FRANCÊS


‘Herdeiro dos gigantes do cinema italiano, formado no teatro, mas também pintor e artista plástico, Antonioni dedicou seu compromisso cinematográfico a uma investigação sobre a complexidade e a fragilidade das relações’


CHRISTINE ALBANEL – MINISTRA DA CULTURA FRANCESA


‘Um alquimista do íntimo e o maior aquarelista do coração que o cinema moderno já conheceu’


GILLES JACOB – PRESIDENTE DO FESTIVAL DE CINEMA DE CANNES


‘Antonioni e Bergman alcançaram a plenitude em suas vidas e em suas obras’


THÉO ANGELOPOULOS – CINEASTA GREGO


‘Desaparece não só um dos maiores diretores de cinema, mas o mestre da modernidade’


WALTER VELTRONI – PREFEITO DE ROMA


‘Antonioni e Bergman eram os intérpretes dessa angústia que afeta o mundo contemporâneo, dos sentimentos do mundo no pós-guerra’


ALDO TASSONE – CRÍTICO ITALIANO


‘Era um diretor estupendo. Os dois filmes que fiz com ele foram maravilhosos (Crimes d’Alma e A Dama Sem Camélias) ‘


LUCIA BOSÉ – ATRIZ ITALIANA


‘O cinema perdeu um de seus maiores protagonistas e um dos maiores exploradores da expressão no século 20’


GIORGIO NAPOLITANO – PRESIDENTE ITALIANO’


***


Frases


‘‘Um filme se basta em si mesmo e responde narrando-se, por meio do personagem do homem definido em sua psicologia, ou neurose, ou loucura’


‘A fotogenia não tem regras. Normalmente quem tem testa espaçosa olhos separados, nariz pequeno e maxilar não protuberante sai bem’


‘O que me interessa é a irracionalidade. Acho que a razão sozinha não consegue explicar a realidade. Assim como não consegue explicar a clausura’


‘Sou obcecado por rostos. Quando estou sozinho no escuro, basta-me fechar os olhos para enxergar rostos’


‘Creio que o personagem de meus filmes do qual estou mais próximo é o jornalista de Profissão: Repórter’


‘A maior parte do público, pouco sensível ao que é realidade em toda a sua verdade, prefere uma visão artificial do mundo’


‘Sou um homem cheio de dúvidas, até mesmo no meu trabalho’


Tributo de Caetano


No álbum Noites do Norte, Caetano Veloso homenageia seu ídolo com uma canção, Michelangelo Antonioni. Relembre a letra: Visione del silenzio/Angolo vuoto/Pagina senza parole/Una lettera scritta sopra un visio/Di pietra e vapore/Amore/Inutile finestra.’


***


No campo de batalha existencial


‘AS AMIGAS


Baseado num texto de Cesare Pavese, Antonioni coloca sua câmera no mundo da moda de uma cidade industrial como Turim. No interior desse microcosmo, surge um tema inesperado, o suicídio, que era, como se sabe, uma questão crucial para o próprio Pavese. Na vida das amigas que se dedicam à moda, todas conseguem resolver-se, de maneira melhor ou pior. Menos uma, Rosetta (Madeleine Fischer), a mais sensível, talvez a melhor de todas, e que, por isso mesmo, não encontra lugar no mundo. O impossível lugar no mundo – um tema de Antonioni, por definição.


A AVENTURA


A vida dissoluta dos ricaços é mostrada neste passeio a uma ilha vulcânica. Um misterioso acontecimento perturba o ambiente: Anna (Lea Massari) desaparece na ilha e ninguém consegue encontrá-la. O que poderia ser apenas um thriller, transforma-se, sob o toque de Antonioni, em campo de batalha existencial, no qual os personagens se confrontam com suas ambigüidades, sua fragilidade, seu egoísmo, a relação sempre insuficiente em relação ao outro.


A NOITE


Marcello Mastroianni e Jeanne Moreau formam esse belo par, porém já bastante entediados pelo simples motivo de estarem juntos. No início da história, eles visitam um amigo, que está à morte em um hospital. Confrontam-se com o inevitável, com o término de toda experiência humana, mas nem por isso deixarão de entediar-se com tudo e, em particular, um com o outro. São bonitos, não têm grandes problemas de sobrevivência e, no entanto, não encontram sentido no mundo. Essa é a questão de Antonioni: que lugar ocupamos num mundo hostil?


O ECLIPSE


Monica Vitti vem de um relacionamento complicado e tenta um novo affair com um jovem corretor de bolsa de valores, vivido por Alain Delon. Mas o caso não progride. Há uma cena antológica quando se faz um minuto de silêncio na bolsa de Milão em honra de um corretor que morreu, e, logo a seguir, a balbúrdia do pregão se impõe. O final é um dos mais belos – e melancólicos – da história do cinema. Não há saída para o casal, nem para nada. E a própria natureza parece morrer quando o eclipse solar vai provocando o escurecimento da cidade.


O DESERTO VERMELHO


Um dos grandes trabalhos de Monica Vitti, atriz com quem Antonioni foi casado. Ela faz a dona de casa angustiada, que não sabe direito de onde lhe vem tanto mal-estar diante do mundo. A trilha sonora inusual, a fotografia em cores de Carlo Di Palma, valem ao filme uma ambientação muito marcante. É mais uma tentativa de retratar a vida alienada na sociedade contemporânea. Monica não sabe a razão da sua infelicidade. E essa é a tese de Antonioni: ignoramos o porquê, ele está oculto e faz parte da própria alienação.


BLOW UP – DEPOIS DAQUELE BEIJO


David Hemmings e Vanessa Redgrave estão no elenco deste que é um dos mais emblemáticos títulos dos anos 1960. Hemmings faz o fotógrafo de moda que, casualmente, descobre um crime quando revela uma de suas fotos, feita num parque público. O filme capta a agitação da Swinging London, mas é muito mais do que um documentário de época. Adaptado de Las Babas del Diablo, conto do argentino Julio Cortázar, procura ser um estudo sobre aquilo que vemos e deixamos de ver na sociedade contemporânea. É também uma reflexão sobre o olho moderno – o da câmera, por excelência. O crime, ‘oculto’, se desvela apenas para as lentes de Hemmings. O cinema também teria essa função, de olhar contemporâneo, testemunha da imagem num mundo que se recusa a ver.


ZABRISKIE POINT


É o único filme norte-americano de Antonioni e representa sua imersão nos valores da contracultura próprios da época. O filme tem um aproach não-realístico dessa realidade social e essa opção foi apontada como motivo para o seu fracasso comercial. Usa na trilha sucessos dos Rolling Stones e Pink Floyd. O apocalipse nuclear, ainda um fantasma daquele tempo de guerra fria, aparece no horizonte deste filme ousado, talvez não tão rigoroso do ponto de vista formal como os outros, mas ainda assim encantador. Como tudo o que Antonioni fez, presta-se (também) como comentário dos anos que correm.


O PASSAGEIRO – PROFISSÃO: REPÓRTER


Talvez o melhor trabalho de Jack Nicholson no cinema seja neste filme de Antonioni. Inspirado em O Finado Mattia Pascal, de Pirandello, trata da troca de identidade. Nicholson faz o personagem dado como morto que assume a identidade de outro. Passa a viver a vida alheia até descobrir que está metido numa aventura perigosa e pode terminar mal. Mesmo assim a leva até as últimas conseqüências. Um dos trabalhos mais brilhantes de Antonioni no plano formal, tem um dos finais mais conhecidos entre os cinéfilos – um longo plano em que a câmera passeia do interior de um quarto de hotel, sai à pracinha e volta ao aposento, como se atravessasse as grades da janela.


ALÉM DAS NUVENS


Esse filme de episódios é co-dirigido por Wim Wenders, pois Antonioni, já doente, não poderia assumi-lo sozinho. John Malkovich faz o papel de um diretor e funciona como elo entre as histórias. É, obviamente, um alter ego de Antonioni. Nesses episódios, prevalece a atmosfera básica que costumamos encontrar em seus filmes: a angústia, o sentimento de estranheza do mundo, a falta de sentido das coisas. As histórias são tiradas de um livro do próprio Antonioni, Quel Bowling Sul Tevere: Crônica de um Amor Que jamais Existiu, A Garota, O Delito, Este Corpo de Lama e Não me Procure.


EROS (EPISÓDIO ‘O FIO PERIGOSO DAS COISAS’)


Último trabalho de Antonioni, neste filme de episódios partilhado com Wong Kar Wai e Steven Soderbergh. No de Antonioni, temos a história de um casal que fica fascinado por uma estranha mulher. Não sabemos bem como Antonioni o dirigiu, doente e envelhecido como estava. No entanto, o filme tem pontos de contato com sua obra, na temática é claro, mas também no clima levemente perverso que se desencadeia assim que o homem e a mulher acabam caindo na mesma rede erótica da estranha. O interessante é que o filme utiliza a canção Michelangelo Antonioni, composta por Caetano Veloso em homenagem ao mestre.


Veja galeria de fotos e ouça a canção de Caetano no Portal do Estadão’


Ubiratan Brasil


Muitos diretores brasileiros declaram sua admiração


‘Poeta do tédio, Michelangelo Antonioni tinha um estilo próprio de dirigir que influenciou toda uma geração de cineastas, especialmente brasileiros, sobretudo ao adotar a teoria da incomunicabilidade. Quando prestigiou o Festival de Gramado, em 1994, o diretor italiano era admirado em suas aparições, tanto na cidade gaúcha como em São Paulo, onde chegou a assistir a um filme no ‘falecido’ cine Gazeta.


Walter Hugo Khouri, autor de filmes marcados pela indagação existencial, foi um dos principais divulgadores da obra de Antonioni no Brasil e, durante essa visita, deu uma valiosa dica ao mestre italiano: indicou a atriz Irene Jacob, que integrou o elenco de Além das Nuvens.


Além de Khouri, Walter Salles, Julio Bressane e André Klotzel são alguns dos cineastas nacionais que nunca esconderam sua admiração por Antonioni. Salles, por exemplo, nunca escondeu que o filme que o levou a fazer cinema foi Profissão: Repórter. ‘Com Antonioni, compreendi que não se escapa da condição de estrangeiro. É por isso que o personagem de Jack Nicholson se deixa assassinar no final de Profissão’, disse ele, em uma entrevista publicada em 1994.


No mesmo texto, Julio Bressane sustentava que Antonioni seguia uma trilha contrária a da maioria dos cineastas por realizar um cinema cujas idéias são transmitidas por meio de imagens e não pelos diálogos ou pelo roteiro. ‘O cinema é uma arte desconhecida dos diretores de cinema’, afirmou, na entrevista publicada pelo jornal O Globo. ‘Há uma deformação comum entre nós que é a de valorizar o enredo e não a imagem. Para transmitir certas idéias e emoções, o diretor se utiliza da trama. Antonioni não. Ele tem o dom de criar pelas imagens as suas referências. É na construção das imagens que ele revela seu caráter criador. Isso acontecia antes dele com Orson Welles e, depois, com Godard.’


Bressane conheceu Antonioni em 1992, durante um festival de cinema na cidade italiana de Taormina. Sua admiração é compartilhada com André Klotzel, que também considera fundamental a obra do italiano em sua formação. ‘Sua técnica de decupagem cria um estranhamento marcante’, comentou.’


VENEZUELA
O Estado de S. Paulo


Ultimato de Chávez à RCTV vence hoje


‘Governo ameaça tirar TV também do sistema a cabo se ela não aceitar status que a obriga a transmitir falas presidenciais


A emissora opositora Rádio Caracas Televisão (RCTV), que agora transmite pelo sistema a cabo, tem até hoje para se registrar como uma ‘produtora de audiovisual nacional’ na Venezuela, caso contrário o governo promete tirá-la do ar.


O prazo foi estabelecido na semana passada pela Comissão Nacional de Telecomunicações da Venezuela (Conatel). O registro como ‘produtora nacional’ obrigaria a RCTV a obedecer a todas as regras criadas pelo governo para o setor e transmitir os discursos feitos pelo presidente Hugo Chávez em cadeia nacional – algo que a emissora vinha se recusando a fazer desde que começou a veicular sua programação por cabo, no dia 16.


No ar desde 1953, a RCTV era a única emissora de alcance nacional que se mantinha na oposição ao presidente Chávez. No dia 27 de maio, porém, ela foi removida do Canal 2 da TV aberta porque o governo se negou a renovar sua concessão. Ao começar a transmitir por cabo, a emissora mudou sua sede para Miami, ampliou seu sinal para o Caribe, Aruba, Bonaire e Trinidad e Tobago e passou a se apresentar como ‘RCTV Internacional’. Com isso, seus diretores começaram a exigir o status de ‘produtora de audiovisual internacional’, o que permitiria à emissora escapar da obrigação de transmitir as mensagens presidenciais.


Representantes das operadoras de TV a cabo pediram ontem que o governo Chávez estendesse o prazo para o registro da RCTV. ‘Os parâmetros previstos na legislação venezuelana (para definir o que é um produtor nacional) são muito subjetivos’, disse o presidente da Câmara de Televisão por Assinatura, Mario Seijas. ‘Queremos mais claridade no tema’, completou.


Ainda ontem, o Tribunal Supremo de Justiça proibiu dois jornais do interior da Venezuela de publicar imagens sangrentas de vítimas de crimes. O governo costuma acusar a oposição de explorar a revolta da população com os altos índices de criminalidade do país a fim de prejudicar a imagem da gestão Chávez. ASSOCIATED PRESS, EFE E FRANCE PRESSE’


TV DIGITAL
Marilena Lazzarini e Luiz Fernando Moncau


TV digital, sistema anticópia e consumidor


‘As inovações tecnológicas no setor das telecomunicações têm apontado para um cenário em que provedores de serviços antes distintos, como TV por assinatura e telefonia, passarão a competir entre si oferecendo serviços muito similares. A tendência, chamada de convergência tecnológica, terá grande impacto para o consumidor. Por isso tem sido acompanhada de perto pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec). Um exemplo dessa grande mudança para o cidadão se observa na discussão das regras de transmissão da TV digital, cujo padrão foi recentemente escolhido pelo governo federal. Nos próximos dias, o Comitê de Desenvolvimento do Sistema Brasileiro de TV Digital, formado por 11 ministros, definirá se a TV brasileira incorpora um sistema anticópia, com o objetivo de combater a pirataria. Se isso ocorrer, serão introduzidas restrições que inviabilizarão, por exemplo, a possibilidade de gravarmos em casa, para assistirmos depois, aqueles programas que não pudemos ver, por qualquer razão. Um sistema anticópia é uma tecnologia aplicada a conteúdos digitais, como a programação de TV, que controla aquilo que o consumidor pode fazer com o conteúdo. Repudiado pelos Ministérios da Cultura e da Ciência e Tecnologia, entre outros, o sistema tem sido defendido abertamente pelo ministro das Comunicações. Para entender os efeitos dessa decisão sobre os direitos do consumidor, imagine-se que um distribuidor de música inclua o sistema anticópia nos seus CDs. Se o sistema for contrário às suas expectativas (por exemplo, ao não permitir que as músicas sejam executadas em certos aparelhos), o consumidor pode decidir não adquirir aquele produto. No caso da TV digital, é diferente. Se o sistema for adotado como padrão, toda a tecnologia da televisão digital será afetada. O consumidor perderá sua liberdade de escolha, na medida em que todas as transmissões estarão condicionadas ao sistema, bem como os conversores – que deverão ser adquiridos para viabilizar a leitura do sinal digital pelos atuais aparelhos de TV. Outro impacto ocorrerá sobre a chamada ‘convergência das mídias’. Com a tecnologia digital, os limites entre os serviços de ‘televisão’, ‘rádio’ e ‘internet’ estarão desaparecendo. Para o consumidor, é desejável a flexibilidade dos conteúdos: que o sinal da TV digital seja recebido no computador, no celular ou em qualquer dispositivo. O sistema anticópia, entretanto, eliminará essa possibilidade, por não permitir que os sinais que saem do conversor sejam exibidos em outros aparelhos, exigindo uma espécie de ‘licença’ para funcionar. Isso contraria o Decreto 4901/03, do Sistema Brasileiro de TV Digital, no seu objetivo de ‘contribuir para a convergência tecnológica e empresarial dos serviços de comunicações’. Além disso, se adotado como padrão, todos os conversores sairão de fábrica com essa tecnologia. Assim, prejudica-se a inovação, pois o fabricante brasileiro que quiser criar utilidades para os conversores da TV digital correrá o risco de violar os padrões técnicos impostos pelo sistema, inviabilizando a oferta de produtos que atendam melhor aos anseios dos cidadãos. Para o consumidor, o problema mais grave está no fato de que, em nome do combate à pirataria, se desconsideram as liberdades de reprodução, criadas com o intuito de promover o acesso a conteúdos e estimular a circulação de informação, cultura e conhecimento, elementos fundamentais para a promoção do desenvolvimento. Esses direitos, existentes na lei de direitos autorais, incluem a possibilidade de copiar pequenos trechos sem intuito de lucro, bem como a reprodução de obras em domínio público. E pior: o consumidor perderá esses direitos para nada, pois esse sistema anticópia vem sendo apontado como ineficaz por estudos internacionais, como os das Universidades de Berkeley e Princeton. Será fatalmente burlado por aqueles que fazem da reprodução em grande escala uma profissão. Por isso foi rejeitado nos Estados Unidos, país que tradicionalmente defende os detentores de direitos autorais. Se adotada, a medida defendida pelo Ministério das Comunicações seria um ‘tiro no pé’ para o combate da cópia ilegal, pois reduziria drasticamente o acesso à cultura e ao conhecimento sem contribuir para a redução da pirataria. Diante disso, somos contra a adoção do mecanismo em qualquer condição, pois seus efeitos colaterais serão maiores do que o problema que pretende resolver.


*Marilena Lazzarini, coordenadora executiva do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), é presidente da Consumers International; Luiz Fernando Moncau é advogado do Idec.’


TV PAGA
Marili Ribeiro


TV a cabo cresce 12% com ajuda da internet


‘O número de assinantes da TV paga no País chegou a 4,9 milhões em junho, 12% mais que no ano passado. O faturamento das operadoras do serviço foi de R$ 1,6 bilhão no segundo trimestre, um aumento de 19% em relação ao mesmo período do ano passado. A receita publicitária do setor também cresceu 8,3% de janeiro a junho na comparação com o mesmo período de 2006.


A Associação Brasileira de TV por Assinatura (ABTA) e o Sindicato das Empresas de TV por Assinatura (SETA), entidades responsáveis pelo levantamento dos dados, dizem que esse resultado é conseqüência direta da maior procura por serviços de internet banda larga. Ou seja, a possibilidade de compra conjugada de televisão paga e acesso rápido à internet foi o que deu gás para que o setor saísse da estagnação que o marcou na última década, quando o número de assinantes permaneceu na marca dos 3,5 milhões.


Todo esse cenário positivo, entretanto, só não é mais celebrado por conta de um nó que compromete a expansão do segmento: a infra-estrutura disponível para atender à demanda. Mesmo com opiniões divergentes sobre a solução, representantes das duas maiores operadoras, a NET e a TVA, reconhecem a atual limitação.


A NET diz que investe para sanar o problema na mesma proporção do retorno que vem tendo com a ampliação de sua receita. ‘A recuperação da renda da população impulsiona a procura e permite ampliação da rede de cabo’, diz Fernando Mousinho, diretor de Relações Institucionais da empresa.


INFRA-ESTRUTURA


A maior queixa dos assinantes fica por conta da frustração ao solicitar ofertas anunciadas – caso dos pacotes combinados com preço mais acessível para três serviços: telefonia fixa, TV paga e banda larga – e não ter acesso por falta de condições técnicas. Em muitas regiões não há o cabeamento bidirecional que permite o tráfego ida e volta de dados exigidos pela interatividade da internet.


‘Há limitações que não dependem das operadoras, mas que dependem de concessões do governo’, lembra Alexandre Annenberg, diretor-executivo da ABTA, para o caso de municípios que não contam com o serviço. ‘Basta ver que apenas 10% dos municípios do Estado de São Paulo têm rede de cabos.’


‘A maior limitação ao crescimento dessa indústria é mesmo a falta de infra-estrutura’, assegura Leila Loria, diretora-geral da TVA. ‘Na cidade de São Paulo, por exemplo, muitos prédios antigos não conseguem oferecer condições para instalação de infra-estrutura dupla. Como a NET chegou primeiro, nós não temos como atender às solicitações de potenciais clientes, o que acaba inviabilizando a concorrência.’’


TELEVISÃO
O Estado de S. Paulo


Televisão aberta pretende cobrar pelo sinal


‘Uma frente de batalha se arma entre os participantes do negócio de TV por assinatura e as grandes redes de televisão aberta. E, a depender do desfecho do que ainda é apenas especulação, poderá resultar em acréscimo de preço na cobrança do serviço de TV paga para o consumidor final do serviço.


Está em jogo uma discussão sobre pagamento, por parte das operadoras de televisão por assinatura, para as emissoras de televisão aberta pelo carregamento dos canais hoje gratuitos. Ou seja, Net e TVA, entre outras operadoras, teriam de pagar para transmitir a programação da Globo, SBT e Record, entre outras.


Pela lei em vigor, denominada Lei do Cabo, esse carregamento de canais abertos é obrigatório e inclui espaços na grade para transmissões de conteúdo dos canais oficiais. Qualquer mudança nesse sentido depende de um projeto de Lei, o que, segundo Leila Loria, diretora da TVA, já estaria em elaboração.


O interesse das emissoras de televisão aberta nessa alteração, nunca antes cogitada, começou a ganhar contornos com a próxima chegada da era digital na TV, marcada para estrear em dezembro. Ao requerer um decodificador para o recebimento do sinal digital, a transmissão deverá melhorar imagem em muitas regiões do País. Há uma interpretação de que muitos dos assinantes de televisão paga, na verdade, querem mesmo é melhorar o sinal da televisão aberta.


A ABTA diz não ter números específicos sobre isso. Dados do Ibope mostram que assinantes de televisão paga dedicam mais tempo aos canais abertos do que aos segmentados. Leila discorda e diz que os canais infantis, de filmes e documentários têm audiência elevada.’


Keila Jimenez


Rick & Steve aposta no humor ácido


‘Um desenho animado gay é o novo sucesso da TV americana. A série Rick & Steve: O Casal Gay mais Feliz do Mundo – sim, o nome da produção é esse mesmo -, que estreou há poucos dias no canal a cabo Logo (do grupo MTV), voltado para o público homossexual, já é o hit da temporada.


Na animação, o personagem Rick, um americano bem-sucedido, e Steve, seu namorado viciado em academia, vivem sua vida feliz em um casa fabulosa, até que se deparam com um probleminha. Kirsten, amiga lésbica de Rick, pede que ele a engravide, iniciando uma série de confusões na vida da dupla.


Segundo a imprensa internacional, a animação emplacou por conta de seus personagens ‘fofinhos’ e de humor ácido, para não dizer de mau gosto, ao estilo South Park. Em alguns episódios, há piadas sobre aids, pois Chuck, melhor amigo de Steve, é portador da doença.


Há também um personagem gay viciado em remédios para emagrecer. Entre as temáticas abordadas pelo desenho estão ainda o medo da violência homofóbica, as pessoas viciadas em compras, os transexuais e a adoção de crianças por casais homossexuais.


Belíssima e Alma Gêmea na Costa Rica


As novelas Belíssima e Alma Gêmea estréiam dia 9 e 13 na Costa Rica, pelo canal Teletica, o mais importante do país e que já tem um acordo de muitos anos com a Globo. Lançada em janeiro deste ano, Alma Gêmea vai ao ar às 10h30, veja só, e já foi vendida para dez países – atualmente é exibida nos Estados Unidos, Rússia, Peru e Venezuela. Belíssima ficou com a vaga do almoço, às 13h30, substituindo América, e já foi vendida para 22 países, como Chile, Venezuela, Argentina, Equador e Uruguai, sem perder de vista negociações com outros mercados.


Sogra em dose dupla


No primeiro episódio de Toma lá, Dá cá – que estréia no dia 7 -, Copélia (Arlete Salles) chega de surpresa para morar na casa da filha Celinha (Adriana Esteves). É o pesadelo do genro, Mário Jorge (Miguel Falabella) e do ex-genro Arnaldo (Diogo Vilela), que vive em frente.


Notas


>>Por incrível que pareça, Olavo, papel de Wagner Moura, era, originalmente, para Selton Mello. Como o ator não topou, Dennis Carvalho sugeriu Wagner para o vilão de Paraíso Tropical.


>>Fernanda Young é a mais nova colaboradora do Mais Você. A escritora promete criar novos quadros para o programa.


>>O glass studio, espaço que permitirá vista de 360º no topo do novo prédio da Globo em SP, está pronto. Oficialmente, a Globo não confirma, mas o local foi projetado para abrigar os telejornais Bom Dia São Paulo e as duas edições do SPTV.’


************


Folha de S. Paulo


Quarta-feira, 1° de agosto de 2007


DOW JONES VENDIDA
Folha de S. Paulo


Murdoch acerta a compra da Dow Jones por US$ 5 bi


‘O empresário Rupert Murdoch praticamente garantiu a compra do grupo Dow Jones, que publica o ‘Wall Street Journal’, o jornal de negócios mais vendido nos EUA e que só perde em vendas no país para o ‘USA Today’.


Com o apoio de 37,4% das ações com direito a voto da família dona do grupo, o negócio foi aprovado pelos conselhos da Dow Jones e da News Corp., empresa de Murdoch.


Para o negócio ser concretizado, a sua proposta de US$ 5 bilhões, ou US$ 60 por ação, precisa ser aceita por 29% de acionistas que não são membros da família Bancroft, que é proprietária desde 1902 do jornal fundado em 1882. E, dizem analistas, a tendência é que eles apoiem maciçamente a oferta.


Outra família, os Ottaway, com 7% das ações com direito a voto, é contra o negócio.


As ações da Dow Jones subiram 11% ontem, fechando a US$ 57,38, perto da oferta de Murdoch de US$ 60. Isso dificulta um recuo no negócio, que derrubaria o valor dos papéis.


Com a aquisição, Murdoch, 76, nascido na Austrália e com cidadania americana, reforça seu grupo de mídia que inclui a cadeia de TV Fox, tablóides como o ‘New York Post’ e o britânico ‘The Sun’ e o respeitado diário ‘The Times’ de Londres, além do estúdio de cinema 20th Century Fox.


A compra é vista com reservas por analistas de mídia e na redação do ‘Journal’ devido ao temor de que ele interfira editorialmente na ‘bíblia’ do mercado financeiro americano, o que ele promete não fazer.


O apoio de boa parte dos Bancroft era fundamental para que o negócio fosse adiante. Os fundos da família têm 24,7% das ações, mas controlam 64,2% dos votos, por meio de ações com direitos especiais.


A News Corp. disse que só oficializaria a sua proposta caso conseguisse um apoio significativo dos Bancroft, mas não disse qual era a porcentagem necessária. Anteontem, quando se calculava que sua oferta era apoiada por membros com 29% dos votos, um porta-voz da empresa afirmou que era ‘altamente improvável’ que o negócio fosse adiante.


A reviravolta aconteceu com a mudança de posição de um fundo dos Bancroft que detém 9% das ações com direito a voto. Esse ramo da família pressionava para que Murdoch aumentasse a sua proposta, o que o bilionário disse que não faria.


A decisão do conselho da Dow Jones de criar um fundo para cobrir os gastos com as firmas que aconselharam os Bancroft, como bancos e escritórios de advocacia, os fez mudar de idéia. Esses gastos podem chegar a US$ 30 milhões, de acordo com o ‘WSJ’.


Independência


Um outro ponto que travou a negociação, iniciada no final de março e tornada pública em maio, foi a independência do ‘Journal’. Apesar das promessas de Murdoch, os Bancroft negociaram a criação de um conselho independente para garantir que não haja interferências no jornal.


Ao adquirir o ‘Times’, em 1981, Murdoch fez promessas semelhantes e também criou um conselho independente, mas, apontam seus críticos, interfere nas decisões editorias.


Agora, ele reitera o anúncio, mas deixa claro que estará presente na Redação. ‘Creio que iria bastante à Redação, mas não todos os dias. Afinal, se o dinheiro da News Corp. estiver envolvido, seria uma imensa negligência minha não acompanhar a situação de perto’, afirmou em maio.


No final de junho, jornalistas do ‘WSJ’ não foram trabalhar durante uma manhã em protesto contra a possível venda para Murdoch.


Ele é acusado de usar seus jornais para apoiar políticos, como o ex-premiê britânico Tony Blair, ou governos, como o da China, em uma tentativa de conquistar apoio para seus negócios.


Desde o início das negociações, Murdoch deixou claro que pretende integrar as operações do grupo Dow Jones, que também possui agência de notícias, com as do novo canal de TV de notícias financeiras que pretende lançar. Ele já disse que, se possível, usará o nome do ‘Journal’ no novo canal.


Para o dono da News Corp., que faturou US$ 7,5 bilhões no primeiro trimestre deste ano, o ‘Wall Street Journal’ precisa de ‘mais publicidade’ para aumentar seu lucro.’


***


Jornalistas e leitores do ‘WSJ’ mostram apreensão


‘DE NOVA YORK – Parte dos jornalistas do ‘Wall Street Journal’ tem manifestado apreensão sobre os rumos do jornal sob o comando de Rupert Murdoch. Em junho, vários deixaram de trabalhar em protesto contra as negociações da empresa com o bilionário, preocupados com uma possível interferência editorial.


Na cobertura sobre o negócio ontem, o site do jornal fez um rearranjo em seu layout para dar destaque à notícia.


Para não ser acusado de omissão quando o assunto é ele mesmo, o mais importante e influente jornal de economia do mundo decidiu tomar o caminho inverso. Abriu uma sessão especial de cobertura a respeito e oferecia aos leitores também informações como a lista completa dos acionistas, a proposta de compra e um fórum de debates -muitos leitores manifestavam apreensão quanto aos rumos editoriais. Até o início da noite, os comentários no site passavam de 200.


O avanço de Murdoch no setor de mídia gerou reportagens na concorrência. No começo de julho, o ‘The New York Times’ publicou três artigos investigando o seu estilo empresarial e apontando seu lobby no Congresso. Um executivo da News Corporation acusou o jornal de querer atrapalhar o negócio por temer que daí sairia um concorrente muito mais forte, porém o ombudsman da publicação considerou que havia interesse jornalístico no caso e que o tratamento fora correto.’


***


Império global inclui cinema, TV e internet


‘A primeira investida do empresário Rupert Murdoch, 76, fora de sua Austrália natal ocorreu há quase 40 anos, quando, em 1968, ele adquiriu o tablóide dominical britânico ‘News of the World’.


Até aquele momento, o magnata da mídia, hoje naturalizado americano e com uma fortuna estimada em US$ 9 bilhões, era o proprietário de um grupo de comunicação na Austrália que ele assumiu aos 22 anos, após a morte do seu pai, que era dono de vários jornais, entre eles o ‘Sunday Times in Perth’.


Este jornal, dizem especialistas, já tinha o tom sensacionalista adotado por várias publicações adquiridas por Murdoch.


Na Austrália, Murdoch fez a empresa de seu pai crescer. Criou uma rede de TV, adquiriu publicações e, em 1964, lançou o primeiro jornal com circulação nacional do país: o ‘Australian’. Mas foi com a aquisição do ‘News of the World’ que ele passou a ter seu nome conhecido fora do país. Logo em seguida, ele comprou outro tablóide britânico de grande circulação, o sensacionalista ‘The Sun’.


Em 1973, ele entrou no mercado americano com a compra de dois jornais no Texas. E, três anos depois, se tornou o dono do tablóide ‘New York Post’.


A nova grande aquisição aconteceu em 1981, com o respeitado diário britânico ‘The Times’. E a sua ligação com a política se tornou mais clara, com suas publicações demonstrando apoio à então primeira-ministra britânica, a conservadora Margareth Thatcher (1979-1990), e seu sucessor, John Major (1990-1997). Com a chegada ao poder do trabalhista Tony Blair (1997-2007), o apoio permaneceu com o premiê do momento.


Casado três vezes, atualmente com uma chinesa, e pai de seis filhos, Murdoch, dizem seus críticos, coopera com os censores e as emissoras estatais da China, em uma tentativa de alavancar seus negócios no gigante asiático.


Além de jornais, Murdoch é proprietário, entre outros, do estúdio de cinema e canais de TV Fox, de editora de livros e sites de sucesso como o de relacionamento MySpace.com.’


***


DONOS DO ‘FINANCIAL TIMES’ DIZEM QUE NEGOCIAM PARCERIAS


‘Em resposta ao negócio de Rupert Murdoch com a Dow Jones, o grupo Pearson, proprietário do britânico ‘Financial Times’, disse ontem que está conversando com uma série de parceiros em potencial. ‘Nós estamos falando com todo tipo de pessoa sobre diferentes maneiras de distribuição de conteúdo’, disse Marjorie Scardino, principal executiva do Pearson. Entre os possíveis parceiros, afirma, está o CNBC, o canal de notícias financeiras da rede NBC. O Pearson e a GE, proprietária da NBC, chegaram a estudar a idéia de fazer uma proposta pela Dow Jones, mas decidiram não oficializá-la. Essas negociações aconteceram depois de Murdoch anunciar sua oferta pelos donos do ‘Wall Street Journal’.’


David Carr


Murdoch teve mais vontade que rivais


‘DO ‘NEW YORK TIMES’ – No final, o que decidiu a conquista da Dow Jones pela News Corp. foi um fator bastante simples: a vontade de Rupert Murdoch foi mais forte.


Ele queria a empresa mais do que outros interessados, como a General Electric, a Pearson (que edita o diário britânico ‘Financial Times’) e o investidor Rob Burkle, que não chegaram nem perto de contestar sua audaciosa oferta. Ele a queria mais do que as organizações de mídia que resmungaram em tom de reprovação quando ele apresentou a proposta, mas ofereciam pouco mais que retórica. E, por fim, ele a queria mais do que a família controladora, Bancroft, ou, no mínimo, ofereceu dinheiro demais para que rejeitassem a proposta.


Tendemos a analisar excessivamente as atitudes dos magnatas da mídia, em certa medida devido à primazia que conquistaram na era atual.


Sim, controlar uma empresa importante no segmento de notícias econômicas trará sinergias interessantes de conteúdo que permitirá, entre outras coisas, à TV Fox concorrer com a CNBC (canal de TV de notícias econômicas), uma base inicial de clientes da Dow Jones no mercado de informações financeiras e a cobertura do ‘Wall Street Journal’ sobre as atividades de todos os seus concorrentes. (Nota aos demais magnatas da mídia que optaram por assistir de casa: Murdoch acabou de comprar o jornal que registra o placar.)


Mas a aquisição serve essencialmente como lembrete de que o impensável pode ser factível, se houver o dinheiro e a vontade. Murdoch está comprando um jornal americano porque é sentimental, não porque tenha demonstrado competência especial para ganhar dinheiro nesse tipo de empreitada. Seu toque de Midas em tablóides estrangeiros, TV, filmes e, mais recentemente, aquisições na mídia digital como o site de relacionamento MySpace anda meio enferrujado quando o alvo são publicações dos EUA.


Seu controle sobre o tablóide ‘New York Post’ (em dois períodos distintos) é um sucesso, mas sugere que seu amor pela imprensa americana é irracional, propelido por uma atração pela forma de poder que a mídia impressa ostenta e só possível pelo sucesso de suas empresas em outras plataformas.


Caso os membros da família Bancroft não tivessem interesse em vender a Dow Jones, teriam bloqueado a porta quando a oferta inicial foi apresentada, em 2 de maio. A hesitação da família demonstrou colocou em movimento as forças de mercado que terminaram por derrubar qualquer obstáculo.


Quando a ação que estava empacada na cotação de US$ 36 dispara para a casa dos US$ 60, surge todo um novo grupo de interesses em defesa da mudança: os compradores de ações atraídos pela alta, que com certeza recorrerão à Justiça caso as coisas fiquem como estavam antes da oferta.


Assim, os Bancroft agora se unem a dinastias jornalísticas americanas que deixaram o setor nos últimos anos -os Ridder (da Knight Ridder, vendida em 2006), os McCormick e os Chandler (do ‘Chicago Tribune’ e ‘Los Angeles Times’, vendidos em 2007). A conclusão talvez não seja a que controle familiar e jornais não combinam, mas que proprietários ausentes e jornais não combinam.


A Dow Jones entrou em posição privilegiada na era da convergência -os dados financeiros ganham valor em forma digital- e não só se manteve inerte como desperdiçou essa grande vantagem enquanto concorrentes como Bloomberg e Thomson avançavam. Além dos imensos erros estratégicos, veteranos do setor editorial contam que o setor de vendas da Dow Jones levava demasiadamente a sério a idéia de preservar a confiança do público.


Uma cultura de venda de publicidade elitista demais -o oposto da ética que predomina na News Corp.- se satisfazia em receber os pedidos que chegassem espontaneamente e administrar o espaço, com resultados piores trimestre a trimestre, enquanto o lado editorial tentava resolver o dilema de continuar publicando em papel no período em que grande parte das verbas publicitárias começava a ir para a mídia online.


Como será o ‘Wall Street Journal’ com Murdoch ao leme? A sugestão de que Murdoch, cuja especialidade são os tablóides, começará imediatamente a insistir em manchetes sensacionalistas não leva em conta o que está em jogo. É verdade que ele mal pode esperar para ter em mãos o troféu que conquistou, mas minha impressão é que olhará mais para os números que para os textos.


Ainda assim, as pessoas se concentraram tanto em Murdoch que ninguém perguntou que espécie de cadeia jornalística a News Corp. seria sem ele.


O empresário, de 76 anos, age como se quisesse viver e comandar sua empresa para sempre. No curto prazo, precisará acomodar com cuidado a empresa que acaba de adquirir e continuar garantindo aos Bancroft que cumprirá a promessa de respeitar o acordo que assinaram quanto à independência editorial do ‘Journal’.


Mas é o escrutínio externo, mais que qualquer acordo interno, que garantirá que ele não interfira no noticiário.’


VENEZUELA
Folha de S. Paulo


Chávez deve tirar do ar hoje RCTV a cabo


‘DE CARACAS – Desta vez sem protestos significativos, a emissora oposicionista RCTV deve ser novamente tirada do ar às 23h59 de hoje pelo governo Hugo Chávez, após dezesseis dias de transmissão por assinatura.


Após não renovar a concessão para sinal aberto, vencida em maio, o governo exige agora que a RCTV se registre como ‘produtora nacional’, para obrigar o canal a transmitir os quase semanais discursos de Chávez na TV, além da propaganda oficial. O prazo expira hoje.


A emissora, que agora se apresenta como RCTV internacional, disse que sua sede é em Miami (EUA) e que transmite para outros três países. Portanto deveria ter o tratamento dado a canais internacionais como a CNN. Ao contrário de maio, quando o fim das transmissões provocou onda de protestos, não há mobilização até agora.


Anteontem, o governo Chávez elogiou a decisão da Suprema Corte que proibiu os jornais ‘El Luchador’ e ‘El Progreso’ de publicarem fotos de vítimas de crimes violentos. A Corte não especificou que imagens seguem permitidas, e a medida não é extensiva. Para o diretor de ‘El Progreso’, Carlos Mejias, o governo não quer noticiar a violência. (FM)’


MÍDIA & POLÍTICA
Folha de S. Paulo


Chaui diz que mídia inventou a crise aérea


‘A filósofa Marilena Chaui diz que a imprensa montou um cenário de ‘golpe de Estado’ durante a cobertura do acidente com o avião da TAM em São Paulo.’A grande mídia foi montando, primeiro, um cenário de guerra e, depois, de golpe de Estado’, diz o texto ‘A invenção da Crise’, publicado no site do jornalista Paulo Henrique Amorim.


Chaui diz que ‘a invenção da crise aérea simplesmente é mais um episódio do fato da mídia e certos setores oposicionistas não admitirem a legitimidade da reeleição de Lula’.


Em 2006, ela usou expressão semelhante, ao dizer que o mensalão foi uma ‘construção fantasmagórica’ da mídia.


No novo texto, a filósofa critica os jornalistas por não darem a greves do INSS a mesma relevância das ações de controladores aéreos. ‘Mas pobre trabalhador nasceu para sofrer e morrer, não é? Já a classe média e a elite…’


Para ela, a imprensa levou a população a ter ‘cólera e indignação contra o governo Lula’. ‘Esses sentimentos foram aumentados com a foto de Marco Aurélio Garcia e a repetição descontextualizada de frases de Guido Mantega, Marta Suplicy e Lula.’


Chaui afirma que o jornalismo ‘produziu uma cronologia que faz coincidir os problemas do setor e o governo Lula’. Sobre a reação do governo após o acidente, diz que foi ‘fraca e decepcionante, como no caso do mensalão’.’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


A palavra final


‘A notícia surgiu ao meio-dia no site do ‘Wall Street Journal’, Rupert Murdoch ‘está perto de tomar o controle’ do próprio ‘WSJ’. Daí para as manchetes de ‘New York Times’, ‘Washington Post’, ‘Financial Times’. Pouco depois e no mesmo ‘WSJ’ surge vídeo com o repórter que cobre a negociação há meses, Dennis Berman. Ele avalia que ‘o acordo terá grandes repercussões, obviamente para este lugar e a esfera ampla da mídia’. Por exemplo, ‘como competir contra ‘NYT’, ‘FT’?’ e ‘a credibilidade deste lugar pode ser mantida?’. No fim, ‘o mais interessante da história é como a família Bancroft se viu presa na máquina de transações de Wall Street, banqueiros, advogados’. Para os controladores, ‘não foi sempre questão de dinheiro, mas essa se provou a dramática ‘dernier mot’ da história, após cem anos de controle. O legado ou o dinheiro? Como nós vemos agora, o dinheiro venceu.’


E O ‘FT’?


O ‘International Herald Tribune’ deu, um dia antes, como o ‘FT’ se prepara para enfrentar o concorrente capitalizado. A presidente do grupo disse estar ‘conversando sobre diferentes canais de distribuição’. Entre os parceiros, a NBC. A idéia é se concentrar no ‘FT’ como ‘marca mundial’, até vendendo jornais, como o francês ‘Les Echos’.


E O ‘WP’?


E a ‘Fortune’ destacou o esforço do ‘Washington Post’ para ‘transformar a ameaça em oportunidade, como Murdoch com o ‘WSJ’. Repórteres viraram ‘agnósticos de plataformas’. Mas para o presidente do ‘WP’, ‘se a publicidade de internet não continuar a crescer, o futuro do negócio de jornais será desafiador, a web tem que dar certo’.


ABERT E O ‘CANSEI’


Antes de Globo, Record, Band e Rede TV! desistirem dos comerciais do ‘Cansei’, como noticiou Mônica Bergamo, a Globo ‘chegou a participar de reunião’. E a Abert, lobby das redes, ainda é uma das ‘entidades apoiadoras’ no blog do ‘Cansei’. Uma assessora da Abert postou lá sobre envio de ‘mensagem às 2.500 emissoras associadas, solicitando a divulgação’. O site da Abert traz link para o download de peças. E a Globo cobriu, dias atrás, o ‘movimento cívico pelo direito dos brasileiros’, organizado por ‘entidades civis’, convocando ‘manifestação nacional’.


ALERTA


O ‘WP’ e o ‘NYT’ trataram ontem, em coincidentes reportagens, do Cerrado (esq.) e da Amazônia mais ameaçados agora pelo avanço da agricultura e seca


CLIENTES


O ‘Guardian’ destacou como o londrino HSBC ‘se viu sob holofotes com a revelação de empréstimos feitos a um produtor de etanol acusado de escravizar trabalhadores’ no Pará, na Amazônia, tomando por base notícia desta Folha. ‘Nenhum dos bancos envolvidos’, segundo o correspondente Tom Philips, ‘comentou o caso, argumentando com as cláusulas de confidência dos clientes’.


‘RAÇA’


A coluna citou anteontem, na nota ‘Raça não existe’, questionamentos do historiador Luiz Felipe de Alencastro a um estudo do geneticista Sergio Danilo Pena. Na verdade, Alencastro se retratou em seu blog, atestando a integridade científica e seriedade da pesquisa, mas mantendo a crítica à forma como o estudo foi relatado pela BBC Brasil. Também me retrato aqui, pela ironia reproduzida na nota.’


MEMÓRIA / MICHELANGELO ANTONIONI
Folha de S. Paulo


Aos 94 anos, morre Antonioni, mestre do cinema moderno


‘Sentado ao lado da mulher, Enrica Fico, em sua casa em Roma, o cineasta italiano Michelangelo Antonioni morreu na noite de segunda, aos 94.


Mestre do cinema moderno, Antonioni promoveu uma ruptura com o neo-realismo italiano desde seus primeiros longas, realizados na década de 50, até a consolidação de seu renome internacional, com ‘Blow Up -Depois Daquele Beijo’ (1966).


Antonioni transformou em marca de seus filmes a abordagem das angústias individuais nos relacionamentos e da incomunicabilidade entre os amantes, em oposição à ênfase na temática social neo-realista. A característica ‘intimista’ de Antonioni lhe valeu a alcunha de ‘o poeta do tédio’.


Nascido na alta burguesia italiana, Antonioni formou-se em economia e comércio na Universidade de Bolonha.


Transferiu-se para Roma em 1939, para estudar no Centro Experimental de Cinema e tornou-se crítico colaborador da revista ‘Cinema’.


Rossellini


Ele se aproximou do diretor Roberto Rossellini (1906-77), para quem roteirizou ‘Un Pilota Ritorna’ (o retorno de um piloto), de 1942, ano em que foi assistente de direção do francês Marcel Carné (1909-1996), no longa ‘Os Visitantes da Noite’.


Em seu primeiro longa de ficção, ‘Crimes d’Alma’ (1950), dirigiu Lucía Bosé, que ontem lamentou a morte do cineasta, afirmando que ele era um homem ‘maravilhoso’, embora ‘muito duro e exigente’ com toda a equipe nas filmagens.


Em Monica Vitti, o cineasta encontrou sua atriz-fetiche. Estrela da trilogia formada por ‘A Aventura’, ‘O Eclipse’ e ‘A Noite’, Vitti foi também companheira de Antonioni, que se casou duas vezes -com Letizia Balboni, em 1942, e com Enrica Fico, em 1986.


Com prestígio confirmado na Europa por múltiplos prêmios, Antonioni vai para os Estados Unidos, onde filma seu maior sucesso, ‘Blow Up’ (1966), baseado em conto do argentino Julio Cortázar sobre um fotógrafo que registra involuntariamente um crime.


Em conseqüência de um derrame, em 1985, ele tinha restrição de movimentos e da fala.


O corpo de Antonioni ficará hoje exposto em câmara ardente, na Prefeitura de Roma. O enterro está previsto para amanhã, em sua cidade-natal, Ferrara, no Norte da Itália. Com agências internacionais’


***


Silêncio predomina em obra e vida


‘As artes plásticas, sobretudo a construção de colagens e móbiles, passaram a ser a principal atividade artística do cineasta italiano Michelangelo Antonioni, desde 1985, quando ele sofreu um derrame.


Após o acidente cerebral, Antonioni ficou praticamente sem fala e com movimentos restritos, mas perfeitamente lúcido.


Ele se locomovia em cadeira de rodas e tinha na mulher, Enrica Fico, 41 anos mais jovem do que ele, uma ‘tradutora’ para suas conversas.


Quando Antonioni recebeu um Oscar pela carreira, em 1995, Enrica observou que expressar-se ‘através do silêncio ou além das palavras’ sempre foi rotina para o cineasta, como é evidente em sua obra.


Protagonista de ‘Passageiro -Profissão: Repórter’, o ator Jack Nicholson concordou: ‘No vazio, nos espaços silenciosos do mundo, ele encontrou metáforas que iluminam os lugares silenciosos de nossos corações e descobriu neles uma estranha e terrível beleza’.


O último longa-metragem de Antonioni, ‘Além das Nuvens’, foi realizado em 1995, sob a supervisão do diretor alemão Wim Wenders. A presença de Wenders no set de filmagens foi uma exigência dos investidores alemães na produção.


Wenders era a ‘garantia’ de que o filme seria concluído, ainda que a saúde frágil de Antonioni o deixasse impossibilitado de fazê-lo.


‘Eros’


O cineasta arquivou diversos projetos de longas que pretendia rodar após ‘Além das Nuvens’, mas realizou o episódio ‘A Perigosa Linha das Coisas’ no filme coletivo ‘Eros’, com o qual retornou ao Festival de Veneza, onde havia obtido o Leão de Ouro em 1963, por ‘O Deserto Vermelho’.


Para dirigir ‘Eros’, Antonioni contou com a ajuda de Enrica. Os demais episódios do filme são assinados pelo norte-americano Steven Soderbergh (‘sexo, mentiras e videotape’) e pelo chinês Wong Kar-wai (‘Amor à Flor da Pele’).


O trecho de Antonioni é o mais ousado dos três e foi o único que sofreu cortes, a pedido do produtor. Três minutos de uma cena de masturbação feminina foram eliminados.


Em Veneza, antes da apresentação de ‘Eros’, Kar-wai ressaltou a influência de Antonioni no cinema: ‘Ele é a luz-guia para mim e para os outros cineastas de minha geração’.


O cineasta italiano, que se considerava ‘alguém que tem coisas a mostrar, mais do que a dizer’, disse que, se não tivesse seguido a carreira de diretor, teria sido ‘arquiteto ou pintor’.


Embora tenha conquistado prestígio desde o início de sua carreira e fosse reconhecido como um mestre do cinema desde os anos 60, os filmes de Antonioni jamais foram associados ao sucesso de público.


Em 1980, numa entrevista para uma publicação italiana, o diretor ouviu a pergunta: ‘Para quem o sr. faz filmes?’.


Respondeu: ‘Faço filmes para um espectador ideal que é exatamente o seu diretor. Eu jamais poderia fazer algo contrário ao meu gosto, com o objetivo de ir ao encontro do público. Francamente, não posso fazer isso, mesmo que muitos diretores o façam. Além do mais, de que público estamos falando? O italiano? O americano? O japonês? O francês? O britânico? O australiano? Eles são todos diferentes entre si’. Com agências internacionais’


Inácio Araujo


Antonioni criou cinema de incertezas


‘Roberto Rossellini fundou a moderna escola italiana sobre a crença de que o cinema é a arte capacitada a captar a realidade. Foi esse o princípio do que se chamou neo-realismo.


Quando se perguntou certa vez a Michelangelo Antonioni se ele negava os princípios neo-realistas, ele disse que não, que fazia um ‘neo-realismo sem bicicleta’ (alusão a ‘Ladrões de Bicicletas, de Vittorio de Sica). Em outras palavras, se Rossellini acreditava no poder da câmera de fixar a realidade, coube a Antonioni introduzir uma nova questão: o que é a realidade?


Com Antonioni, a partir daí, o cinema desloca-se decisivamente da esfera da ação -que Rossellini já havia rarefeito- para a do tempo. O tempo substitui francamente a ação: ele é aquilo que faz e desfaz as coisas.


Com isso, inicia-se também uma busca desse real, e talvez seja ela que tenha feito de Antonioni um mestre das distâncias, aquele que mais se preocupou em captar não as pessoas, mas o ar que existe entre elas. Quem mais poderia filmar aquela cena de ‘A Noite’ (1961) em que Jeanne Moreau, andando sozinha pela cidade, depara com fogos de artifício? Imediatamente ela chama seu amante, Marcello Mastroianni. Ele vai até o local, só para constatar que já não há fogos.


Em ‘O Eclipse’ (1962), a Bolsa de Valores cessa a atividade por um minuto em homenagem a um corretor que havia morrido. Durante um minuto não se escuta nada. Quando soa a sineta anunciando o final, volta o ruído infernal do pregão.


A cada filme, o cineasta parece perguntar-se o que é real, imaginário ou alucinação. Diante das calamidades do pós-guerra, Rossellini se perguntava ‘por que isso acontece?’. Antonioni, mais novo, olhava esse mesmo mundo (ou quase o mesmo: já é uma Itália recuperada da guerra) e sua questão era: ‘o que, afinal, acontece?’


Para Rossellini, católico, a baliza desse mundo, por terrível que fosse, era Deus. Para Antonioni, materialista, Deus estava morto. O homem, portanto, está livre. Mas a que leva a liberdade? À crise. Antonioni filmou, quase sempre, crises, momentos de passagem (inclusive passagem da vida à morte, uma constante nada gratuita).


Depois de sua célebre trilogia, Antonioni acrescentou as cores a seu vasto repertório de imagens, em ‘O Deserto Vermelho’ (1964) -lançado no Brasil como ‘O Dilema de uma Vida’-, antes de partir para o exterior, Inglaterra, onde Vanessa Redgrave tomou o lugar de sua ex-mulher Monica Vitti como estrela em ‘Blow Up’ (‘Depois Daquele Beijo’, 1966).


A Inglaterra de Beatles e Rolling Stones talvez lhe parecesse o lugar ideal para dar seqüência às idéias de outro mestre, Alfred Hitchcock, que em ‘Janela Indiscreta’ mostrara como é delicada a linha que separa a realidade da imaginação.


O fotógrafo de ‘Blow Up’, ao contrário do de ‘Janela Indiscreta’, capta a realidade com sua câmera. Ele passa da fabulação à materialidade: tem provas do assassinato que captou. Ou será que o crime teria sido apenas uma idéia construída pela montagem de imagens?


Se as dúvidas a respeito do real prosseguiram nas décadas seguintes, com ‘Profissão: Repórter’ (1975) ou ‘Identificação de uma Mulher’ (1982), até seu último filme Michelangelo Antonioni tratava de uma arte capaz de se aproximar como nenhuma outra das coisas, das pessoas, do tempo, mas que quanto mais chega perto, menos nítida se torna, mais instaura a incerteza. Com Antonioni, já não existem certezas.


O homem, que mesmo em Rossellini ainda é senhor do espaço, agora tateia um mundo que não domina, onde o sentido já não está dado, onde é preciso buscar, sem saber ao menos o que buscar. A crise do homem moderno passa por esse cinema moderno, do qual Antonioni foi um dos grandes mestres.’


Cássio Starling Carlos


Duplo adeus marca fim de era


‘Uma segunda-feira que registra a desaparição de Ingmar Bergman e de Michelangelo Antonioni não é um dia de luto apenas para os cinéfilos. A morte sucessiva destes dois gigantes marca também o fim de um tempo, especificamente o século 20, mas não de seus problemas.


Oriundos de uma mesma geração e alçados à cena pública quase simultaneamente, os dois diretores conseguiram juntos levar ao cinema a transformação pela qual passava o homem ocidental depois da barbárie da Segunda Guerra.


Bergman o fez através das subjetividades. Antonioni escolheu a objetividade.


A escolha da objetividade como núcleo da representação da crise do homem moderno decorre das origens cinematográficas de Antonioni, junto aos pioneiros do neo-realismo italiano. Passado, porém, o momento em que a proeminência do tema social era mais relevante, ele se afirma como diretor de longas com uma visada cujo foco se atém ao individual.


Tratava-se, agora, de prosseguir as conquistas estéticas do neo-realismo (um modo de representação da realidade assumidamente crítico) deixando de lado a bicicleta.


Em referência ao clássico ‘Ladrões de Bicicleta’, de Vittorio de Sica, Antonioni escreveu em 1958: ‘Hoje, que eliminamos o problema da bicicleta, é importante ver o que há no espírito e no coração desse homem de quem roubaram a bicicleta, como ele se adaptou, o que sobrou nele de todas as suas experiências’.


Desde o início, estava sendo gestada em sua obra uma nova estética, na qual a psicologia não se perde em discursos verbais, mas encontra lugar na forma como o diretor agencia sons e imagens.


Os chamados tempos mortos, constantes em seus filmes, se intensificam com a presença de espaços vazios, modo de explicitar a situação de crise vivida por seus personagens.


A desaparição da protagonista de ‘A Aventura’, a perambulação de Jeanne Moreau em terrenos baldios em ‘A Noite’ e as imagens urbanas desertas em ‘O Eclipse’ são todos signos do mal-estar moderno: o do indivíduo burguês, que, mesmo mergulhado no conforto, na elegância ou nas distrações da sociedade de consumo, não consegue mais reencontrar sua alma ou algo equivalente que o preencha de sentido.


Obsessão pelo deserto


Esse processo de esvaziamento se consolida ainda mais na fase seguinte da obra de Antonioni, quando a obsessão pelo deserto é reiterada como tema ou cenário simbólico em filmes como ‘Deserto Vermelho’, ‘Zabriskie Pont’ e ‘Passageiro: Profissão Repórter’.


Nesses trabalhos, Antonioni ressignificou, aos nossos olhos, o termo ‘niilismo’, essa ‘vontade de nada/nada da vontade’ da qual as gerações Prozac/ecstasy que vieram em seguida continuam tentando escapar.


Por isso, não soa exagerada a definição de Glauber ao escrever que ‘no século 19, Michelangelo seria filósofo como Hegel e talvez tivesse a mesma importância para o mundo de então como teve o filósofo. Hoje, substituindo a linguagem escrita pela imagem & som, Michelangelo usa o cinema como instrumento de especulação ao mesmo tempo em que funda, no filme, o estilo de sua moral’.


Morto o artista, sua obra prossegue viva, contaminando, pelo modo de representar, o olhar de outros cineastas. Todo o Wim Wenders dos anos 70 atesta essa herança, depois transferida para parte do cinema oriental, na obra de diretores como os chineses Wong Kar-wai e Jia Zhang-ke, além de Tsai Ming-liang, de Taiwan.


Nesses vínculos, não é tanto a referência consagrada que importa e, sim, a necessidade de mostrar que o homem moderno pode estar morto com o século 20, mas nosso mal-estar no mundo não se prende a mudanças do calendário.’


Pedro Butcher


‘Profissão Repórter’ sintetiza linguagem do cinema moderno


‘A câmera se afasta do corpo de Jack Nicholson, deitado na cama de um hotel vagabundo em um vilarejo espanhol; passa pela janela do quarto, passeia pelo pátio onde carros estão estacionados e se detém em alguns personagens, antes de retomar seu movimento lento, quase imperceptível, para então voltar ao quarto e ao corpo do ator -cujo personagem, agora, está morto.


Essa imagem, que está nos minutos finais de ‘Passageiro: Profissão Repórter’ (1975), tornou-se uma espécie de síntese do cinema moderno -além de fetiche de muitos cinéfilos, cineastas e técnicos, que até hoje tentam desvendar seu virtuosismo técnico (a câmera, entre outra proezas, ‘atravessa’ uma cerca sem que haja cortes).


Mas essa imagem é emblemática não só por ser um plano-seqüência virtuoso, na grande tradição inaugurada por Orson Welles, mas principalmente por conter em si as características mais importantes do cinema moderno: a imagem que incorpora o tempo (recusando o corte da montagem) e o chamado extra-campo, ou seja, aquilo que está fora do quadro.


A ‘informação’ mais importante desse plano para a compreensão narrativa do filme está fora da imagem. É o som do tiro que mata o personagem de Nicholson. Antonioni chegou a dizer que só criou esse plano para não precisar mostrar o assassinato: ‘A idéia de vê-lo morrer me aborrecia’.


Um tiro que não se vê e que dá fim à vida ‘dupla’ do personagem central, um repórter que, lá no começo do filme, assumiu a identidade de um traficante de armas. ‘Trama’ que resume uma aflição presente até hoje em tantos filmes, mas que raramente encontrou expressão tão ‘precisa’ -cuja força está, justamente, em sua imprecisão.


Sem medo do silêncio


Antonioni não tem medo do silêncio e do vazio, ou seja, das lacunas que fazem parte da nossa experiência de mundo, mas que o cinema, até então, recusava-se a enxergar.


Esse modo de ver se expressa em um trabalho de câmera genial, que nos obrigou a ver o cinema com novos olhos e transformou Antonioni em um cineasta de assinatura inconfundível, presente até em seus filmes mais recentes, como o criticado episódio do longa ‘Eros’ ou o genial curta ‘O Olhar de Michelangelo’.


Se Antonioni tivesse filmado apenas esse plano em toda sua vida, o fim de ‘Passageiro: Profissão Repórter’ já teria justificado sua importância como cineasta. Mas a sua obra comporta muitas outras imagens marcantes que, de alguma forma, fazem parte do imaginário contemporâneo, como os corpos no deserto e as explosões fragmentadas de ‘Zabriskie Point’ ou a névoa industrial que toma conta da imagem e faz desaparecer a atriz Monica Vitti em ‘Deserto Vermelho’. Imagens que permanecem.’


TELEVISÃO
Daniel Castro


Globo leva ao cinema série que ruiu na TV


‘Maior fracasso da Globo no Ibope neste ano, a microssérie ‘A Pedra do Reino’ será exibida nos cinemas. O programa, que por outro lado foi um sucesso de crítica, ocupará 15 salas de circuito digital de cinema em 12 Estados do país entre os dias 24 de agosto e 6 de setembro.


A adaptação de Luiz Fernando Carvalho para a obra-prima de Ariano Suassuna irá aos cinemas como concebida para a TV, apenas com um tratamento de imagem e som superior.


‘Os distribuidores de cinema, os críticos e a Globo há muito tempo tentam me convencer a fazer edição das séries para que virassem filme. Sempre fui contra esse hibridismo. Não acredito nele’, diz Carvalho. Ele conta que aceitou agora porque a série será projetada ‘nua e crua’, ‘sem disfarces’.


A microssérie será exibida em duas sessões especiais noturnas, todos os dias, nas 15 salas (três em SP, duas no RJ, e uma em MG, DF, BA, CE, PE, RN, GO, PB, PR e RS). Uma sessão trará os três primeiros capítulos e a outra, os dois últimos.


Em sete sessões, haverá um debate com o diretor Carvalho. As projeções, que a Globo chama de ‘festival’ e Carvalho de ‘fórum’, fazem parte da estratégia de lançamento do DVD da microssérie, em setembro, com tiragem inicial de 3.000 cópias.


A série faz parte do projeto ‘Quadrante’, de adaptações literárias regionais. Foi ao ar em junho. Deu 11,2 pontos, audiência baixa para a Globo.


QUEDA FANTÁSTICA 1


O ‘Fantástico’ fechou julho com a pior média no Ibope do ano, 27 pontos. A baixa atingiu até quadros ‘consagrados’, como o ‘Profissão Repórter’. A atração de Caco Barcelos começou o anxo com 31 pontos e bateu em 44 em março. Em sua última exibição, amargou 22.


QUEDA FANTÁSTICA 2


A substituição do ‘Retrato Falado’ por ‘Te Quiero América’ também não agradou. O quadro tradicional de Denise Fraga marcava 36. O novo ainda patina nos 28.


RECADO


Alguém precisa dizer a Paulo Markun que a freqüência da rádio Cultura AM, que ele preside, é 1.200 kHz, e não 1.400 kHz, como ele anunciou no ‘Roda Viva’ de anteontem (e não foi a primeira vez).


GRADE


Está prevista para 2 de novembro a estréia de ‘O Sistema’, nova série da Globo, com texto de Alexandre Machado. Entrará na vaga de ‘Ó Paí, Ó!’, que foi adiada para o ano que vem. No mesmo horário, às sextas, virá antes ‘Antonia’.


GARGANTA 1


Apesar de ter feito uma cobertura do Pan inferior à da Band, a Record comemorou ‘medalha de prata’ em e-mail enviado ao mercado publicitário. Na média de todas as suas transmissões do Pan, a Record marcou seis pontos, contra 18,5 da Globo e três da Band.


GARGANTA 2


A Record exibe outros números: sua audiência diária durante o Pan cresceu 25% em relação aos mesmos dias de 2006 (de seis para oito pontos).’


************