Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

O dilema do furo na era do jornalismo instantâneo

Editores da Associated Press sabiam que a série de reportagens investigativas sobre água potável contaminada com medicamentos, nos EUA, tinha potencial para ser um grande furo na mídia americana. Por isso, tentaram montar uma estratégia para divulgar a notícia da maneira mais eficiente possível, fornecendo informações aos associados com certa antecedência para que eles pudessem se preparar, mas sem liberar muitos detalhes, para manter a exclusividade da série. Eles reconhecem que acabaram tendo de lutar contra um dilema. ‘Nós discutimos sobre quando passar a informação e, no fim, nos pareceu que deveríamos divulgar algo com antecedência’, explica o chefe de redação Mike Silverman.


As informações começaram a ser passadas aos associados com uma semana de antecedência com a condição de que não fossem publicadas até o dia indicado. Antes, a AP enviou a eles uma primeira chamada da série, dividida em três partes. O conteúdo foi distribuído com a proibição de ser veiculado antes do dia 10/3, nas publicações impressas, e do dia 9/3, nos veículos online. ‘Queríamos promover o material, mas sem dar muitos detalhes. Precisávamos equilibrar o que devíamos divulgar ao público e o que era necessário usar para chamar a atenção’, diz Silverman.


Jornalismo investigativo


A série, que incluiu pesquisa detalhada sobre medicamentos como calmantes e antibióticos encontrados em dezenas de amostras de água potável em todo o país, também ofereceu gráficos, mapas e vídeos sobre o assunto. A reportagem, fruto de um trabalho de cinco meses que envolveu três jornalistas, é o primeiro grande projeto de uma nova unidade investigativa da AP criada em agosto e coordenada pelo editor Richard Pienciak. ‘Esta é a complexidade de se lidar com a internet e com vídeo e áudio’, conta ele sobre o embargo. ‘É uma questão complicada hoje’.


No fim, a estratégia da agência não saiu perfeita: segundo Pienciak, diversas emissoras de TV furaram o embargo e colocaram partes da reportagem em seus sítios. ‘Ligamos para elas e pedimos para retirar’, lembra. Já os jornais impressos respeitaram a proibição. Informações de Joe Strupp [Editor & Publisher, 10/3/08].