Herói ou traidor? O mundo novo do jornalismo investigativo ou o velhíssimo vício do jornalismo “fiteiro”? (Ver “Jovem de 29 anos é a fonte de vazamentos” e “Clima nos EUA parece de filmes de espionagem”)
Enquanto nos EUA se discute se Edward Snowden desobedeceu às normas da NSA e da sua terceirizada Booz Allen ou é um bravo desafiador do leviatã totalitário, aqui na Capadócia tropical começa a idolatria ao repórter Glenn Greenwald, do jornal britânico The Guardian, que, pelo fato de morar há seis anos no bairro da Gávea, no Rio, passou a ser um dos “nossos”.
Greenwald venceu a corrida com o colega Barton Gellman, do Washington Post, e divulgou 41 slides do programa Prism provando que o governo dos Estados Unidos espiona todas as comunicações via internet. O furo do diário britânico está sendo contestado pelo concorrente americano, que alega ter sido o primeiro a ser procurado pelo espião arrependido. Como recusou suas condições, foi passado para trás.
Apuração primária
Problema deles. O nosso é evitar equívocos simplificadores: o furo foi da fonte. Não houve investigação, mas divulgação. Mutatis mutandi, trata-se de uma versão de última geração do velho jornalismo “fiteiro” em que fitas e vídeos caiam misteriosamente no colo de diligentes repórteres cuja missão resumia-se a transcrever o seu conteúdo.
Atenção: não confundir este presentinho digital formatado por Snowden com as dicas oferecidas por William Felt – o famoso Deep Throat – à dupla de repórteres do caso Watergate. Naquele caso houve busca efetiva, checagem e contrachecagem. No passado os repórteres fuçavam atrás da notícia. Hoje, graças aos computadores, a notícia corre atrás dos repórteres.