A mídia usa indiscriminadamente o adjetivo ‘suposto’ para afirmar algo que está doidinha para cravar, mas não tem certeza. Ou o utiliza como muleta de linguagem para se precaver de possíveis reações, judiciais inclusive, contra informações de duvidosa procedência, submetidas a checagens malfeitas ou ainda ‘não transitadas em julgado’.
Nessa batida, as palavras vão perdendo o significado. Como bem mostrou a edição do Jornal Nacional de segunda-feira (2/4), na matéria ‘Lula se reúne com militares‘, que informava sobre as tratativas do presidente da República para acalmar o comando da Aeronáutica depois do episódio de quebra de hierarquia militar ocorrido no auge do último apagão aéreo.
Na cabeça da matéria, o JN afirmou:
‘O Ministério Público Militar quer investigar a suposta insubordinação dos controladores de vôo no motim de sexta-feira. Hoje, o presidente Lula tentou hoje [sic] acalmar os comandantes militares’.
Curioso como a alusão a uma suposta insubordinação é aqui aplicada a um motim, que, de acordo com o Aurélio, é um substantivo de acepção mais do que clara:
‘1. V. revolta (2). 2. Rebelião de militares subalternos contra seus superiores. 3. Sublevação popular, ger. espontânea e violenta; revolta, tumulto; barulho; desordem. [Sin., nessas acepç.: amotinação.] 4. Fragor, ruído, estrépito.’
Não haverá, portanto, suposição alguma nisso: motim é insubordinação.
Mais uma prova de que a praga do ‘suposto’ (‘hipotético, fictício; 2. supositício’, segundo o Aurélio) está devidamente assimilada pelos redatores. O uso do cachimbo entortou a boca.