Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

O Estado de S. Paulo


TV DIGITAL
Renato Cruz


TV digital finge que espera fábrica


‘Desde 2003, o governo anuncia seu desejo de trazer uma fábrica de
semicondutores para o País. Falou com todos os grandes fabricantes do mundo, com
o objetivo de trazer uma unidade com ciclo completo para cá, que produzisse
desde a lâmina de silício, mas nada. As barreiras são bem conhecidas: logística
deficiente, aduana lenta e que entra em greve sempre, impostos nas alturas,
indústria eletroeletrônica com pouco desenvolvimento local de produtos. Agora,
às vésperas de anunciar sua decisão sobre a TV digital, já tomada, o governo faz
que tenta resolver a questão de política industrial na escolha da tecnologia,
dando ares de técnica a uma definição política.


‘O Brasil não consegue atrair uma fábrica de US$ 2 bilhões a US$ 3 bilhões,
principalmente por questões logísticas e de impostos’, afirmou Ivair Rodrigues,
diretor de Estudos de Mercado da I.T. Data. ‘Hoje, somos um País de montagem,
não de fabricação.’ Na semana passada, a americana Smart Modular Technologies
inaugurou em Atibaia (SP) uma fábrica de circuitos integrados que faz o chamado
encapsulamento: corta a lâmina de silício, importada, e a transforma no chip.
Trata-se somente da etapa final de fabricação e o investimento ficou em US$ 15
milhões. ‘Mesmo assim, eles são corajosos de terem trazido a fábrica’, apontou o
consultor, que participou dos estudos do governo para a política industrial.


Ano passado, o Brasil importou US$ 9,519 bilhões em componentes
eletroeletrônicos. Só de semicondutores foram US$ 2,868 bilhões, segundo a
Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee). Mesmo assim,
o governo não fez até hoje nenhum esforço sério para resolver os problemas
estruturais que impedem a vinda da fábrica de semicondutores para o País. Nesta
semana, reúne-se com representantes da franco-italiana ST Microelectronics, que
já afirmou em várias ocasiões que não planeja trazer uma fábrica ao Brasil, para
ver se consegue tirar deles o mesmo que conseguiu dos japoneses: o compromisso
de fazer um ‘estudo de viabilidade’ sobre a implantação de uma fábrica no País.


Agora, se os japoneses considerassem realmente viável trazer uma fábrica ao
Brasil, por que não incluiriam um compromisso firme em sua proposta, para
afastar qualquer dúvida sobre o caráter técnico da decisão do governo e para
fechar a porta a qualquer tipo de contestação? Tempo houve, já que as discussões
sobre TV digital começaram há 12 anos e há três o governo está na batalha para
fazer a fábrica se materializar. O mesmo pode ser dito dos europeus.


‘A gente não entendeu a demanda com a seriedade devida’, afirmou Ricardo
Tortorella, gerente-geral da ST Microelectronics no Brasil, que defende o padrão
europeu DVB. ‘Vamos sem nenhuma expectativa, mais para ouvir do que falar’,
afirmou Izaías da Silva Jr., diretor de Desenvolvimento de Novos Negócios da ST
Microelectronics. A mesma falta de expectativa é sentida do lado dos japoneses:
‘O governo expressou o desejo, mas não podemos prometer’, disse Murilo
Pederneiras, consultor do padrão japonês ISDB no Brasil. Segundo estudo do CPqD,
obtido pela revista Tela Viva, o mercado de consumo da TV digital deve chegar a
R$ 14 bilhões em 15 anos.


Na sexta-feira, os ministros encaminharam ao presidente Luiz Inácio Lula da
Silva um relatório que favorece o ISDB, o preferido das grandes redes, como a
Globo. Apesar de técnicos dos ministérios terem visto no DVB europeu uma forma
de aumentar a competição no mercado, os ministros resolveram ser mais
pragmáticos e, em ano eleitoral, foram seduzidos pelos argumentos das emissoras.
O único que manteve uma postura consistente durante toda a discussão foi Hélio
Costa, à frente da pasta das Comunicações, ex-repórter do Fantástico e fundador
da sucursal da Globo em NY, que sempre defendeu o ISDB.’


Ethevaldo Siqueira


Sistema precisa de tecnologia brasileira


‘O presidente Lula vai anunciar amanhã – ou no mais tardar até o final desta
semana – o padrão de TV digital a ser adotado pelo Brasil. Esse é o primeiro
passo de uma longa caminhada para se implantar uma nova tecnologia e todos os
seus subprodutos. Isso significa que o País vai partir de uma estrutura
tecnológica básica desenvolvida e concebida por japoneses ou europeus para, em
seguida, complementá-la com softwares, ferramentas e padrões brasileiros, isto
é, aqui desenvolvidos.


Não terá sentido adotar uma tecnologia inteiramente estrangeira – um padrão
puro ou completo. A maior parte desse complemento nacional já foi desenvolvida
por 22 consórcios brasileiros, com mais de 90 pesquisadores, representando
universidades e empresas privadas, financiados com R$ 50 milhões oriundos do
Fundo Nacional de Tecnologia de Telecomunicações (Funttel).


Esses consórcios reuniram especialistas de mais de 30 indústrias nacionais e
internacionais, apoiando o trabalho de pesquisadores de universidades – como a
Universidade de São Paulo (USP), Unicamp, Mackenzie, Federal da Paraíba, Federal
de Santa Catarina, Inatel de Minas Gerais.


Conforme demonstrações feitas em testes de campo na USP e no Mackenzie, o
trabalho até aqui realizado é da mais alta qualidade no desenvolvimento de
partes essenciais de um sistema brasileiro de TV digital. Entre os projetos
desenvolvidos, estão o terminal de acesso (set top box ou caixa de conversão), o
middleware (sistema operacional que une o sistema aos seus aplicativos), o
controle remoto, o transmissor e os padrões de compressão digital (como o MPEG-4
ou equivalente) e outros.


CONTINUIDADE


A preocupação dos consórcios de pesquisa hoje é a falta de apoio ou de
sensibilidade de alguns setores do governo quanto à continuação dos trabalhos no
desenvolvimento dessa tecnologia complementar brasileira. O risco maior será a
perda dessas pesquisas com o corte ou a interrupção dos recursos de
financiamento do Funttel.


Vale lembrar ainda que o Brasil não está apenas optando por um padrão de TV
digital, mas negociando a agregação a essa tecnologia de um conjunto de
vantagens e de oportunidades industriais, financiamentos, menor preço final ao
consumidor, melhor modelo de negócio, apoio à pesquisa e aplicações
socioculturais no campo da inclusão digital – como prevê o decreto que traçou as
diretrizes do Sistema Brasileiro de Televisão Digital (SBTVD).


Escolhido o padrão de TV digital, começa outra etapa para o Brasil, a da
implantação da tecnologia e do desenvolvimento do modelo de negócio. Para o
cidadão, o grande salto será, num primeiro momento, a melhoria radical da
qualidade da imagem. Em seguida, virá a revolução da interatividade na TV.


Ao longo de todo o período de debate e de escolha do padrão de TV digital, é
provável que o leitor tenha ficado, acima de tudo, confuso, diante de tantas
informações complicadas sobre o que irá, realmente, significar a nova
tecnologia. Afinal, o que vai acontecer em nossa vida com a chegada da TV do
século 21?


Nada muda de uma hora para outra. Tudo terá que ser feito a seu tempo, no
ritmo certo. Não espere uma revolução do dia para noite, portanto. Transmissões
experimentais serão feitas durante a Copa da Alemanha, para demonstração em
shopping centers, aeroportos e outros lugares públicos. Qualquer inauguração no
dia 7 de setembro só deverá ter interesse para campanha eleitoral de Lula e de
Hélio Costa. Transmissões regulares de todas as redes de TV, só no final do
primeiro semestre de 2007.


Vale a pena comprar já um televisor de grandes dimensões, preparado para a
alta definição (HD ready)? Para a TV digital, ainda não. A não ser que você
queira usá-la mais em seu home theater, com os melhores DVDs, e possa gastar
mais de R$ 8 mil, num televisor de 42 polegadas, de plasma. Pense, até o final
do ano, em comprar um terminal de acesso (ou caixa de conversão) para receber o
sinal digital no velho ou no novo televisor.


Nos Estados Unidos ou em países europeus, que introduziram a TV digital há
oito anos, a presença da nova tecnologia não ultrapassa a 60% dos domicílios,
via caixas de conversão (terminal de acesso). E, para surpresa de muitos, menos
de 25% desses lares dispõem de televisor de alto padrão, preparados para a
recepção de imagens de maior definição.


Numa visão um pouco mais otimista, o Brasil pode ter tempo de maturação mais
rápido, porque a paixão pela TV aberta é muito maior aqui do que na maioria dos
países industrializados: 95% dos domicílios brasileiros contam com pelo menos um
televisor. Por outro lado, apenas 5% das residências do País são assinantes da
TV paga (a cabo, via satélite ou microondas etc.)


O Brasil deverá cuidar ainda de quatro pontos básicos ao implantar seu
sistema de TV digital. 1) Evitar o encarecimento do preço do televisor para o
consumidor. 2) Assegurar o máximo de flexibilidade nas aplicações. 3) Buscar
novas oportunidades de exportação de televisores. 4) Negociar investimentos
complementares, sem qualquer ilusão.’


GUERRA DAS CHARGES
Wole Soyinka


Para desarmar os psicopatas da fé


‘Quem é culpado por trazer infâmia à religião do Islã? Os indivíduos e as
ralés que invocam o nome de seu profeta na perpetração de crimes que revoltam
nossa própria humanidade? Ou o cético que responde da única maneira que conhece,
mas dentro das leis de sua nação?


Precisamos tratar essa questão com toda a objetividade: quem realmente leva o
nome do reverenciado ícone do Islã para o domínio dos infiéis e descrentes, onde
ele então se torna assunto de discussão aberta, ponto de referência e bode
expiatório para os crimes dos fiéis? Só uma resposta honesta pode marginalizar e
desarmar os psicopatas da fé, e não tentativas fúteis de forçar qualquer nação
soberana a aplicar leis que não se ajustam a sua própria constituição e uso.


Há dois anos, na capital da Nigéria, Abuja, fanáticos muçulmanos saíram às
ruas para protestar contra a realização do concurso de Miss Mundo, alegando que
tal exibição de feminilidade era uma afronta aos ensinamentos do Islã. Quando
terminaram, dezenas de inocentes jaziam mortos nas ruas, em suas casas e em
locais de trabalho.


As opiniões de outros devotos, secularistas ou ateístas, caíram na
irrelevância. Casas e escritórios foram incendiados e bairros inteiros,
devastados. Para garantir o silenciar de qualquer comentário, uma jornalista foi
declarada culpada de blasfemar contra o profeta Maomé. E um obscuro
vice-governador de um obscuro Estado chamado Zamfara entrou na onda da
notoriedade instantânea ao emitir uma fatwa de morte contra a jornalista, por
blasfêmia.


Denunciei essa orgia assassina. Para meu assombro, vozes liberais do mundo
ocidental – liberais com o sangue dos outros e em defesa do agressor –
escolheram refletir sobre a impropriedade da ‘importação da decadência
ocidental’ para a inocência prístina da Nigéria, contaminando os valores
culturais desse país. Não deveria ser necessário, mas senti que era meu dever
informar sobre a existência de concursos de beleza – tanto femininos quanto
masculinos – em várias culturas tradicionais africanas, algumas das quais
incluindo até mesmo danças competitivas. O âmago do principal discurso – a
santidade das vidas humanas acima e abaixo das pretensões de qualquer ícone da
fé – foi perdido. É assim que a impunidade nasce e a lei da ralé e de seus
manipuladores é tacitamente endossada pelos apaziguadores do mundo.


Impunidade gera impunidade. Os massacres em torno do caso da rainha da
beleza, em nome de sensibilidades religiosas, não foram a primeira sangria desse
tipo na Nigéria. E não seriam a última num lugar onde o governo massageia os
egos assassinos das tropas de choque religiosas.


Depois da designação de uma nova ofensa contra o profeta Maomé na distante
Dinamarca, sabíamos que a vez da Nigéria chegaria em apenas alguns dias; tudo o
que precisávamos fazer era esperar e ver onde a carnificina ocorreria. O
esperado, é claro, aconteceu. Num local remoto no norte do país, Maiduguri, os
fanáticos foram ao trabalho. Atacando num domingo, eles caíram matando sobre
inocentes e deram início a sua tarefa sangrenta. De novo, esperamos a reação
oficial, que veio em estilo já conhecido – o governo preferiu recomendar
‘comedimento’. Não houve disposição oficial que indicasse a aplicação rigorosa
das leis da nação. Só pedidos de ‘comedimento’.


A matança se espalhou. Uma característica dos imitadores da violência é que
eles nunca se contentam em imitar os outros. Sentem-se obrigados a superar o
evento original. O boicote de bens dinamarqueses e o incêndio de embaixadas em
outros países evoluiriam, na Nigéria, para a carnificina no território de quem
chegou atrasado.


Tudo isso é realmente uma questão de sensibilidade religiosa? Ou existem
outros fatores – mal-estar político, econômico, social, etc. – na raiz desses
surtos de fúria organizada? Sabemos as respostas.


Caberia perguntar: quem de fato corrompe o nome do profeta Maomé? Aqueles que
abatem inocentes em nome do profeta, inocentes que nunca degustaram manteiga
dinamarquesa em toda a vida, que nem sequer sabem da existência de um país
chamado Dinamarca, ou algum editor de cartuns que, pelo que sabemos, nunca teve
afinidade espiritual com Jesus Cristo, Maomé, Buda ou Oxalá?


O governo dinamarquês, graças a Deus, não quis assumir a culpa pública pela
conduta de um de seus cidadãos, um indivíduo que em nenhum momento foi acusado
de ser seu funcionário, representante ou porta-voz. A proposição de que um
governo deve agir como fiscal da escolha individual dentro de uma sociedade
livre é repugnante.


A ação daqueles cartunistas irreverentes e de seu editor nunca deveria ter se
transformado numa questão global. As imagens ofensivas teriam sido vistas quando
muito pela pequena comunidade de leitores. Mas o que os ativistas da religião
fizeram foi expandir o ‘território de insulto’ para o ilimitado. Cometeram maior
ofensa à imagem do profeta com a agora inevitável proliferação das charges. E
suscitaram questões sobre os seguidores do profeta e sua compreensão da
complexidade do mundo. Que se pese tudo isso, com toda a sobriedade, no
comentário de uma outra charge, desta vez de um jornal francês. Essa charge
retrata um profeta Maomé pensativo, frustrado, enquanto a legenda diz: ‘É duro
ser amado por idiotas’.


Assassinatos em represália ocorreram em Onitsha, no sudeste da Nigéria, onde
o retorno dos cadáveres acendeu memórias de massacres anteriores. Assim a coisa
se espalha, e se espalha, à falta de uma linguagem firme de repúdio, um apelo
veemente pelo isolamento dos matadores furiosos e a exposição de conhecidos
manipuladores da psicologia de massa (na maioria, políticos calculistas).


Já é hora de líderes muçulmanos de todo o mundo proclamarem uma fatwa contra
os que matam em nome de sua fé. Enquanto as multidões se enfurecem, o massacre
de inocentes continua intenso em Darfur. Nunca, na memória recente, o estupro se
tornou tão rotineiro, quase obrigatório, como uma arma favorita de agressão.
Sociedades antigas são varridas numa campanha bárbara, abertamente articulada,
para eliminar uma identidade racial.


Wole Soyinka , dramaturgo nigeriano, ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em
1986′


SP NO NYT
O Estado de S. Paulo


‘New York Times’ elogia a ‘nova SP’


‘Em reportagem de duas páginas, jornal aposta que cidade terá lugar de
destaque no circuito do turismo descolado


Vale a pena conhecer a ‘nova São Paulo’. Não, não é campanha da Prefeitura.
Desta vez, deu no The New York Times. Em reportagem de duas páginas publicada
ontem no suplemento de turismo, o jornal aposta que São Paulo tem tudo para
entrar no ‘circuito descolado’ do turismo internacional e desponta como opção de
destino ‘vibrante’ para americanos em busca novos cenários.


Assinada por Dan Shaw, a reportagem é um passeio por lugares charmosos: os
restaurantes Figueira Rubaiyat, Z Deli e D.O.M., os hotéis Emiliano, Unique e
Fasano, o Masp, a Sala São Paulo e a Pinacoteca do Estado, a Rua Oscar Freire e
a megabutique Daslu. ‘O lado saudável e sensual de São Paulo nem sempre é fácil
de achar’, avisa o repórter. ‘A capital econômica e cultural do Brasil parece
uma selva urbana para o forasteiro com seu desenho aparentemente aleatório, um
pouco como Los Angeles. São Paulo não é como Paris, Rio ou Buenos Aires, cidades
pelas quais você pode se apaixonar à primeira vista.’


Mas Shaw considera ‘uma bênção’ o fato de São Paulo não mudar sua rotina para
atrair estrangeiros. ‘Nos restaurantes, você não se verá cercado de alemães,
australianos e outros americanos. Nas feiras de antiguidades, você não verá
casais com pochetes e tirando fotos. Nos museus e igrejas, não encontrará
multidões. Você pode experimentar a vida sem diluição e testemunhar uma cidade
sul-americana em transição.’


O texto, na verdade, começa com um relato impressionista do Figueira
Rubaiyat. ‘É um dia abafado de verão em São Paulo e dezenas de pessoas estão
almoçando sob uma imensa figueira com galhos dramáticos, que lembram Jurassic
Park. Um restaurante inteiro foi erguido em torno desta árvore de 130 anos’,
descreve. ‘Famílias e casais podem se sentar por horas no Figueira Rubaiyat,
famoso ponto de encontro para o tradicional almoço brasileiro de domingo.
Beliscam roletes de queijo derretido e bebem caipirinhas antes de devorar
grossos filés assados e generosas caçarolas de frutos do mar, desfrutando as
delícias de verão na cidade e sentindo o calor do sol em seus braços nus.’


Frutos do mar à parte, para o repórter o maior exemplo da ‘determinação’
paulistana de entrar no circuito descolado internacional são os hotéis-butique:
Emiliano, Unique e Fasano. Shaw, que habitualmente escreve sobre design,
hospedou-se no Emiliano. Elogiou o ‘lobby luminoso, minimalista, com poltronas
avant-garde enroladas em centenas de metros de corda dourada dos irmãos Campana
– o duo do design brasileiro cujo trabalho tem sido mostrado no Museu de Arte
Moderna de Nova York’, escreve, referindo-se aos irmãos Fernando e Humberto.


Quanto ao Unique, Shaw o compara a um cenário de filme de James Bond. Para
chegar ao hotel, na Avenida Brigadeiro Luís Antônio, o repórter passou de táxi
pelo Jardim Europa. Descreve o bairro, ‘com suas casas em estilo barroco ou
modernista cercadas de muros altos’, como ‘o equivalente brasileiro de Beverly
Hills’.


Como qualquer visitante, o repórter logo percebe a importância de se ter um
carro para circular pela cidade. Mas vê exceções. ‘É fácil caminhar horas nos
Jardins’, diz. ‘Uma malha inclinada de ruas estreitas, os Jardins têm uma grande
quantidade de restaurantes, cafés com mesas na rua e altos prédios de
apartamentos de luxo separados das calçadas por portões e vegetação luxuriante.’


A reportagem envereda também pelo circuito arquitetônico e cultural. ‘Do
chique ao prosaico, São Paulo às vezes parece uma capital européia.’ A seguir,
cita uma série de atrações: ‘a Catedral Metropolitana, edifício com elementos
góticos e bizantinos’; o Teatro Municipal, ‘inspirado na Ópera de Paris’; ‘um
Mercado Municipal e praça de alimentação no centro no qual estandes exibem de
leitões a pimentas como instalações de arte’; e o Copan, ‘projetado por Oscar
Niemeyer, que trabalhou com Le Corbusier’.


Para o repórter, os museus têm edifícios ‘tão dignos de nota quanto suas
exposições’. ‘A Pinacoteca do Estado é um exemplo fantástico de como uma
construção histórica pode ser preservada e transformada num museu do século 21’,
escreve. ‘Raspado até os tijolos como se fosse uma ruína antiga, o prédio de
1897 agora tem uma série de pátios internos com luz natural e esculturas de
Rodin.’


‘Em outro ponto, uma estação ferroviária de 1930 foi reformada para se
transformar na Sala São Paulo, sala de concertos extremamente contemporânea’,
diz Shaw. ‘O Masp, um edifício-marco de 1968, projetado por Lina Bo Bardi, fica
suspenso sobre uma praça por colunas nas extremidades sem nenhum outro suporte
entre elas, e tem uma coleção que inclui obras de Renoir, Cézanne, Manet, Degas
e Modigliani.’


Atento às opções culturais, o repórter não se furtou a ir às compras. ‘São
Paulo é certamente uma cidade de classe mundial no que toca às compras,
independentemente de gosto ou orçamento’, define Shaw, que comprou até peças de
artesanato na feira dominical da Liberdade. ‘Mas as compras de artigos finos são
ainda mais atraentes – mesmo que você só esteja dando uma olhada. Na Daslu, uma
loja de departamento que já me descreveram como maior e mais imponente que a
Bergdorf Goodman de Nova York, não se pode entrar a pé da rua. Entra-se de carro
(ou de helicóptero)’, escreve. ‘A loja parece um hotel resort cinco estrelas e
tem o ambiente de um country club exclusivo onde todo mundo está fazendo compras
em vez de jogar golfe.’


De volta aos Jardins, Shaw elogia o D.O.M., ‘restaurante comandado pelo
chef-celebridade Alex Atala’, e sua ‘reinterpretação de ingredientes brasileiros
– feijão preto, bacalhau, farofa – com um toque francês’. Diz ainda que o
público é eclético, incluindo a cantora ‘popstar’ Clara Moreno, casais
festejando datas especiais e ‘famílias ricas tão blasé quanto a gastronomia fina
que falam ao celular enquanto comem’.


Shaw também faz uma parada na Galeria Melissa: ‘A loja vende sapatos de salto
alto de grife – assinados por designers como Alexandre Herchcovitch e os irmãos
Campana – expostos em bolhas de plástico que pendem do teto, criando um efeito
psicodélico de 2001: Uma Odisséia no Espaço.’


Shaw encerra a reportagem no Z Deli, ‘lugar idiossincrático na Alameda
Lorena’, onde entrou ‘fugindo de uma chuva forte de verão’. ‘Um almoço por quilo
inclui paleta de boi, pirogues, salada de repolho e, surpreendentemente, gefilte
fish. Tocado por duas mulheres judias, Zenaide Raw, que já viveu em Nova York e
fala bem inglês, e sua irmã Rosa, o Z Deli fez com que me sentisse em
casa.’’


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