A diretoria da Fenaj espalhou pelas ruas do Rio de Janeiro outdoors em homenagem ao jornalista Tim Lopes, assassinado pelo narcotráfico em 2 de junho de 2002, em circunstâncias até hoje não totalmente esclarecidas, embora a TV Globo diga o contrário.
Na ocasião, a mesma direção da Fenaj, com algumas poucas mudanças de cadeiras, teve um comportamento lamentável pois aceitou sem questionar a versão da empregadora do jornalista, a TV Globo. A entidade simplesmente recusou-se a pelo menos investigar a denúncia feita pela jornalista Cristina Guimarães, ex-repórter da TV Globo, que alguns meses antes do desfecho trágico da reportagem de Tim na Favela Cruzeiro colocou em xeque a Vênus Platinada.
Cristina, que está viva e já ganhou uma ação na Justiça contra a emissora, também participou, da mesma forma que Tim, da matéria sobre uma feira de drogas em favelas do Rio de Janeiro. Sentindo-se ameaçada de morte pelos narcotraficantes, Cristina pediu proteção à TV Globo, mas seu apelo não foi levado em conta.
Pedido arquivado
A título de lembrança, a Fenaj, bem como a diretoria do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro, deram o aval à TV Globo aceitando a versão da emissora sobre a morte do jornalista. Na ocasião, diretores da TV Globo que possivelmente nunca entraram num sindicato, ocuparam a sede da entidade na Rua Evaristo da Veiga, 16, 17º andar. Acusados de vestirem a camisa da TV Globo, por terem se recusado a pelo menos ouvir o que tinha a dizer Cristina Guimarães, os sindicalistas Beth Costa, ainda diretora da Fenaj, e o jornalista Nacif Elias, atualmente diretor do Sindicato carioca e na ocasião presidente da entidade, decidiram interpelar na Justiça o autor da denúncia segundo a qual a Fenaj e o Sindicato portaram-se de uma forma patronal, vestindo a camisa da TV Globo.
Os sindicalistas, em vez de se posicionarem de uma outra forma, ao menos ouvindo o ‘outro lado’, exigiram que o denunciante, o autor deste artigo – um jornalista profissional, ou seja, um trabalhador – se retratasse da acusação. O juiz simplesmente arquivou o pedido e o jornalista em questão manteve o que tinha dito e volta a reafirmar o que está escrito em uma série de artigos sobre o caso e no livro Dossiê Tim Lopes – Fantástico/Ibope: a diretoria da Fenaj e do SJPMRJ vestiram mesmo a camisa da TV Globo. Tal procedimento não poderia ter sido praticado por sindicalistas, que deveriam pautar sua ação em defesa dos trabalhadores e não do patronato.
Oligarquia midiática
Passados cinco anos, a mídia conservadora, a diretoria da Fenaj e a do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro repetem a versão oficial da TV Globo sobre a morte de Tim Lopes, um assassinato que poderia ser evitado se não fosse o açodamento dos responsáveis pelo jornalismo da emissora que se caracteriza por correr atrás da audiência, muitas vezes não levando em conta até mesmo a vida dos seus trabalhadores.
Por estas e outras, os outdoors da Fenaj e do Sindicato repetem a trilha seguida logo após o assassinato do jornalista. A TV Globo, com a colaboração da atual diretoria da Fenaj e do Sindicato dos Jornalistas carioca, continuará ditando a versão do trágico acontecimento, demonstrando na prática como funciona o esquema do pensamento único – ou seja, o de apenas uma versão sobre um fato. E isso por órgãos de imprensa que se arvoram imparciais. Estenda-se este mecanismo para outras editorias, de Internacional, Economia, Política etc., e fica mais fácil entender como a mídia conservadora manipula fatos.
Fica também mais fácil de entender como age a atual diretoria da Fenaj nesta antevéspera de uma eleição nacional para a renovação da direção da entidade, renovação que praticamente não ocorre há uns 15 anos e que levou a uma situação de marasmo e total distanciamento da categoria, por se recusar a diretoria a enfrentar muitas questões, inclusive o combate efetivo à oligarquia midiática que controla as redes de televisão do país.
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Jornalista, conselheiro da Associação Brasileira de Imprensa (ABI)