Operação Capela, Operação Pororoca, Operação Anaconda, Operação Chacal, Operação Poeira no Asfalto, Operação Gutenberg, Operação Tigre, Operação Midas, Operação Croquete Azul, Operação Milho pras Galinhas, Operação Tempestade no Deserto – epa, está errado: este é o nome do ataque que libertou o Kuwait da ocupação iraquiana, no início dos anos 1990.
Este colunista se engana – e, para o leitor, não há como lembrar, uma por uma, as diversas operações da Polícia Federal, sempre multiestaduais, sempre com muitas prisões. A imprensa ainda não descobriu como cobrir separadamente as diversas operações da Federal, para que o leitor não se confunda, e não envolva Law Kim Chong, acusado de oferecer propina ao deputado Luiz Antonio Medeiros (e apontado como um dos maiores contrabandistas do país), no escândalo do Pará. Se a imprensa permitir que os fatos se misturem, daqui a pouco, para o público, todas as operações estarão fundidas.
Isto é mau: permite aos eventuais culpados misturar-se a eventuais inocentes, numa geléia geral que só os beneficia. A absolvição dos envolvidos numa das operações poderá significar, para a opinião pública, que todas as operações atingiram inocentes (ou, pior, que as absolvições ocorreram por aqueles motivos que tanta gente imagina).
Ao trabalho, pois. Encontremos um jeito de evitar misturas. Sejamos criativos – tão criativos como nossos policiais ao batizar suas operações.
Gravações ao léu
O diretor de uma empresa de coleta de lixo, Rogério Buratti, teve seus telefonemas gravados por ordem judicial, num processo que corre em segredo de Justiça. As gravações, que deveriam informar um inquérito sigiloso, vazaram para jornais, revistas, tevês. Quanto à imprensa, tudo bem: é missão do repórter conseguir informações, sejam ou não sigilosas, e é seu direito manter em sigilo como as conseguiu.
Entretanto, o volume de vazamentos é tão grande que valeria uma reportagem. A cada dia acordamos perguntando-nos qual será a gravação do dia. Nenhum veículo de comunicação jamais se perguntou como é que, de repente, surgiram tantos repórteres altamente especializados em investigação, capazes de driblar com tamanha perícia o sigilo judicial?
E é preciso pensar nas conseqüências: dentro de algum tempo, qual juiz determinará a gravação legal de conversas telefônicas, sabendo do altíssimo risco de que haja vazamentos? Um instrumento importante para as investigações, de tanto ser utilizado para movimentar a opinião pública, pode ser banalizado e perder o valor que hoje tem.
A morte e a morte…
Passamos dias e dias ouvindo as mesmas notícias, sempre repetidas: alguém anunciava a morte de Yasser Arafat, alguém negava a morte de Yasser Arafat. Parece incrível: nenhum jornalista de nenhum meio de comunicação, seja jornal, agência, TV, rádio ou internet, seja ou não francês, ninguém teria nenhuma boa fonte de informação entre os médicos do presidente da Autoridade Palestina? O empurra-empurra durou até que a morte do dirigente palestino fosse anunciada oficialmente. Mas até quando os jornalistas se enfrentarão para ver quem dá antes a notícia – e, por isso, precipitam-se, acreditam em boatos, deixam de verificar a veracidade daquilo que estão divulgando?
…de Yasser Arafat
No Brasil, tivemos um caso semelhante – o da morte de Tancredo Neves. Nem sempre os jornalistas puderam publicar o que sabiam, por falta de provas; mas que sabiam, sabiam (o que, de certa forma, era pior: eles sabiam, mas divulgavam as informações falsas difundidas pelos porta-vozes oficiais como se acreditassem nelas). Aqui, houve médicos que divulgaram informações incorretas com um sorriso nos lábios. E lá em Paris, como foi? Nossas reportagens pouco se referiram ao comportamento dos médicos.
Pode ou não pode?
O leitor de uma revista escreve para perguntar se pode utilizar suas páginas para enrolar cigarros de maconha. A revista responde que os produtos utilizados para fabricar o papel e imprimi-lo são seguros para leitura, mas que não foram testados para consumo como fumaça.
Lancemos esta questão para os leitores: não caberia à revista lembrar, junto com as informações técnicas, que o uso de maconha é ilegal? Que, independente dos efeitos que cause, pode levar o consumidor a aborrecimentos com a polícia? Tudo bem, imaginou-se que o cavalheiro em questão sabia perfeitamente os riscos que corria. Mas será que sabia, mesmo?
O alvo errado
Os jornais insistiram, nestes dias, no toma-lá-dá-cá: o Executivo, se quiser que o Congresso funcione, precisa abrir seus cofres. Dito assim, parece banditismo. E, no entanto, quem está errado é o Executivo: as verbas cuja liberação os parlamentares exigem foram aprovadas, constam no Orçamento, e se destinam a cumprir uma das finalidades para as quais existem deputados e senadores: levar benefícios à sua região. E o Executivo, que tem maioria no Congresso, que concordou com as verbas, decidiu segurá-las em nome da economia. Mas por que economizar no interior, e não na compra do avião presidencial ou no funcionamento de tantos ministérios?
O Congresso merece muitas críticas. Mas essa, convenhamos, é injusta.
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Jornalista, diretor da Brickmann&Associados Comunicação; endereço eletrônico (carlos@brickmann.com.br)