Na terça-feira (17/8) foi anunciada a saída dos diretores geral e de relacionamento e rede da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), Orlando Senna e Mário Borgeth. Em carta divulgada a produtores audiovisuais, Senna afirma que pediu exoneração ‘por discordar da forma de gestão adotada pela empresa’, apontando como equívocos desta a concentração de ‘poderes excessivos na Presidência, engessando as instâncias operacionais, que necessitam de autonomia executiva para produzir em série, como em qualquer TV’ [ver aqui].
Ouvida por este Observatório, a presidente da EBC, Tereza Cruvinel, afirmou que a falta de agilidade citada pelo ex-diretor-geral não é decorrente da condução da empresa, mas ‘da necessidade incontornável de obedecer a regramentos que impõem ritmos mais lentos e procedimentos mais burocráticos’. Cruvinel admitiu que realmente as obrigações do setor público por vezes retardam a tomada e encaminhamento de decisões e iniciativas, mas lembrou que ‘todos que estão na EBC sabem desde o início que estavam indo para uma empresa pública’.
Apesar da saída de Orlando Senna revelar uma tensão existente entre a diretoria-geral e a presidência, o real motivo de sua iniciativa foi outro: a saída de Mário Borgneth. O ex-diretor de relacionamento e rede já havia se envolvido em uma série de conflitos no interior do quadro dirigente da empresa. ‘Houve na diretoria divergências com o Mário Borgneth que tornaram muito difícil sua permanência na empresa’, justifica Tereza Cruvinel.
Perguntada, a presidente não informou quais seriam estas divergências, mas este Observatório apurou que estariam ligadas ao processo de definição da rede que está sendo constituída entre a TV Brasil e demais emissoras educativas estaduais. Até agora, desenhou-se uma parceria baseada na transmissão de uma grade nacional de oito horas, sendo quatro produzidas pela TV Brasil e as outras quatro pelas demais emissoras associadas.
No decorrer do processo de definição da estrutura da rede, haveria uma polêmica forte sobre quais seriam os conteúdos a integrar as quatro horas que seriam ocupadas por produções da nova TV Pública e a atuação de Borgneth teria provocado descontentamentos.
O Observatório do Direito à Comunicação entrou em contato com Mário Borgneth mas não obteve retorno. Ao final de sua carta, Orlando Senna afirma que a saída do ex-diretor era uma decisão com a qual não poderia concordar.
Correlação de forças mais definida
A saída dos dois diretores diminui o peso do grupo ligado ao Ministério da Cultura na direção da EBC, do qual sobrou apenas o diretor de programação e conteúdos, Leopoldo Nunes. Desde a montagem da EBC, instalou-se uma tensão entre estes diretores e aqueles ligados ao ministro da Secretaria de Comunicação Social do governo, Franklin Martins.
A presidente Tereza Cruvinel foi sua indicação, bem como a diretora de jornalismo, Helena Chagas. Vinculado à secretaria, ainda que menos diretamente, esteve Delcimar Pires, que assumiu a Diretoria de Administração. O time foi completado por José Roberto Garcez, então presidente da Radiobrás, na Diretoria de Serviços.
Orlando Senna foi nomeado diretor-geral, um posto de destaque, garantindo a incidência do grupo do MinC na nova empresa. Leopoldo Nunes, então diretor da Agência Nacional de Cinema, foi escolhido para comandar a programação e Borgneth, articulador do Fórum de TVs Públicas, ficou na Diretoria de Rede e Relacionamento.
Com esta composição, surgiram duas grandes vertentes na condução das emissoras, em especial da TV Brasil, com o grupo do ministro Martins mais voltado ao jornalismo e a corrente do Ministério da Cultura focada na produção audiovisual.
O equilíbrio delicado entre os dois grupos foi marcado por conflitos freqüentes que dificultaram os primeiros passos da recém-criada empresa, da montagem da equipe à definição da grade de programação. Não se conseguiu chegar a uma síntese que expressasse um projeto do conjunto dos atores envolvidos para os veículos da EBC.
A saída dos dois diretores marca o ápice desta tensão, reorganizando a correlação de forças interna da empresa e selando a hegemonia do grupo ligado a Franklin Martins.
No entanto, para Tereza Cruvinel, o fato não significa perda de espaço da produção audiovisual no projeto da EBC e da TV Brasil. ‘Até por que o diretor de conteúdo, Leopoldo Nunes, não saiu, e ele é uma expressão importante deste segmento. A TV Brasil mantém a orientação de trabalhar com a produção independente em níveis superiores aos estabelecidos em Lei, de 10% da programação’, diz.
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Do Observatório do Direito à Comunicação