Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

O jogo e a imprensa

Negativo: ninguém aqui pretende discutir os aspectos positivos e negativos do jogo. O assunto é imprensa. E, depois de tantos dias e tanto noticiário, nenhum órgão de imprensa informou quantas pessoas os bingos empregam diretamente (gerentes, funcionários de jogo, cozinheiros, garçons, barmen, manobristas, seguranças, faxineiros e outros); nem os empregos indiretos a ele relacionados (motoristas de táxi, pipoqueiros, funcionários de fornecedores).

Os números fornecidos a Sua Excelência, o consumidor de notícias, aquele que paga o nosso salário, variaram de menos de 20 mil a mais de 200 mil. Este colunista não se lembra, também, de ter visto qualquer estimativa sobre o volume de dinheiro mobilizado pelos bingos. Aliás, alguém saberia informar a seu leitor, ouvinte ou telespectador a quantia entregue pelos bingos às entidades esportivas? Os bingos pagavam direito ou havia reclamações dos esportes beneficiários? A propósito, quantos esportistas viviam da quantia liberada pelos bingos?

O jogo foi liberado no país pela Lei Zico – nome dado em homenagem a seu criador, o craque de futebol que virou ministro. Certamente por lamentável distração, este colunista não teve o prazer de ver as reportagens com Zico. Que é que ele acha do resultado da lei que propôs? Qual é sua opinião sobre o fechamento dos bingos?



Dúvida cruel

Mal o Senado enterrou a medida provisória que proibia os bingos, o jogo foi reaberto em grande estilo, em todo o país.

Como é que os empregados todos souberam que, tão logo a derrota da MP fosse anunciada, deveriam correr para o emprego?



Bazuca recreativa

Este colunista jura que leu no jornal: o chefe da Polícia Civil do Rio, delegado Álvaro Lins, comentando a localização de armas pesadas num arsenal de narcotraficantes, disse que ‘o tipo de bazuca apreendido não é de uso exclusivo das Forças Armadas’.

Dizem que perguntar não ofende, não é mesmo? Pois é: e quem mais, além das Forças Armadas, usa legalmente estas bazucas no Brasil?



Convescote

O excelente jornalista Nélson Blecher, de idoneidade acima de qualquer suspeita, um dos ícones da revista Exame, lembra que não foi ao evento de Comandatuba a convite: foi enviado pela revista, ao lado de um fotógrafo, com todas as despesas pagas pela Editora Abril – tudo, enfim, como deve ser. Se a nota sobre o convescote de Comandatuba publicada nesta coluna deu margem a dúvidas, peço desculpas: é óbvio que repórteres de Economia e de Política tinham de estar num evento que reuniu tantos políticos e empresários.

Esta coluna se referiu aos jornalistas convidados pelo convescote, que cobriram acriticamente todo o fru-fru, festejando ministros e empresários que formavam times chamados ‘Viagra’ e ‘Gostosos’ e esposas que mandaram vir da Europa vestidos de oncinha para participar da festa a fantasia. Citemos novamente o que diria a vovó Maria: ‘Falta de modos’.



Cadê a notícia?

Alguém leu, viu ou ouviu, na imprensa brasileira, a informação de que urnas eletrônicas iguaizinhas às usadas no Brasil foram banidas na Califórnia, por falta de segurança? Pois é: o secretário de Estado da Califórnia, Kevin Shelley, cassou a certificação das urnas eletrônicas fabricadas pela Diebold Inc., ‘por motivos de segurança e confiabilidade’. E este colunista foi encontrar a informação no mesmo lugar onde nossos veículos de comunicação poderiam localizá-la: no The New York Times de 1º de maio.

A Diebold é a fornecedora das urnas eletrônicas usadas no Brasil nas eleições de 2002, e também das que serão usadas neste ano. Foi a única empresa a participar da concorrência do TSE.



Alô, coleguinhas!

Atenção: ‘roadmap’ quer dizer ‘roteiro’. O plano de paz aceito (e não implementado) por israelenses e palestinos se chama, portanto, ‘Roteiro da Paz’. ‘Mapa da estrada’, como tanto se vê, não é uma tradução errada. Mas que é engraçada, lá isto é.



Leitura anexa

Na última coluna, afirmei que o plural de ‘campus’ é ‘campi’. Recebemos duas contestações das mais eruditas – e imensas! A solução mais aceitável para o tamanho das análises foi publicá-la aqui mesmo neste Observatório, mas com chapéu separado: ‘Para não perder o latim’. Vá à rubrica Jornal de Debates, desta edição do OI, para ler as manifestações dos dois leitores.

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Jornalista, diretor da Brickmann&Associados Comunicação; endereço eletrônico (carlos@brickmann.com.br)