O noticiário do Bebê Diabo talvez tenha sido o maior e mais emblemático caso de criação de fatos da carreira do Notícias Populares. Pela sua repercussão – em meados da década de 1970, quando foi explorado – ele serve de exemplo do jornalismo enviesado praticado pelo NP, com o único objetivo de aumentar a tiragem a qualquer custo.
Essa opção pelo bizarro foi outra característica do jornal, que durante sua trajetória enfatizou o noticiário policial. Outras incursões pelo grotesco foram feitas até seu fechamento, pouco mais de 15 anos depois, mas nenhuma superou a série endiabrada.
E com ele se foi um jornalismo condenável em seus métodos e propósitos, mas único em suas características. Mas não exclusivo, na medida em que também era praticado pela Luta Democrática, no Rio de Janeiro, numa emulação baseada na imitação e apropriação de material editorial sem limites, permissível somente pelo fato de disputarem mercados diferentes.
Contrapartida obstétrica
O que é conhecido como gilete-press, hábito dissimulado entre alguns jornais e escancarado nas pautas de TV de então, era de uso recíproco e contínuo entre os dois diários. O que de início se dava reescrevendo-se uma notícia publicada pelo outro, passou a ser feito pela transcrição com poucas alterações do texto, sempre sem a citação da fonte, obviamente. Comportando-se como se fossem sucursais de uma mesma publicação.
A conseqüência disto é que, ao ser deturpado na origem, um fato poderia ganhar contornos de realismo fantástico na versão. Isto se deu com o Bebê Diabo, quando ‘repercutido’ pela Luta. Na contrapartida obstétrica, por assim dizer, houve o caso da estudante abduzida e engravidada por um extraterrestre na Baixada Fluminense, cuja saga foi reproduzida sem pruridos pelo NP.
Criatividade em todos os níveis
A parte mais criativa deste tipo de jornalismo, porém, ocorria na produção de notícias e fechamento das edições.
Uma informação insignificante, mas com potencial sensacionalista, poderia ser trabalhada por um coletivo de redatores, até ganhar o impacto desejado. Uma criação de equipe, com muita liberdade e improvisação.
O mesmo se dava com manchetes, títulos, textos-legenda e chamadas de capa. Invariavelmente tudo era feito a muitas mãos, num trabalho em que a colaboração e palpites eram livres, bem-vindos e estimulados.
O estímulo à criatividade em todos os níveis, naqueles moldes, não existia em qualquer outra redação paulista. Assim, foi capacitada uma legião de jornalistas que, posteriormente, puderam aplicar em condições profissionais responsáveis muito do que foi aprendido na ‘escolinha’, como era conhecida a redação do finado NP.
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Jornalista