Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

O efeito Hillary Clinton

As eleições primárias nos Estados Unidos e a presença diária de uma mulher como forte candidata à presidência já começaram a fazer efeito na imprensa brasileira. Motivado pela presença constante de Hillary Clinton no noticiário – ora como vencedora, ora como derrotada – um jornal brasileiro resolveu discutir a presença das mulheres na política.

Em conjunto com uma empresa de pesquisas (Ipsos), o Estado de S.Paulo mostrou que, no Brasil, as mulheres são consideradas mais honestas e competentes como políticas do que os homens [ver, neste Observatório, ‘Pesquisa aponta mais honestidade e competência‘].

A boa notícia é que o que parecia ser apenas uma matéria daquelas feitas para completar uma pauta fraca está ganhando nova dimensão. Ao repercutir a pesquisa com a ministra Nilcéa Freire, da Secretaria Nacional de Políticas para Mulheres, o jornal comemorou o fato de ter gerado uma futura campanha do governo. Segundo a ministra, o governo vai fazer uma campanha publicitária incentivando mulheres a se candidatar nas eleições municipais de outubro: ‘Há uma janela para participação maior da mulher na política’, disse (Estado de S.Paulo, 22/1/2008).

De acordo com a ministra, o sistema de cotas – cada partido é obrigado a listar 30% de suas vagas a mulheres – ajudou a ampliar o número de mulheres nas duas primeiras eleições. Depois, o número voltou a cair. Hoje, a participação de mulheres no Congresso é irrisória: na Câmara, as deputadas são 8,7%; no Senado, 12,3%.

Os partidos dizem que é difícil encontrar mulheres dispostas a se candidatar e a ministra explica por que: ‘As mulheres não têm a disponibilidade dos homens para se dedicar à política porque, além do trabalho, têm de cuidar da casa e dos filhos’.

Promessas e propostas

Para motivar a participação feminina, a ministra Nilcéa pretende fazer um trabalho educativo com as mulheres, dando subsídios para que as candidatas ‘compreendam questões como a violência na sociedade, a violência doméstica, a autonomia econômica da mulher, saúde e educação femininas’ (Estado de S.Paulo, 22/1/2008)

Ao conscientizar as mulheres para os ‘assuntos femininos’, a ministra talvez mude o quadro atual, em que as candidatas são apenas um nome a mais na lista dos partidos. Dificilmente vemos candidatas que se elegem porque lutam por direitos femininos ou que fazem da situação da mulher a sua plataforma de campanha.

A prometida campanha do governo é um primeiro passo. Mas a colaboração da imprensa é fundamental. Se a mídia der mais importância às idéias do que ao visual das candidatas, talvez faça com que as mulheres (51% do eleitorado brasileiro) comecem a escolher suas iguais na hora de votar. Ou, pelo menos, que os eleitores de ambos os sexos percebam que propostas são mais importantes do que promessas.

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Jornalista