Boni, o antigo chefe supremo do conteúdo da Rede Globo, disse no Roda Viva da TV Cultura (19/12) que a tentativa de captar a audiência da chamada “classe C emergente” rebaixa toda a produção da televisão, mesmo na Globo, que ainda procura mirar “um degrau acima” do nível cultural do público.
“Faço justiça à Globo e a todos os meus companheiros que ainda estão lá, porque de uma certa forma a Globo procura fazer isso. Quase todo o resto da televisão brasileira — me perdoem os companheiros das outras emissoras — fica enchendo linguiça.”
Rodolfo Gamberini perguntou se Boni gosta do jornalismo de hoje:
“O jornalismo de hoje não é o jornalismo de hoje. É o jornalismo de ontem. Ainda estamos fazendo as coisas corretas — nosso pessoal de jornalismo é de primeiríssima linha —, mas o mercado vai exigir uma mudança. Você não pode mais segurar uma notícia que aconteceu às quatro horas da tarde para dar às oito da noite. A internet vai te furar. Então, você tem que fazer um jornalismo mais assíduo, mais constante, e mais ao vivo. A televisão tende a ser evento, transmissão ao vivo de informações. [Na medida em que] ela enlatar, tende a ser derrotada por todos os outros veículos de comunicação, porque isso vai ser disponibilizado para você pagar e ver na hora em que você quiser.”
Boni prima pelo raciocínio rápido, claro e objetivo. Praticamente não houve alusões ao estratégico consórcio entre a Globo e a ditadura militar, o que garantiu que a conversa fosse amena. Boni fez uma previsão: “Um dia, os grandes produtores de notícias vão ter sua fonte de renda na internet.”
Mais sobre Boni no Roda Viva aqui.