Responda depressa: se os juros que o Brasil paga aos bancos são de 16% ao ano, por que os juros pagos aos beneficiários do PIS/Pasep e do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço são de 3% ao ano?
Responda depressa: por que essa pergunta não é feita por nossos meios de comunicação? Estarão nossos jornais, rádios, revistas, tevês, blogs e noticiosos de internet convencidos de que todos os cidadãos são iguais perante a lei, mas os banqueiros são mais iguais que os outros?
Responda depressa: se as tarifas públicas aumentam de acordo com o IGP, Índice Geral de Preços da Fundação Getúlio Vargas, ou com o IPCA, por que os salários e as faixas de imposto de renda não aumentam de acordo com os mesmos indexadores?
Responda depressa: por que a pergunta não é feita por nossos meios de comunicação? Este colunista é contra a indexação (ou correção monetária, ou como quer que resolvam chamá-la); mas é contra a indexação para todos. Não tem sentido defender a indexação para as tarifas e condená-la para os salários – a menos que se considere que os concessionários são mais iguais que os outros cidadãos.
Nossa imprensa discute exaustivamente a possibilidade de reeleição de João Paulo Cunha e de José Sarney, que só interessam aos políticos. Não sobrará algum espaço para discutir certos temas da economia popular?
Erro essencial
É óbvio que Lula, quando chamou os jornalistas de ‘bando de covardes’, estava brincando e não tinha a intenção de ofender-nos – embora nos tenha ofendido. É óbvio que Lula, quando disse aos repórteres que lhes daria uma entrevista se apoiassem a criação do Conselho Federal de Jornalismo, estava brincando e não tinha intenção de dar entrevista nenhuma.
É este o problema: Lula trata os jornalistas como coleguinhas, e eles não são seus colegas; como seus amigos, e eles não são seus amigos. Lula é presidente da República e o cargo tem uma liturgia que deve ser respeitada. Pessoas como Ricardo Kotscho e José Dirceu, ligadíssimas a Lula, não devem chamá-lo de ‘Lula’ nem de ‘você’, ao menos em público: o tratamento correto é ‘presidente’.
E os jornalistas, embora possam até desmanchar-se de adoração pelo presidente, não o procuram como pessoas físicas, mas como detentores de uma procuração da opinião pública. Quando Lula não dá uma entrevista, não está deixando de se comunicar com os repórteres: deixa de se comunicar é com seus eleitores, com os cidadãos.
Delícia 1
Saiu no Terra, um dos maiores portais de Internet do país: ‘Foz do Iguassu’. Até que corrigiram rápido, mas que esteve lá, esteve. Lembrou velhas propagandas da Sul América, seguradora que se intitulava ‘Firme como o Pão de Assucar’. O curioso é descobrir que, apesar do tempo que se passou, ainda existam jornalistas capazes de usar a grafia antiga.
Delícia 2
Saiu na Folha, a respeito da exposição dos Manuscritos do Mar Morto: seriam os mais antigos documentos sobreviventes do ‘Velho Testamento cristão’. As outras religiões monoteístas, o judaísmo e o islamismo, terão ‘velhos testamentos’ próprios, diferentes do outro?
Delícia 3
Saiu no UOL, um dos gigantes da internet: ‘Governo monitora agressão contra moradores de rua’. Não seria melhor se o Governo punisse e prevenisse as agressões contra moradores de rua?
Revista vs. revista
Veja e IstoÉ brigam feio, cada uma procurando mostrar que a outra agiu pior, em termos de jornalismo, nas acusações a Ibsen Pinheiro. Poderiam ir um pouco mais longe (e juntar a Globo aos participantes), na demolição, também injusta, dos deputados Alceni Guerra e Ibrahim Abi-Ackel.
Este colunista já viu muita briga de imprensa – da Tribuna da Imprensa, de Carlos Lacerda, contra a Última Hora, de Samuel Wainer; de Assis Chateaubriand, dos Diários Associados, também contra a Última Hora. Foram brigas ferozes: Lacerda queria impedir Wainer de dirigir seu jornal, por ter nascido na Bessarábia (o que, aliás, era verdade – mas Adolfo Bloch era de Kiev e Lacerda nunca implicou com ele). O Diário da Noite se referia á Última Hora como ‘a prostituta do Anhangabaú’.
Brigas, grandes brigas. João Calmon, dos Diários Associados, enfrentou as Organizações Globo, protestando contra a presença de capital estrangeiro (a Globo, mais tarde, regularizaria a situação). A Guerra do Chute na Santa, entre a Globo e a Record.
Muitas, muitas brigas. E todas terminaram do mesmo jeito, com as organizações entrando em acordo e os jornalistas que cumpriram ordens sendo devidamente afastados.
Alguém poderia dar um palpite sobre o final da guerra Veja x IstoÉ?
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Jornalista, diretor da Brickmann&Associados Comunicação; e-mail (carlos@brickmann.com.br)